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oitentaeoitosim

26
Fev14

Dies irae dies illa (III)

Jorge

Outro excerto que dá que pensar:

«Os antioxidantes, usados em grande popularidade nas últimas décadas, aceleram a progressão do cancro de pulmão nos ratos e não trazem benefícios seguros para os seres humanos sãos, segundo um artigo publicado esta quinta-feira na revista "Science Translational".

"Os antioxidantes usam-se amplamente para proteger as células dos danos induzidos por espécies reativas do oxigénio", explica a equipa de investigadores, liderada por Volkan Sayin, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, no artigo da “Science Translational”.

"O conceito de que os antioxidantes podem ajudar a combater o cancro está muito arreigado na população mundial, promovido pela indústria dos suplementos alimentares e sustentado por alguns estudos científicos", lê-se no artigo citado pela agência noticiosa Efe.

Todavia as provas clínicas "deram resultados incoerentes", acrescenta.

Os compostos químicos conhecidos como antioxidantes atrasam certos tipos de danos celulares impedindo a acumulação de moléculas da espécie reativa de oxigénio (ERO) que pode causar danos às células.

Entre estes antioxidantes estão a vitamina A, que pode obter-se nas cenouras, abóbora, brócolos, batata-doce, tomate, couve, melão, pêssegos e outros, e vitamina C, presente nas laranjas, limas, limões, pimentos vermelhos, vegetais de folhas verdes, morangos e framboesas.»

 

Mais uma vez a paparoca em destaque…

26
Fev14

Jogos florais (I)

Jorge

(Revisitação de  4 personagens do poder instalado)

O mau da fita (com 1 pedra em cada mão) arremete:

- O que está feito, bem feito está, palavra de rei não volta atrás!

O bonzinho da fita desdiz:

- Guardado fica o bocado, para quando chegar a minha vez, desfaço o mal e a caramunha!

Chega-se à frente o rezinga e contradiz:

- Deixa-te lá estar sossegado, meu lindinho, que a gente já te faz a cama, se és homem vem aqui para a rua!...

A boazinha da fita assim diz:

- Vai bugiar, desampara-me a loja, pá!

O mau da fita (com 2 pedras em cada mão) persiste:

- Daqui não saio, daqui ninguém me tira!

O bonzinho da fita desdiz:

- Sugiro a saída a bem, que entre pessoas de bem assim deve ser. Quem te avisa!…

O rezinga contradiz:

- Ou sais pelo próprio pé, ou apeamos-te do cavalo. Desafio-te para um duelo!...

A boazinha da fita assim diz:

- Põe-te na alheta, vai caçar gambuzinos e não chateies, pá!

O mau da fita (com 3 pedras em cada mão) continua a mandar vir:

- Estou-me nas tintas, a recuperação continua, aqui estou para mostrar com quantos paus se faz uma canoa!

O bonzinho da fita desdiz:

- Qual recuperação, qual carapuça, quando chegar a minha hora volta tudo à estaca zero, seu…. seu….mata-sanos verborreico!

O rezinga desdiz:

- Vai gamar para a tua terra, tás aqui e sais com os pés para a frente, a paciência tem limites!

-A boazinha da fita assim diz:

- Não te quero ver nem mais gordo, nem mais magro, baza, pá!

(A caravana continua a passar, em grande tropel.)

24
Fev14

Respigos 2

Jorge

É sempre a mesma melodia…

   O tribunal não deu como provados os crimes de burla e falsificação de documentos que levaram a julgamento três alemães e sete portugueses. Todos os dez arguidos no âmbito deste caso, avança a TVI 24, foram absolvidos do processo das contrapartidas dos submarinos.

 

Oxalá não saia o tosquiador tosquiado: o MP envolveu na mise-en-scène empresas e pessoas que talvez tenham ficado em palpos de aranha. Pode haver ajustes, pedidos de indemnizações!

Já agora, alguém sabe por onde pairam «Harpão» e «Tridente»? Inspeções não lhe devem faltar, a atual ZEE é grande e promete ser maior. Era só para a gente pôr os óculos em cima de tais preciosidades…

Longe vá o mau agoiro dos quadros de Miró, não precisam de repetir a gracinha…

 

Em Roma, tudo se compra (?)

