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oitentaeoitosim

31
Mai14

Mais à própria (dois)

Jorge

Pegue-se nestas formulações:

 i - Troca indireta, mais-valias, menos-valias, salários, contratos, suópes, preços, import-export, taxas, alfândegas, mercados e transações.

ii – Capital, valor de troca, valor agregado, valor de uso, valor estimativo, valor extrínseco, valor nominal, valor nominal, valor real, valor presente, valor venal das mercadorias, etc...

iii – Propriedade de recursos, empresas micro, pequenas, médias, grandes, grandíssimas, sarl, lda, declarações de liberdades, proclamações de direitos, etc…

iv - Numerário, recibos, ativos, letras, certificados, contas, juros, rendimentos, spreads, dividendos, tornas, câmbios, ações, fundos, retrocados, promissórias, tornas, bulas, faturas.

v – Ideologia única ou diversa.

Acrescente-se-lhes estoutros quesitos:

a – Promoção da vida social e/ou promoção da exploração de todos os tipos, possíveis e imaginários.

b – Promoção do nível e qualidade de vida e/ou racionalização da equanimidade das pegadas ecológicas.

c  - Incentivo à promoção social e/ou à igualação da distribuição igualitária.

d – Preparação pra a vida do céu na terra e/ou a prova provada que não há alternativa ao capitalismo.

 

 Que temos?

 Uma justificação da ordem e do progresso…

31
Mai14

Ladinices 8

Jorge

- Zé, vai à janela e diz-me o que espreitas.

- Pouca gente, chefe.

- Mas era suposto que houvesse muita gente nas ruas a comemorar o dia da libertação, o dia da partida dos nossos amigos, Zé.

- Eu próprio pus essa hipótese gloriosa, chefe, apenas lobrigo um gentil homem anafado a  brindar à restauração da independência e os circunstantes fazem gestos que se passou.

- Anda um homem a sacrificar-se a pôr as contas em dia, todo o mundo sabe disso que eu fui bem-sucedido e ninguém ergue uma bijeca ao alto, Zé. Cambada de ímprobos!

- Estou na sua sintonia, mas permita a observação, chefe. Desde o marquês de Pombal que ninguém fazia reformas mais atiladas como as suas, chefe!

- Isso é música para as minhas orelhas! Ao menos têm um sorriso nos lábios, Zé?

- Por acaso não, andam como se fossem para um funeral. Ninguém festeja a vida a andar para trás, se permite, chefe!

- Lá estás tu, uma no cravo, outra na ferradura! Se continuas assim, ainda mando desfazer as melhorias introduzidas no teu gabinete, à pala do erário público, Zé…

- Não faça isso, chefe adorado, que não sei viver sem as suas benesses!

- O meu generoso coração perdoa-te sempre, Zé, mas ao povo ingrato não!

- Alguns cidadãos não entraram nem com meio tostão furado, chefe…

- Lá estás tu outra vez. Ouve, Zé, é também de elogiar grande o sacrifício de virar a cara para o lado, perante as desgraças dos outros.

- Por aí também vou, chefe.

- Não vais a lado nenhum, vais mas é produzir um relatório para acalmar as dores de cabeça, o refluxo gástrico, as úlceras gástricas, as cefaleias dos credores institucionais, em chinamarquês.

-Fique a saber que está já à sua frente, chefe.

- Assim gosto de te ver, olho vivo e pé ligeiro, seu olhanense duma figa!

- A propósito chefe, quando me apresenta um deles, caramba, até parece que não sou seu amigo. Dava tudo para os conhecer, fazia tudo para lhes apertar a mão e agradecer de viva voz, até o chapéu eu comia…

- A seu tempo, eu também ainda não lhes pus a vista em cima, mas que existem, existem, Zé.

- Estamos a lidar com duendes, com fadas, com grifos, hipogrifos, com alguém que mexe os fios todos e não dá a cara.

