- Zé, vai à janela e conta-me o que deslindas.
- Dou-me conta que muitos conterrâneos deambulam, sem posto a que aportar, chefe.
- Zé, os inativos não contam, fala-me dos ativos.
- Entendido na perfeição, chefe! Um número considerável de patrícios encaminha-se para lojas de computadores.
- Sim? Muito me contas, está a dar resultado a minha reforma tecnológica, Zé!
- Com sua permissão, e sem ofensa de género algum, o seu predecessor que era do contra gizou um plano tecnológico, não lhe queira seguir a esteira, que sou seu amigo embeiçado, e não gosto de confusões, chefe!
- Não me venhas com picuinhices especiosas, o seu a seu dono. O meu antecessor desbastou o erário público a oferecer computadores e a ensinar a malta a usá-los. Eu não embarco nesse transatlântico, ponho a malta a comprar computadores e que aprendam por sua conta e risco. Esta prática faz entrar uma nota gorda na Fazenda. Se isto não é reformar, vou ali e já venho! Dantes só saía, agora também entra, Zé!
- Estará para si bem caçado o nome do projeto, eu preferia pegada tecnológica, por exemplo e se me permite a ousadia. É mais in, up-to-date! Voltando à vaca fria, muitos conterrâneos, sobraçando embalagens de software e hardware, encaminham os seus passos a instituições de formação para novíssimas oportunidades, chefe.
- Vês, Zé, não precisas de cortar jaca, mas o meu plano bate certo. Toda essa gente vai à procura de um canudo, certo, Zé?
- As escolas privadas lideram as preferências neste processo, chefe.
- Pois é, o cheque-ensino foi uma ideia divinal, o Nuno sabe-a toda! Ele sabe mais a dormir que muitos a pé, há muitas horas, Zé!
- Lamento desapontá-lo, mas as propinas correm na totalidade por conta dos futuros utentes de computadores na ótica do utilizador, chefe.
- Sim, agora me recordo que o cheque-ensino está em banho-Maria, como o programa da Têvê Rural. É verdade que está decretado que não podemos viver acima das nossas capacidades, das nossas possibilidades e até das nossas necessidades, Zé. São tantas as coisas em stand by, que até ferve!
- Se muitos conterrâneos pagam, logo o desemprego abaixa e a criação de postos de trabalho acelera, chefe. De génio!
-O Colombo levou mais tempo a descobrir o ovo que ele nunca pôs, mas que todos dizem ser dele, Zé!
- Espere aí que a minha alma está parva, esses muitos conterrâneos dirigem depois os passos a escolas de condução automóvel, chefe.
- Meu dito, meu feito, tiro na mouche! Estão a resultar as nossas estratégias de apoio ao emprego e aos desempregados, para não mencionar o combate à economia paralela e a quem a apoiar, Zé.
- Já tardavam os resultados, chefe, mas eis que estão aí à frente dos olhos meus e de todos, meu chefe favorito!
- Ouve lá, Zé, tás aqui e estás no olho da rua, caso cuspas mais uma dessas piadas secas e pirosas, nem na sopa!
- Já cá não está quem falou, chefe! Ponto da situação: gente de todas as idades e proveniências sociais, sobretudo dos escalões etários médio-altos, fazem por aprender a manejar carro e computador. À pala disso, as escolas florescem e frutificam.
- Ainda bem que dediquei tanto do meu tempo à fatura da sorte. E ainda deu para desopilar, Zé! Já não podia ver cortes à minha frente, que frete!
- Vai ser um fartote, um suave milagre mesmo. Beijo-lhe as mãos, chefe!
- Somos uma terra abençoada e eu tenho estrelinha, pela qual me deixo guiar. Vou deixar-te sair mais cedo hoje, vai cochilar o teu bocadinho do costume.
- Por quem soides, muito obrigado! Aproveito a saída precoce e vou almoçar com a cara-metade. Quereis que trate de entabular conversações sobre o canal sortudo que vai apresentar o sorteio dos carrões de gama alta-média? Ela percebe do assunto, chefe…
- Frio, seu telhudo ocasional, vai antes ao notário a registar a patente da nossa estratégia de desenvolvimento que queremos vender aos países maltrapilhos. Pressinto que muito diligente dirigente mundial de países dos 7 mares virá comer-me à mão! Qual microcrédito, qual carapuça, fatura da sorte é a solução para os males terrenos e a salvação das almas penadas! Mas que não te dê pressa, só voltas ao gabinete, quando ouvires a minha voz. Entendido, Zé?
(Zé não deixou que o chefe dissesse 2 vezes a mesma coisa, desarvorou porta fora, a cantarolar «a garagem da vizinha» e «em contramão». O chefe passou à sala ao lado, onde reuniu com representantes de todas as marcas de automóveis, sucateiros, associações de seguros, de escolas de condução, de gasolineiras, de reparadores de automóveis, de revendedores de acessórios e clubes de cidadãos automobilizados, de peões e de organizadores de street racing e street tuning. Saiu muito fumo negro, 4 dias depois, quando a reunião foi dada por encerrada. Afinal, houvera alteração de planos e em cima da mesa estivera um novo projeto, de ainda mais largas vistas, a fartura da sorte. Previsto para ser afiançado cá no burgo, contam os participantes exaustos em fazer chegar o projeto – devidamente patenteado - aos areópagos que discutem o sexo dos anjos, mas também as estratégias de desenvolvimento.)