   Dois inspetores tributários da Direção de Finanças de Leiria foram acusados pelo Ministério Público (MP) de corrupção passiva por, alegadamente, terem recebido 3.500 euros de um empresário para redução da quantia devida por este ao Fisco. O empresário, proprietário de uma cervejaria em Leiria, foi acusado de corrupção ativa agravada, ilícito pelo qual é, também, criminalmente responsável a sociedade, enquanto um seu amigo, vendedor de profissão, vai responder pelo crime de corrupção ativa sob a forma de cumplicidade.

 

Alguém deixou escrito que a liberdade não pode durar muito, no seio de um povo corrupto. Outro alguém afirmou com todas as letras que a corrupção é proporcional à democracia (direta ou inversamente?). Outro ainda (Teixeira de Pascoaes, no gozo?) que a corrupção favorece as ideias novas. Venha o diabo e escolha…

Aqui há indícios, mas comecem a levantar mais pedras…

A patacão

   Num depoimento gravado para a RR, a presidente da AR fala do seu maior medo, o do “inconseguimento” e os cibernautas estranharam expressões como 'nível social frustracional derivado da crise' ou 'inconseguimento' de a 'Europa se sentir pouco conseguida' e 'não projectar para o mundo o seu soft power sagrado'. Muitos cibernautas afirmaram não perceber o conteúdo.

(adaptado)

 

Só má vontade! Ouve-se um economista e a gente pouco entende; ouve-se um doutor de leis, idem; ouve-se um padre, ibidem. Ao ouvir-se alguém ligado à política profissional e se não se entende, qual a novidade?! Não se discrimine, aproveite-se a ocasião para fruir, se isto não é recriar a língua, vou ali e já venho……

 

Quem avisa…

   A febre dos vistos gold adquiridos pelos chineses que pretendem investir está a gerar especulação de preços nos imóveis por algumas mediadoras e promotores imobiliários. Alguns intermediários do mercado residencial cobram a mais entre 20% a 25%, em valor acrescentado ao preço final.

 

Esta faz lembrar a estória dos 30 cães a um osso (ou seriam 7?) Mas que não se esqueça, cá se fazem, cá se pagam, depois queixem-se…

 

 Há males que vêm por bem…

   Segundo o Financial Times, estima-se que, em Portugal, “cerca de 200 jovens licenciados e outro tipo de emigrantes saiam diariamente do país”, e, para agravar a situação, “o duro programa de ajustamento deixou um rasto de devastação”: “dezenas de milhares de pequenas empresas faliram, os salários e as pensões encolheram, as desigualdades agravaram-se e muitas vidas ‘enferrujaram’ devido ao desemprego de longa duração”. Mas nem isso afasta uma visão otimista de recuperação.

 

 

Assim surgiu o «herói-surpresa» que faz das tripas coração e das «reformas estruturais profundas» (o quê?!) o seu campo de (boa) ação, materializadas no cenário dos terminais de carga e os centros comerciais (aponta a notícia em continuação).

A vitória contra as forças do mal é difícil, mas é nossa; cara alegre, pois…

 

Quanto mais me bates…

   Uma recente sondagem da Universidade Católica para o DN, o JN, a RTP e a Antena 1 revela que a maioria dos inquiridos, apesar da crise e contestação crescentes, não vislumbra na oposição uma alternativa às políticas que estão a ser executadas pelo Governo PSD/CDS. Talvez por isso mesmo as intenções de voto tenham como reflexo a manutenção do PS nos 31%, a subida do PSD em quatro pontos percentuais, cifrando-se a escassos 3% dos socialistas, e a queda acentuada das restantes forças políticas.

 

Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Num dia destes ainda passa a mensagem que bom seria ter sempre vinho e pão sobre a mesa e que não se esgotasse a vontade de dar e ficar contente. A ver vamos…

 

Saídas

   Terminado 2013, o Governo português ultrapassou largamente os objetivos de saída de trabalhadores do Estado com se comprometeu com a troika. Segundo os últimos números publicados pela Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP), entre o final de 2011 e o final de 2013, o número de funcionários públicos da Administração Central caiu 8,6%, quando a meta era "apenas" 2% ao ano.