- Exatamente, Zé, o que é preciso é assinar os cheques ou eles, materializam-se e quilham-nos, ulalá!

- Deus o guie e que a sanha das reformas prossiga, chefe!

- Até que enfim dizes qualquer coisa de jeito! Vou já dar ordens para que o teu gabinete possa alugar 2 popós topo de gama a um stand que eu cá conheço. Dizes que vais da minha parte…Podes tratar disso no resto da semana, Zé.

 

                                              Eu trato disso!

31
Mai14

Cenas do País Tetragonal (XXII)

Jorge

Andavam os pensionistas alarmados, mais uma vez. Que lhes queriam retirar nova fatia da mesada. Aqui d’el rei que a gente já não aguenta!

(O contrário de prognósticos de entediados entendidos na matéria.)

De escantilhão, vem por aí o maioral. Compõe a postura de santinho de pau e de pinho e logo atira um rotundo não. Que não se incomodassem, que não planteassem, que não rasgassem as vestes, não levariam mais com a machada.

Vocês são uns queridos e não deixo que vos façam mais mal, foi tudo para nosso bem comum, que eu, por vocês, vou até ao fim do mundo…

Os vossos proventos hão de voltar à forma primitiva, à estaca zero, mas, em troca, terão de aceitar que o anterior abocamento da espórtula passa de extraordinário a ordinário1 e ainda terão de suportar um o agravamento de taxas e emolumentos2, para dar cobertura a essa parada (que remédio!)

Os pensionistas levam a mal o arrojo que as reformas fiquem vinculadas a tais ordinarices, ficando igualmente ao sabor das performances da economia e pelos altos e baixos da demografia.

De início, levaram a conversa para a galhofa, o maioral era danado para a brincadeira. Mas depois repararam no ar sério de capataz e ficaram siderados.

Com a vida das pessoas não se brinca! - disseram.

Não se brinca com coisas sérias! - comentaram.

Não se brinca em serviço! – finalizaram.

O maioral não desistiu da dele e os retirados das lides ativas também não se quedaram de braços caídos.

Só pode!

 Está previsto que a CES passe a desconto definitivo, brevemente.

2 A TSU, a taxa de desconto para a ADSE e o IVA aumentam, como quem não quer a coisa.

31
Mai14

A perder se ganha e a ganhar se perde

Jorge

I - O chefe do partido vencedor das eleições destinadas a escolher deputados ao PE da UE - uma instituição mais poderosa do que muitos dos poucos votantes e do que muitos dos abstencionistas supõem.

O chefe, com sorriso de orelha-a-orelha, usou da palavra e pediu para que dessem os parabéns ao cabeça-de-lista, aos restantes associados escolhidos por decisão de quem teve voto na matéria e a ele próprio que os tinha escolhido a todos. Tinha sido uma vitória!

O chefe, no imediato exigiu a defenestração e a deposição em terra fria do governo da terra, mantido pela irmandade que tinha conseguido o segundo lugar da tabela. Tinha levado uma tosa das antigas, a votação mais baixa desde que as eleições são universais.

O chefe arrecadou muitas palmas e muitos olés, foram dados muitos saltinhos, muitas bandeiras da agremiação foram desfraldadas e ouviram-se muitos gritinhos estrídulos (a tender para o histerismo) do pessoal que enchia a sala reservada do hotel de 5 estrelas tremeluzentes.

O espumante já esguichava pelas gargantas dos associados reunidos, com pompa e circunstância, num salão de um hotel de muitas estrelas, quando aquele filho de Sol e neto da Lua desatou a dizer que sabia a pouco aquela vitória, de 3 pontinhos à maior, é que nem dava para tampar o buraco do dente molar mais pequeno.

«Ganda mula me saíste, és cá dos nossos, mas nem parece!» - comentava-se à boca pequena, não fosse o estafermo ouvir e julgar que lhe estavam a passar cartão.

