As ações ficam com quem as pratica
1 – Artur queria trazer para a pátria sua amada o melhor jogador chinês, pois assim garantia a ocupação de muitas camas de hotel. Riram-se-lhe na cara, soltaram os cães nos mídia e quase o nomearam charlatão-mor de aquém e além-mar. Se tal não aconteceu, foi porque o júri empatava sempre na votação, pois havia um outro candidato forte à comenda, um beltrano que acreditava na honra do país e que a mesma se salvaria com numerário extirpado com suor e lágrimas aos plebeus. Transcorridas algumas luas, empresas mancomunadas com o estado sínico estabeleciam-se no território. E foi ele quem se pôs a rir. Artur gozou à fartazana com a vingança do chinês.
2 – Alexandrino, renomado distribuidor de pastéis de nata, a granel ou por atacado, era um brincalhão dos antigos. Numa das suas arremetidas, disse, zombeteiro, mas corando de pudicícia, que mais adorava a pátria do que a charmosa balzaquiana a quem sobrevinham requebros só de pensar no Ferrero Rocher. Houve quem ouvisse e registasse a tirada d’oiro. À conta disso, contou com muitos votantes, na hora da consagração do vulto mais amado do rincão. Já oficialmente, declarou à saída da melhor casa de pasto do país: «Não tentes saber o que o Estado pode fazer por ti, mostra que sabes que fazer-lhe». Lá dentro, muita gente, impunemente ilustre, acabava de saborear nacos e postas a propósito da imposição de medalhas aos colaboradores mais zelosos do terceiro vulto do país, os tais que trabalhavam 12 horas diárias pela paga de 7. Transcorridos alguns sóis, pôs a recato teres e haveres, num país que vive sempre com água pelas barbas. Assim mesmo, Alexandrino pôs literalmente as barbas de molho. Só os pastéis de nata se rebelaram.
3 – Originário de famílias de posses, Jacinto herdou grosso quinhão de terras de lavradio. Viu-se cumulado de capitosas benesses da união, para se desfazer do património, mas só se pôs a milhas, assim que o bmw topo de gama, ganho a expensas do absentismo, se desfez contra uns dioritos duros de roer da serra mais baixa da terra. De malas aviadas e sempre ataviadas, correu seca e meca, disfrutando da companhia falaz dos pecados capitais que, um dia, sonhava exorcizar. Decorrido lustro e meio, apenas sobraram uns tostões nos fundilhos duma lata de salsichas. No burgo de proximidade, instalou-se como comprador de ouro, prata, platina a quem o procurava sedento de uma bucha. Bafejado por Midas e sobraçando Pantagruel, Henry Miller e Sade, abalou para a cidade mais setentrional da nação, onde viveu à tripa forra no lustro e meio seguinte. Voltou à grande capital, quanto se esgotaram as tenças, tomado do propósito costumeiro de encher o saco com pouco dano da sua parte. Virou corretor, na sequência de um curso de formação para desenraizados sobre a nobre arte de dar pontos sem nós, ação orientada por um marinheiro sem saudades da maresia. Quando o quiseram meirinho e mais tarde regedor, desfez-se em desculpas e abalou uma vez mais, desta feita para os antípodas. De saco cheio de divisas conseguidas com vendas no momento certo, deu prosseguimento à vida de rimance e destemperança. Lustro e meio volvido sobre este fartar vilanagem, secou-se a fonte e veio nova abordagem. Na capital da união, fundou uma sociedade de consultadoria para provimento de países encalacrados. Terá contribuído para a resolução da situação de falência eminente das ilhas da Macarronésia, o que lhe valeu mais prebendas que as dádivas dos génios das lâmpadas, cada vez mais fuinhas nos tempos decorrentes. Abalou para os cús de Judas e meteu-se nos assados do costume. Na rodada seguinte, pôs de pé a fundação «nobre povo» que se propunha organizar a verdadeira viagem ao centro da Terra. Ainda de lá não voltou, após par e meio de lustros.