 

A maioria destes funcionários que abandonou foi para a reforma. Entretanto há menos contribuintes, por força da emigração e da apartação das famílias da pátria,pelo desemprego e pelos trânsfugas ao fisco.

Estão a ver a sequência da fábula?!...

 

Em que ficamos?

   Um estudo recente alerta para o facto de haver aumento de 50% de casos de cancro, até 2030, quando poderão ser diagnosticados quase 22 milhões de casos, por comparação com os 14 milhões de 2012, devido a um forte aumento da doença nos países em desenvolvimento

 

Ouvia-se dizer que o aumento do número de casos se cingia aos países desenvolvidos, por conta do envelhecimento das populações, devem estar a aumentar as cigarradas…

 

 

24
Fev14

Cortações (III)

Jorge

 A - Historietas de trazer por casa.

Duas amigas caturram junto a uma capelista:

- Sabias que o Sr Bruno de Carvalho será candidato nas listas de um dos partidos da oposição às eleições europeias?

- Muito me contas!...

- É por conta das queixinhas!...

xxx

Dois amigos turram junto ao mercador abastecedor:

- Sabias que o BE está cada vez mais parecido com os descobridores de antanho?

- Não te acompanho…

- Os navegadores deram novos mundos ao mundo, o BE novos partidos…

xxx

Dois conhecidos conversam junto ao depósito de água da zona:

- Sabias que o Sr Portas e o Sr Mourinho têm uma coisa em comum?

- Não me lixes, são de campos tão diferentes!

- São bons em línguas…

xxx

Duas conhecidas conversam junto a um minimercado:

- Sabes por que razão os Coelhos prosperam na política?

- Não faço a mínima!

- São hábeis em dar à soleta e reproduzem-se mais do que à conta!...

xxx

Dois inimigos enfrentam-se junto ao tribunal da terra (aberto ,até mais ver):

- Sabes qual a semelhança entre o caranguejo e o capitalismo?

- Mesmo que soubesse não to diria!

- Seu ignorante, ambos têm o dom de andar para trás!...

xxx

Duas inimigas enfrentam-se na rua mais concorrida:

- Sabes o que significa PACC?

- E se fosses marrar com o comboio de Chelas?!

- Prolegómenos da Antecipada Capitulação do Crato.

xxx

Duas moças que nunca se tinham visto mais gordas uma à outra:

- Conhece o significado das cores da bandeira do Marítimo (clube de futebol)?

- Vai permitir-lhe que lhe diga que nunca pensei no assunto…

- Verde para avançar, vermelho para parar.

xxx

Dois moços que nunca se tinham visto mais gordos, encontram-se num recinto desportivo:

- Sabes por que gritam «só mais um»?

- Estão entusiasmados, naturalmente…

- É só garganta!...

xxx

 

B - Pensamentos (não originais, mas curiais)

.Viva cada dia como se fosse o último. Um dia acerta!

.Se empresta, adeus.

.Quase sempre é mais fácil enfiar que tirar.

.Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.

.A luz no fundo do túnel é o comboio que vem na sua direção.

.Às vezes é mais fácil subir, quando muito se desceu.

.Nada é mais limitador da liberdade - mesmo a de expressão - que a (total) falta de dinheiro. (Ao que chegámos!)

 

20
Fev14

Ouvi ou li (VI)

Jorge

Prós e contras

Milhares e milhares de vítimas, heróis, heroínas e mártires tinha criado aquela guerra. Vai-se a ver e descobre-se que também tinham sido usadas armas químicas para esse efeito. É preciso eliminá-las! Meu dito, meu feito, as armas químicas usadas naquele morticínio tanaz foram para o maneta (as outras vendem-se que nem pãezinhos quentes) e postas a ferros nos fundilhos de um mar por apurar. A continuação das hostilidades promete mais e mais vítimas, heróis, heroínas e mártires.

Tudo vai bem no reino da Dinamarca, portanto!