O pretendente disse que, na vida, 3 coisas nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Aquela foi uma oportunidade perdida, ponto final, quero assumir o trono. Para já, tragam-me, em bandeja de prata, a cabeça do chefe! Assim, sem mais aquelas!...

Consta que ao chefe iam caindo os tintins aos pés, de tanta ousadia. Ele que se tinha em elevada consideração, por buscar incessantemente as nascentes dos arcos-íris, desmerecia de semelhante contempto e ousadia!

«Eu desfaço-te, seu filho único de uma mãe viúva, seu tredo de uma figa, agarrem-me ou desfilio-o!»  - gritou pelos descampados fora, ali à beirinha da sede, a pensar no cara-de-nó-cego que lhe vinha disputar a proeminência social.

Pelo-sim-pelo-não mandou desimpedir a porta dos fundos e emparelhar as bestas.

 

II - O chefe do governo da terra e sus muchachos coligados arrebataram o 2º lugar do pódio das eleições destinadas a escolher deputados ao PE da UE.

Ainda não estavam os votos todos contados, e o chefe lá se apresentou na sala de imprensa, sita em instalações topo de gama, numa unidade hoteleira de muitas estrelas cadentes, a esmiuçar a distribuição de votos.

Pressuroso, deu a cara, lá tinha que ser (o que tem de ser tem muita força), por isso foi muito sucinto: quem ganhou, ganhou, muitos parabéns! Nós perdemos, paciência, não merecemos congratulações, humildemente nos curvamos perante o veredito popular saído deste sufrágio.

«O veredito de há 3 anos confiou-nos a missão de levar o país a bom porto» - acrescentou, de imediato,o chefe do governo da terra.

«Ainda não o encontrámos, tal a quantidade de águas dormentes e turvas que tivemos de cruzar, as quais impuseram mudanças nas rotas, mas eu seja ceguinho, se não levo a minha cruz ao Calvário! E que estavam motivados, ali para as curvas…

A instâncias de um jornalista, também disse que não o espantava a derrota por semelhantes números. Tinha pedido muitos sacrifícios, o povo concordou, mas não gostou de andar de cavalo para burro. De qualquer maneira, os tempos mais próximos trariam saúde, dinheiro e amor aos borbotões…

Uma jornalista saiu-se com esta: se o país estava num brinquinho, tal postulado deveria ter rendido mais votos aos partidos do governo da terra…

O chefe da trama disse que a sua mensagem não tinha chegado ao coração do povo, que uma coisa é ir-lhe ao bolso, outra é chegar ao coração, uma viagem para muitos sois e muitas luas.

Ainda ressabiado com a derrota, só adoçado pelo burburinho instilado na casa do vencedor, o chefe do partido do governo da terra voltou aos comandos da chalupa.

Um bando de profeta augurou que o homem andava confundido, que faz tudo ao arrepio de promessas, da constituição e da ciência certa. Que se arrependesse, ou não teria salvação e acabava-se-lhe o mandato.

«Bardamerda! Padrinho, querem fazer-me mal» – ouvem-no gritar, com os poucos cabelos esvoaçantes aos 4 ventos, desvairado, a caminho do palácio de Pastéis.

Pela calada, mandou comprar calças com os fundilhos reforçados e rezou muito, para fugir à crucifixão e às penas do inferno.

Pelo-sim-pelo-não mandou desimpedir a porta dos fundos e pôs 2 cavalinhos à chuva.

 

 

                             Quem se põe a dormir, acaba a pedir... 

 

30
Mai14

Reclamação

Jorge

 Nas quadras que a gente vê,

Quase sempre o mais bonito

Está guardado pr’a quem lê

O que lá não está escrito

 (António Aleixo)

 

Que um cidadão ou uma cidadã vá a uma consulta marcada pela USF e tenha de gramar 3 horas à espera do clínico ou da terapeuta, suporta-se sem problemas. O(a)s médico(a)s estão sempre assoberbado(a)s de trabalho, a luta pela manutenção de uma vida pode valer um combate acirrado e aturado com a morte. Até aí, tudo bem!

