Enxurrada
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Hoje é dia de exame.
Os indígenas do velho rincão não viam como empresar doutro jeito, a não ser em pequeno. Noutros tempos e noutras fidalguias a visão esteve empolada, produziu-se em grande, de forma a caçar néscios. Nos tempos que corriam contavam-se pelos dedos das mãos e pés as empresas apontadas aos chorudos lucros injustos. Pelo terreno ajeitavam-
As contas públicas estão mal? Receita: aposte-se na solidez da receita do Estado. Como consegui-lo? Da mesma forma que a linha recta estabelece a distância mais curta entre 2 pontos, assim o curativo para este mal é bem linear: arremete-se contra os proventos dos dependentes da força de trabalho. Só estes são capazes de usar o cinto uns furos mais abaixo. As lágrimas de crocodilo não comovem ninguém.
Não chega? Reduza-se as comparticipações municipais, regionais, nacionais e internacionais nos medicamentos, nas canadianas, pensões, nos subsídios, nos ordenados, nos óculos, nas próteses, nas bolas de naftalina. O mexilhão já tomou gosto nisso, quando o mar bate na rocha.
Não chega? Reescalone-se o irs, com pouco alarido, pela calada da noite, com punhos de renda, de forma que os mais baixos passem ao escalão de cima, uma promoção para todos os efeitos. Suprema felicidade essa de passar à frente de outros, sem dar nas vistas. É um garante de superioridade nas discussões de bairro, no que toca a quem é mais quem.
Não chega? Imponha-se o trabalho por toda a vida, até às portas do paraíso, que o inferno até lá foi vivido. A vida pode ser gasta de muitas maneiras, a mandar, a rezar, a ensinar, a prender, a subornar, a enriquecer. Importa que o seja até se cair de velho. Convença-se os infantes, os púberes e os maduros que os espera a mesma receita. E que a alternativa é a lua por habitar.
Não chega o trabalho até ao último suspiro? Venham os descontos até ao último estertor, recusa das reformas dá vantagens na linha de partida para a felicidade suprema. Em lume brando, aperalte-se com todos os requintes da poupança energética, da agricultura biológica e da alimentação racional estoutro pitéu: um segundo e mesmo um terceiro emprego que vivificam a felicidade. A alternativa do subsídio de desemprego até ver deverá ser colocada de parte, por razões de sobrevivência nominal.
Num dia destes, deus porá na mão de possidónios possidentes máquinas pensantes capazes de gerar automaticamente todos os dividendos. Então, mais se clamará contra os excessivos excedentes de terráqueos deserdados pela tecnologia. Valerá a pena ser decretada a igualdade entre os supervenientes, cuja existência escorrerá para todo o sempre, sem défices.
Dias de Melo pôs na boca de uma das suas personagens isto: «Em todo o mundo são escravos dos homens os homens que trabalham por conta de homens».
O xerife disse: eu sou humilde. E pôs um olhar feroz, pelo que toda a gente se riu a bandeiras despregadas
O xerife disse: há-de nascer quem mije mais longe que eu. A esguichadela seguinte saiu-lhe flácida e directa aos pés.
O xerife disse: um grou escreveu ao dono da Terra, para lhe dizer que pousasse a vista no sistema educativo indígena. Assim o fez o suserano dos suseranos, uma das vítimas enroladas do avastin.
O xerife disse: ó seu caramelo, custa-lhe tanto admitir que eu tomei a medida certa? O caramelo replicou: custa-lhe assim tanto admitir que eu tenho a proposta certa?
O xerife disse: eu sempre guiei pela esquerda. Mesmo ao lado, um sinal testemunh que todo o bicho careta ali só pode conduzir pela direita.
O xerife disse: vamos equilibrar as contas. As contas espalharam-se pelo largo, quando tentava acomodar o fecho do colar.
O xerife disse: não recebemos lições de ninguém. Ele tinha muito orgulho em ser analfabeto.
O xerife disse: errámos na política cultural. Apressou-se a guardar um bilhete para o próximo concerto do marco paulo que o assessor nº 53 lhe estendia pressuroso.
O xerife disse: falhámos na avaliação do desempenho dos docentes. Palavras não eram ditas, partiu para uma aula assistida que estava a ser transmitida em directo para todas as galáxias.
O xerife disse: vamos emprestar dinheiro aos mais necessitados. No minuto seguinte, pegou nos tostões e foi salvar mais um banco.
O xerife disse: demos dinheiro a rodos aos agricultores. Ninguém conseguiu encontrar um empresário agrícola em território autóctone.
O xerife disse: até os comemos vivos. Não tardou muito que tivesse de engolir um sapo vivo.
O xerife disse: vamos fazer um aeroporto. Uma hora volvida, decreta o fim de todos os voos de todos os insectos e artefactos parecidos sine die.
O xerife disse: vamos acabar com a corrupção. Não tardou que ligasse ao instrutor de Chinês, a agradecer-lhe o envio do diploma de curso completo e com excelência, feito por correspondência na semana anterior.
O xerife disse: vou criar empregados a rodos. Acto imediato, mandou que os abonos das parturientes subissem em flecha.
O xerife disse: vamos melhorar a assistência a todos os doentes. Fechou para cima de dezenas de entrepostos de saúde e atirou as chaves ao oceano Índico.
O xerife disse: vamos acabar com as filas de espera. As filas de espera apresentaram queixa judicial, continuando o caso em segredo de justiça.
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