 

Parecem bandos de pardais…

Aquela foi uma manifestação e peras. Putos com menos de 15 anos a mandar vir com e a crescer para a polícia, só na América Latina. Terá havido mosquitos por cordas, umas cargas policiais de criar-bicho, correspondendo aos arrufos. Putos armados aos cucos, a arremeter contra polícias de choque não é notícia de todos os dias. Que se passou, afinal? Os danadinhos pretendiam convencer o parlamento do país da bondade dos seus propósitos, que deixasse cair uma lei que proibia o acesso de adolescentes de idades inferiores a 15 anos ao mercado de trabalho. Bastaria a aquiescência dos interessados, dada de viva voz ou assinadas por punho próprio (sim sou menor, mas trabalho de livre vontade).

Para bom mestre, o patrono certo…

 

Com a verdade me enganas!

A senhora diretora, mulher dos 4 costados e muito poderosa na cena internacional, adora, por isso mesmo, mandar palpites, deixar uns bitaites a esmo, fazer soundbytes aos molhos e torpedear nas entrelinhas. Do poder instalado tudo se pode esperar, como pôr de trela curta os incautos infratores - individuais ou coletivos -  dos sãos princípios do crescimento e desenvolvimento económicos instalados, uma especialidade que não surpreende nos tempos que correm.

Com toda a autoridade deste mundo e arredores, acaba de afirmar que a crise não acabará, enquanto houver 20 milhões de desempregados.

Então, quantos mais são precisos?

 

Dor de alma

O pastor de almas estava contente, via-se na face e media-se no perfil: as ovelhas do seu aprisco engrossavam a olhos vistos. Em tempos de borrasca procura-se um abrigo, quem lucra é deus. Por falar nisso, lá está o pastor à bica das caixas das esmolas que são inspecionadas com fervor e inopinadamente fica com um grande melão. Os óbolos tinham diminuído a olhos vistos.

Falou sem blandícia aos seus seguidores e disse que quem dá aos pobres a deus ajuda. Que passaria a prescindir do ordenado de pastor e das alcavalas todas, começando pela isenção de impostos, se a caixa das esmolas ficassem atafulhadas naquele dia. Um a um, os crentes, no dealbar do ofício passam ordeiramente pelo sítio das caixas das esmolas que ficam repletas.

O pastor de almas ia caindo para o lado, assim que se dá conta da marosca, as caixas estavam cheias de medalhas. Em má hora tinha falado…

 Com grande cachola ficaram igualmente os larápios que, a horas mortas, se lembraram de assaltar o presbitério.

 

Com essa me lixaste!

Era mais um cidadão candidato militante da causa da ascensão social, fosse a pulso, às custas, ou às costas de outrem. Aos ocupantes dos primeiros degraus, os céus permitem – entre outras tantas benesses – desfrutar de vida estadão, com mulheres capazes de pôr os olhos em bico e dar a volta ao miolo a um gajo, carros à-jogador-de-futebol-no-ativo, casas inteligentes e muita pasta. Teve muito sucesso, em altas elucubrações da bolsa e da banca e nadava em dinheiro. Integrou o restrito Clube dos 85, que só aceita inscrições num máximo de 85 indivíduos, capazes de perfazer, em qualquer momento, a fortuna da metade da humanidade mais vitimizada pela acumulação primitiva. Levou uma vida à grande e à francesa, em abastança, em paz, sossego e ar digno de ser respirado.

No dia em que completava o propósito de se rodear de mulheres de todas as latitudes e de todos os tipos de beleza, lembrou-se que era semíviro.

Tornou-se guarda de harém.

20
Fev14

Doxomania

Jorge

Quem vai ao café fá-lo pela bica, pelo pastel de nata ou por um acepipe no género. E também porque gosta de cheiricar e comentar, não há café sem cavaqueira, que se quer amena. As conversas dos cafés são tomadas por ligeiras e brejeiras, mas de facto são corriqueiras, para elas aflui a realidade.

Vejam lá que se debatia as últimas condições meteorológicas, sim o tempo, opinava-se sobre as causas do súbito destrambelho das nuvens, com o aquecimento global a vir ao barulho e a poluição a talhe de foice. Tretas, diziam uns, conversa de chacha, opinavam outros, se ainda fosse um arrefecimento global... 