Que um cidadão ou uma cidadã vá a uma consulta marcada pela USF e leve pela proa com um(a) médico(a) apressado(a) que reza a missa em 3 tempos e aqui me vou que tenho de ir pregar a outra freguesia, também se aceita. A deontologia recomenda precisão, lhaneza e nem todo(a)s o(a)s discípulo(a)s de Esculápio têm a disponibilidade de João Semana (um teso!) Até aí, tudo bem!

Que uma cidadã ou um cidadão vá a uma consulta marcada pela USF e leve com conversas segredadas por outros utentes, admite-se de bom grado. Saber que há na vizinhança uma lambisgoia qualquer, que fulano de tal está no desemprego e a trabalhar  simultaneamente sem recibo, ou que o filho de sicrano é vítima de bullying, pode ser socialmente instrutivo. Até aí, tudo bem!

Que uma cidadã ou um cidadão vá a uma consulta marcada pela USF e que a máquina das senhas esteja avariada, não é por isso que vai acabar o mundo. Põe-se alguém a distribuir os papelinhos à mão, está-se a perder este velho hábito de receber as coisas em mão. Há males que vêm por bem… Até aí, tudo bem!

Que um cidadão ou uma cidadã vá a uma consulta marcada pela USF e tenha de ser confrontado(a) com limitações de toda a ordem nos consumos de materiais básicos, não é por aí que o gato vai às filhós. Quem não tem cão caça com gato, da mesma forma que sempre houve ricos e pobres e o mundo continua a rodar… Até aí, tudo bem!

Que uma cidadã ou um cidadão vá a uma consulta marcada pela USF e o serviço de comunicação interna não funcione, aceita-se com fair play. As novas tecnologias têm muitos utilizadores e poucos reparadores. Até ajuda a criar ambiente ouvir vozes ao vivo. Além do mais podem estar por ali analfabetos, pode até ser uma obra de caridade. Até aí, tudo bem!

Agora, não é aceitável, isso sim, que os aparelhos de tevê, quase sempre religiosamente sintonizados aos canais genéricos, (os das fosquinhas) estejam mudos e calados, desativados, às vezes por tempos imemoriais, tenha lá paciência!

25
Mai14

Envelope encarnado

Jorge

Pilriteiro, dás pilritos
Porque não dás coisa boa?
Cada qual dá o que tem

Conforme a sua pessoa.

 

O partido era chefiado por um carpinteiro de cena, encenador nas horas vagas, e até realizador e produtor de peças, nas emergências.

O partido decide concorrer às eleições regionais.

O partido faz campanha na região de Pevides: organiza um torneio-relâmpago de sueca, num terreno inóspito de centro.

Todos os inscritos recebem um calendário e um opúsculo com as medidas desejadas pelo partido e um envelope rubro contendo quantias diferenciadas, algumas bem consideráveis para a época.

O vencedor recebe ainda um anedotário encadernado de promessas eleitorais não-cumpridas na região de Pevides, uma edição revista e aumentada do programa do partido e uma edição encadernada a ouro Trovas do senhor Gonçalo Anes Bandarra.

O partido faz campanha na região de Feijões: organiza um certame de cante a despique, numa área a suspirar por reabilitação urbana.

Todos os inscritos recebem um porta-chaves e um opúsculo com as medidas a implementar e um envelope escarlate contendo quantias diferenciadas, algumas bem consideráveis para a época.

Ao vencedor também é atribuído um breviário de capa dura e letras douradas com as melhores citações do passado de candidatos eleitos e não eleitos na região de Feijões, um fac-símile do programa original do partido e um exemplar recente da Peregrinação do senhor Fernão Mendes Pinto.

