Os donos das noras
Peco 1 – Os bons técnicos, os bons comentadores e os políticos de bom escol do país, da união e do globo olharam à sua volta e viram a vidinha a andar para trás. O pessoal que tem a faca e o queijo na mão - vulgo mercados, agências de rating, bolsa e banca – asseverou que a árvore das patacas, guardada numa redoma, longe dos olhares dos ignaros pagantes, estava a definhar. Havia que submeter a paciente ao tratamento do costume. Cortava-se uns ramos, umas raízes, uns limbos, sobretudo os labiados, aplicava-se químicos, fungicidas, pesticidas e congéneres. Um homem bom disse que não concorda, escreveu que não concordava, jurou que nunca mais concordaria, mas fez uma genuflexão e corcovou-se ao interesse nacional, uma espécie de mezinha sem símplices que depura e saneia todas as maleitas e amarguras do foro fisiológico e psicológico. Mesmo assim se fez! Aguardou-se pelos resultados que foram vistos a escoarem-se pelo cano abaixo.
Peco 2 – Os técnicos bons, os comentadores bons e os políticos de escol do país, da união e do globo olharam à sua volta e constataram que tristezas não pagam dívidas. Queriam andar contentes, como manda a sapatilha. Bateram à porta certa e souberam pelos gurus que o pessoal da faca e do queijo na mão - vulgo mercados, agências de rating, bolsa e banca – não estava satisfeito, pois a árvore das patacas continuava a definhar, embora estivesse agora guardada numa redoma dupla, longe dos olhares dos contribuintes ignorantes. Acabadinho de ser inventado, havia um tratamento por experimentar em primeira mão, era só comprar a patente. Cortava-se mais ramos, mais raízes, mais limbos, sobretudo os falciformes, aplicava-se novos químicos, fungicidas, pesticidas e correlativos. Um bom homem disse que não concorda, escreveu que não concordava, jurou que nunca mais concordaria, mas prostrou-e perante o interesse nacional, uma nova modalidade de placebo que sana todas as maleitas e amarguras de base fisiológica ou psicológica. Mesmo assim se fez! Aguardou-se pelos resultados que foram vistos a escoarem-se pelo cano abaixo.
Peco 3 - Os bons técnicos, os bons comentadores e os políticos de escol do país, da união e do globo olharam à sua volta e viram que a vidinha persistia em andar para trás. O pessoal da faca e queijo na mão - vulgo mercados, agências de rating, bolsa e banca – disse que o mal não estava debelado, tinha, pelo contrário, medrado, apesar de terem encafuada a árvore das patacas numa redoma de vidros fumados, longe dos olhares de ignaros amadores pagantes. Era preciso submeter a doentinha a tratamentos de polé, ou vai ou racha! Estava mesmo ali à mão de semear um novo sinapismo, único nas suas virtualidades, vindo de ser aplicado em ratinhos de laboratório. Cortava-se mais ramos, mais raízes, mais limbos, sobretudo os rômbicos, aplicava-se novos fertilizantes, encomendados à multinacional mais especializada, outros herbicidas e insecticidas acabadinhos de dar à costa e correlatos. Um homem bom disse que não concorda, escreveu que não concordava, jurou que nunca mais concordaria, mas acabou por ceder ao interesse nacional, uma espécie em vias de extinção, mas que é panaceia para maleitas e amarguras do foro fisiológico e psicológico. Mesmo assim se fez! Aguardou-se pelos resultados que foram vistos a escoarem-se pelo cano abaixo.
Peco 4- Desta vez foram os técnicos bons, os comentadores bons e os políticos de bom escol do país, da união e do globo que olharam à sua volta e viram que as tristezas continuavam a não pagar dívidas. Queriam voltar a ser felizes, como manda a sapatilha. Foram pela porta do cavalo consultar o pessoal da faca e do queijo na mão - vulgo mercados, agências de rating, bolsa e banca – que continuava insatisfeito, pois a árvore das patacas estiolava a olhos vistos, embora estivesse presentemente guardada numa redoma de chumbo duplo, longe dos olhares de ignaros amadores pagantes, com guardas munidos de taser à vista. Só o último tratamento de choque, acabadinho de ser produzido nos fornos das multinacionais associadas, seria capaz de incapacitar as sezões da pobrezinha. Cortava-se mais ramos, mais raízes, mais limbos, sobretudo os orbiculares, promovia-se a aplicação de desfolhantes fungicidas, herbicidas e semelhantes e estava o caso arrumado. Foi então que o bom do homem disse: «Alto e pára o baile!». A orquestra sossegou a contragosto, os pares de entendidos congelaram e não houve mais bebidas para ninguém. Zarparam todos de monco caído, jurando vinganças.
Recentemente foi contratada uma equipa de experts na recuperação de bonzais e de canos rotos. Dizem que não são nada pecos!