Faz-se então ouvir a custo uma vozinha de capuchinho encarnado que se atreve a defender o princípio do utilizador-pagador. Falou como quem não quer a coisa, a donzela recatada, tomada de imprevista impância. Desabafou e depois corou.

A tirada donzelesca foi tida por atávica pelo cavalheiro de fino recorte que postava no centro do estabelecimento comercial, tido por ser portador de sangue pouco dado a fervências. Daquela feita, estalou-se-lhe o verniz e foi taxativo: isso que a menina propõe não tem pés nem cabeça, no quadro atual de referência; provavelmente andará a sonhar com ladrões, porque quer que a assaltem, ou então ouve vozes, a minha não!

Entredentes terá terminado o raspanete com um concelho paternalista «passa-fora, ó croia!» Ora passem muito bem… E foi à vida!

A moça atravessou o passeio e foi tomar a primeira bica no novel café da vizinhança, uma marca dos novos ares do empreendedorismo que enformavam as paisagens. Foi vista a falar com os seus botões.

(Não estará abolida a expressão «ouvir vozes» dos cardápios das boas maneiras, destinada a quem quer que seja, na rua ou na magna assembleia da santa terrinha? Alternativamente estará já espalhada a ideia que ouvir vozes nem sempre é sinal de psicose…)

 

15
Fev14

Paciência de Job

Jorge

Dos contornos todos da notícia, recordo apenas alguns; sei que a li, provavelmente há uma década.

Era, aliás, uma pequena notícia, com direito a foto, apesar de tudo. Na foto via-se um senhor, sentado perto de uma cama onde repousava tranquila uma senhora. Do rosto masculino jorrava uma alegria contagiante e (quase) se identificava uma aura de bem-estar em todo o seu perímetro. A senhora olhava terna e sustentadamente para ele, assim me pareceu na altura e ainda se me afigura tal, hoje.

Lembro-me de ter ficado a contemplar o instantâneo extraordinário.

A senhora, vivinha da costa, estava em fase de recuperação (correto?) Saíra de estado de coma, profundo. Enquanto vegetou, sempre contou com a presença ativa e persistente daquele homem, o marido, que lhe prodigalizou todos os desvelos.

Da notícia não retive se esteve internada num hospital, se numa instituição capaz de providenciar assistência similar, se em casa… Talvez nem referisse tal pormenor.

A senhora esteve 25 anos em coma (incrível, não?)

O senhor acompanhou-a durante 25 anos, sem nunca desistir (incrível, não?)

A senhora terá sobrevivido em perfeitas condições? Desconheço.

Este hino maior à vida teve direito a uma pequena notícia, num cantinho de uma revista e foi pena.

Diz o aforismo que a vida é um sono de que a morte nos desperta. Todavia, a ilusão e a sabedoria são os seus encantos…

 

12
Fev14

(Des)ditosa

Jorge

(Des)ditosa

 

Leonilde já não sabia que voltas mais dar à cabeça e à vida. Tinham ido parar ao prego as últimas joias da família. Nas circunstâncias normais de funcionamento dos mercados, decuplicaria a importância recebida, mas em tempo de guerra não se limpa armas.

(O resgate das pedrarias penhoradas estava fora de questão.)  

À custa de privações, conseguira manter em sua posse aquele habitáculo rústico e anoso, cada vez mais valorizado pelo fisco, mas mais decadente a olhos vistos. Ali via desfilar os seus dias, à espera de melhores dias

(Os milhanos e os condores exercitavam contorcionismos de mau-agouro e crocitavam pelas redondezas.)

Muitos dos tarecos do recheio da habitação tinham ido à vida, em transação de poucos cruzados da sua transação. O casitéu estava a demandar obras, estava para ali tem-te-não-caias. Soprasse o vento sem tino e ficaria reduzido a monte de escombros e tralha.

(Casa de férias, casa de montanha, férias, recordações mirabolantes de um passado bem passado.)

Leonilde, entresilhada e entanguida de modos, maneiras e gastos, dava-se por satisfeita com um mínimo de qualidade de vida que conseguia manter. Incapaz de dar por paus e por pedras, mantinha uma fé cega que um milagre a afastaria do charco que bispava em sonhos de pesadelo.