O partido faz campanha na região Padres_Nossos: organiza um torneio de damas, nas instalações de uma associação cultural que já conhecera melhores dias.

Todos os inscritos recebem uma esferográfica e um opúsculo com as medidas mais queridas pelo partido e um envelope solferino contendo quantias diferenciadas, algumas bem consideráveis para a época.

O vencedor recebe um memorando das realizações prometidas em eleições anteriores na região de Padres_Nossos,  uma cópia ilustrada do atual programa do partido e uma edição cartonada do Banqueiro anarquista do senhor Fernando Pessoa.

O partido faz campanha na região de Cristas: organiza uma sessão de matraquilhos.

Todos os inscritos recebem uma t-shirt com a efígie da fundadora do partido e um opúsculo com as medidas sonhadas para o povo e um envelope carmesim contendo quantias diferenciadas, algumas bem consideráveis para a época.

Ao vencedor também é atribuído uma compilação dos relatórios feitos por institutos de pesquisa e desenvolvimento sobre a região, uma edição do programa do partido, autografada pela dirigente máxima do momento atual responsável e um exemplar com sobrecapa de couro de Este livro que vos deixo do senhor António Aleixo.

O partido conseguiu um resultado estratosférico nas 4 regiões. Nas restantes 57, nem por isso…

                                               O envelope, já!

22
Mai14

Manojo

Jorge

Manojo era muito dado, por acaso, a cãibras, com as quais sofria pra burro, vítima das aguilhoadas que o deixavam transido de pânico, vezes mais que à conta.

Se fazia footing, as malditas dores materializavam-se lá para o fim da sessão. Se corria a caminho do laboratório, seu local de trabalho, as contrações espasmódicas faziam-se notar à entrada, para gáudio do chefe nhurro que já o ameaçara com despedimento por justa causa.

Pelo-sim-pelo-não, fazia questão de manter um saldo positivo individual, no banco de horas da empresa.

Nos momentos mais íntimos é que era mesmo chato, coa breca! Chegou a ser acusado de inépcia, egocentrismo, de ejaculação precoce e até de orgasmos múltiplos não retribuídos.

As cãibras atacavam, estivesse de pé, sentado, deitado ou levitado, a belo talante delas, sempre que lhes dava na veneta, quantas vezes à falsa fé...

Socorria-se de medicamentos, mezinhas, dietas e até orações, para fugir às ferroadas da maleita, mas as danadas eram recalcitrantes!...

Naquele dia, correu para o estádio a tempo de ver o início do jogo de futebol entre 2 clubes do campeonato máximo do futebol da terra, um dos quais era o seu favorito. Mal se sentou, ei-lo, inteiriçado, agarrado à perna esquerda. Alarmaram-se amigos e vizinhos, mas pediu-lhes que não se apouquentassem, era só mais um pequeno episódio de cangueira, que já passava. Friccionou a perna a preceito, contorceu-se segundo o catálogo das boas-maneiras, mas deixou escapar um ou outro ricto embaraçoso. Pronto, já passou!

Não tardou um segundo episódio, um ferrão que lhe incomodou a perna direita.

Então, lembrou-se da banana que trazia no saco. Uma banana, sobretudo se amadurecida à força, tem o condão de temperar as cãibras, sabia-o por experimentação própria.

Aberto o saco, agarrou-se à banana, de forma tão atabalhoada e canhestra e ei-la que toma altura, uma dinâmica de projétil. Incrédulo, de olhos esbugalhados, seguiu-lhe o trajeto até ao relvado, onde aterrou junto ao quarto de círculo, aos pés de um atleta da casa - também ele apertadinho por uma cãibra malquista – que se aprontava para bater um pontapé de canto.

O dito atleta, tomado de homóloga convicção (sobre as virtudes terapêuticas da fruta da bananeira) não se fez rogado e chamou-lhe um figo, num abrir e fechar de olhos.