(Estava ainda ali para as curvas, nunca quis sobraçar céu e terra, mas gostava das coisas boas que a vida pode proporcionar)

Felizmente que ficara para tia. Contava-se pelos dedos de uma só mão os parentes lhe cobiçavam a magra fortuna.

O chão da quinta já tinha dado uvas e azeitonas, mas já não as dava, por imposição do contrato de atribuição de subsídios comunitários que impunham as terras maninhas, em alqueive e as árvores inânimes ou exânimes.

Leonilde não se podia queixar, recebera bom dinheiro para levar a cabo tal desígnio, mas, agora que se haviam esgotado os fundos de maneio, provavelmente teria que fazer o que nunca fizera na vida.

(De roceira nem perfil tinha, mas de alfaces, couves, batatas e tomates toda a gente sabe cuidar, caramba! Também ela, pois está claro!...)

O que a tramava era aquela malfadada dor nas costas, persistente como a bruma dos dias, deixava-a nas lonas. Teria de trabalhiscar a custo, vergar a mola para dar ao serrote, paciência!

(Empalidecia só de pensar no que aí vinha.)

O merceeiro já não fiava e o banqueiro retirou-lhe todos os cartões de crédito e de débito. Para o carro, de baixa gama e fraca estima, o gasolineiro não fiava combustível.

(Os pergaminhos a defender não lhe permitiam encher o depósito e pôr-se na alheta, à má fila. Mas, já lhe tinha sobrevindo a ideia, uma vez, sem exemplo…)

Os trapinhos estavam no fio e o calçado quase na última? Paciência, melhores tempos sobreviria, tinha cá uma fezada numa mudança, para melhor!

Sugeriram-lhe que pedisse certificação que a habilitasse a descontos, que fosse à junta da freguesia. É o vais, o orgulho não deixava!...

Que fosse ao tribunal da comarca, sito a uns bons 100 km de casa, depois da última reforma do sistema judicial, a declarar falência, por estar empenhada até à raiz dos cabelos.

(As privações domam a autoestima e travam a clarividência.)

Leonilde estava na eminência de pôr pés a caminho, quando, se inteira pelo rádio – único meio de contacto com o exterior longínquo – da boa nova.

Vinham aí os fundos comunitários, arduamente disputados pelo Estado de cá que tinha de entrar com metade da vaca, para investir em infraestruturas (ou para acudir às PME, a conversa-de-chacha do costume.)

«Estou salva!!!» - a grita troou à moda do Ipiranga.

O sol havia de abrilhantar-lhe o resto da vida.

 

 

12
Fev14

Pantafaçudo

Jorge

Meu Deus, ajuda-me a dizer a palavra da verdade na cara dos fortes e a não mentir para obter o aplauso dos débeis.  

Gandhi

 

O senhor Miró, originário da Catalunha, região atualmente afamada pelo futebol, mas também conhecida por ter visto nascer Dali e por querer ser independente de Espanha, entre outros, afamou-se pelos seus quadros surrealistas.

O senhor Miró fez arte que impressiona inconscientes bem formados, pelo que as pessoas com conscientes malformados e subconscientes assim-assim se estão nas tintas para que se divulguem as mensagens desveladamente transmitidas.

A arte luz, então que renda!

Veja-se o caso de 85 pinturas do senhor Miró que foram levadas a peito por alguém para as catacumbas do PBN, como garante de um empréstimo que deu com os burrinhos na água. Poderiam render 46 milhões, por isso de lá já não saíram.

Na continuidade, o BPN torna-se um banco nacionalizado-nosso. As normas regimentais e internacionais ditam que a banco falido põe o Estado a mão por baixo e contra isso batatas! O Estado assume a regência das 85 obras do senhor Miró.

Melhor dito, uma empresa pública – especializada em extrair ouro de minérios exauridos – toma conta daquela catrefada de pinturas que devem ser um regalo para a vista.

Por que arcas encouradas o Zé Povinho, o tal que alomba com as despesas dos perdões fiscais, das subvenções e das isenções de impostos, não merece contemplar aquelas maravilhas, para sua edificação?

Para quem é, grafitis basta, terão achado os gerentes da citada empresa pública. Por seu turno, os mandantes terão achado que o povoléu, tão arredio de concertos na Gulbenkian, no Centro Cultural de Belém ou na Casa da Música, desmerecia dos quadros do senhor Miró.

Aprende por arte e irás por diante…

(E os turistas, meu deus?!)

Circula na Net um vídeo viral que exibe as figuras tristes de gente muito instruída (tantos méritos superlativos) perante um borrão expressamente encomendado a putos da pré-primária.

As boas almas que mandam executivamente na santa terrinha não desejavam ver acolá reproduzidas aquelas cenas gagas (fica-lhes bem o sentimento).

Talvez por essa ordem de ideias, essas boas almas não dão explicações aos pagantes maioritários sobre suópes, pêpêpês, idas e vindas aos mercados, dívida pública…

(Para quê pôr as cartas em cima da mesa, se eles não percebem boi disto?!)

Ora experimentem, que a experiência é a mãe de todas as coisas…

Um dia, chega às mãos de um paisano peças da autoria da senhora Rosa Ramalho; ele nunca mais abriu mão delas, por preço algum. Enchem-lhe as medidas.

Noutro dia, foi lançado novo cedê de um cantautor de brejeirices e não há queima-de-fitas, regada a bijecas, em que não seja tocado. Enchem as medidas.

O senhor Miró teria muito que aprender em matéria de surrealismo com este país cruento. Veja-se:

Um senhor do poder executivo, de inconsciente bem formado, disse que a venda de quadros do senhor Miró ajudaria a tapar o «buraco lunar» do BPN, nosso-nacionalizado.

Um outro senhor do poder executivo, de subconsciente assim-assim, disse que o país não tem hipóteses de continuar a pagar as contas de manutenção dos quadros cá dentro. E ficou-se a bradar aos céus, pronto a pôr a chave na mão do primeiro que se atrevesse a fixar uma parada exequível.

(Quem mente, nunca acerta, que cesto roto nada detém.)

Consta que a corte celestial que reina lá em cima ainda não parou de rir; antes assim que não lhe dói a barriga pelo riso.

08
Fev14

Dies irae dies illa (II)

Jorge

Assim rezava uma notícia que andou por aí, não vai com muito tempo:

 

«A exposição a um pesticida amplamente usado na agricultura noutros tempos, o DDT, pode aumentar as hipóteses de desenvolver a doença de Alzheimer. A teoria é avançada por investigadores norte-americanos, num artigo publicado no «JAMA Neurologia» e citado pela BBC.
De acordo com o estudo, os investigadores concluíram que os doentes com Alzheimer tinham quatro níveis de DDT presentes no organismo quatro vezes superiores às pessoas saudáveis. 
O DDT começou por ser usado para controlar a malária, no final da Segunda Guerra Mundial e passou a ser utilizado na agricultura. Mas dúvidas sobre o impacto ambiental e na saúde humana restringiram o seu uso. Foi proibido nos Estados Unidos em 1972, à semelhança do que aconteceu em muitos outros países. 
Contudo, ainda é utilizado em muitos países para controlar a malária, por recomendação da própria Organização Mundial de Saúde. 
Os investigadores das universidades de Rutgers e Emory, nos Estados Unidos, mediram os níveis de DDE (partícula na qual se transforma do DDT depois de entrar no corpo humano) no sangue de 86 pessoas doentes de Alzheimer. Compararam depois com os resultados obtidos nas medições a 79 pessoas saudáveis. Concluíram que os doentes tinham 3,8 vezes mais DDE no organismo que os saudáveis. 
Mas outros investigadores ouvidos pela BBC alertam: são necessárias mais evidências. Além de os resultados anteriormente referidos não serem lineares em todos os indivíduos estudados, recordam que a Alzheimer já existia antes de se começar a utilizar o DDT.»

 

 Sem alarmismos, esta epidemia tem sido sobretudo associada a largos aumentos da esperança de vida. Associada à paparoca é a primeira vez…

 

 

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