Houve um chuto de trivela (coisa que nunca operara) e o esférico entrou direto, ultrapassando o especado e atónito guardião adversário que se tinha revelado ladino e felino até então.

Foi o único tento da partida e teve importância acrescida no desfecho da competição.

Do estádio, Manojo saiu em braços e em ombros.

As artes e ofícios bananeiros e correlativos prosperaram.

Manojo voltou-se para a meditação, que as sacanas das ferretoadas duram e duram.   

(PS: Cabe dizer que o jogador sortudo foi admoestado pela entidade organizadora, pela atitude pouco higiénica de ter atirado a casca da banana para o chão; foi igualmente multado pela entidade patronal, por infração a normas internas que impedem a ingestão de alimentos a desoras.)

 

19
Mai14

Revérberos (2)

Jorge

a  – O paraquedista neófito saltou do avião de forma limpa, sem paraquedas, daí ter regressado aos serviços intensivos.

 

b  - O endividamento de um país é tanto maior quanto menos voto esse país tem na matéria.

 

c – Se um ministro fica proibido de adquirir carro novo dos mais caros, tem todo o direito de reivindicar aumento de verba para alugá-los.

 

d – De uma troica benfazeja é costume despedir-se da mesma forma que se faz ao ano velho.

 

e – Dantes as autoridades sentiam-se compensadas quando o povo vivia em fartura, agora  a escassez já rende festejos.

 

f – Sempre que a carestia se instala, lucram a bolsa, a banca, as elites, as casas de ouro, as casas de penhores e as escolas de línguas.

 

g –  Para sermos justos, só alguns partidos  são como certas práticas medicinais, remedeiam, não curam.

 

h – Desconfia-se que o fim das touradas implicará o fim do enclausuramento de animais em habitações humanas.

 

i – Dizia a militante: «Votei noutro para chefe, mas este não me desiludiu». Das vezes seguintes votou sempre contra o seu protegido.

 

j - «Proibido fumar, lembre-se que está num hospital». Esqueceu-se, nunca mais fumou.

 

k - Só nos hospitais é que as batas diferenciam as pessoas.

 

16
Mai14

Revérberos (1)

Jorge

1 – Quando o povo passa fome, o rei não tem o direito de comer faisão.

(Frei Fernando Ventura)

 

2 – A pobreza é o melhor remédio para a diabetes, para a obesidade e para a hipertensão.

(Remake de famosa tirada de Gabriel G. Marquez)

 

3 – Um povo corrompido não pode tolerar um governo que não seja corrupto.

(Mariano José Pereira Fonseca, marquês de Maricá)

 

4 – A corrupção é intrínseca ao status quo.

 

5  – Todo o endividamento excessivo tem perdão.

 

6 - Se a pensão não é propriedade, com propriedade podem ser espoliados os seus detentores.

 

7 – Os valores com seus tiques, taques, fraques e traques propagam iniquidade.

 

8 – Muito aforrará quem evite regalar-se com viandas carregadinhas de sal e açúcar.

 

9 – O sexo é  um privilégio, ou os haréns não seriam guardados por eunucos.

 

10 – Quem fuma à porta, tem direito a dose dupla de ar viciado.

 

16
Mai14

Invocação do nome de um deus em vão

Jorge

Soube desta, há pouco.

O país já tinha sido servido por uma troica.

Vermelha, ao que consta.

No tempo do PREC, de feitos benfazejos e esparvoados.

O epíteto e a alcunha ficaram a matar.

A proa do barco então apontava a leste.

Chega uma segunda troica.

São tempos de imprecação.

Traz no sovaco a bandeira pirata.

Reúne escalpes, numa profusão de saques.

E embrenham-se rumo ao submundo do oeste.

Dizia aquele anónimo e esta não me sai da cabeça:

Esta mudança qualitativa deve-se afinal à perestroica!

(E à conversão da Rússia, justiça seja feita.)

 

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