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oitentaeoitosim

28
Jun14

Títulos (mais ou menos fiéis) da imprensa (1)

Jorge

 

 

«FMI reconhece que teria sido melhor renegociar a dívida».

Tarde piaste, mas quem se arrepende salva-se...

 

«Mulher de político usa carro oficial em deslocação pessoal».

E não pode?

 

«Vedeta de nova série da Disney é filha de pai algarvio».

Mais uma vitória moral…

 

«BES, PT e ESFG perdem 750 milhões na Bolsa».

Alguém os ganhou, portanto, amanhã é um novo dia…

 

«A nossa TV está tão popular que o ‘Big Show Sic’ hoje quase podia passar na RTP2».

Razões já tínhamos de sobra de pôr semblante tristonho…

 

«Incluir no PIB prostituição e drogas suscita reservas éticas e técnicas».  

Razões técnicas são admissíveis… Éticas, porquê?! É uma questão de olhar à volta, ou de falta de vista. E isso corrige-se…

 

«Portugal volta a casa, com futuro em dúvida».

Atenção, nacionalistas,  isto passa-se no mundo do futebol…  

 

«Crise aumenta risco de suicídios e homicídios».

A vitimização acirra a violência, porque desencadeia mecanismos de resignação nos que a sofrem e mecanismos de reforço nos que a praticam.

 

 

«Sudanesa busca refúgio na embaixada dos EUA».

Religião a quanto obrigas…

 

 «Militantes do Boko Haram com medo dos espíritos das vítimas».

Apraz registar que as vítimas se possam converter em verdugos de biltres…

 

28
Jun14

Cenas do País Tetragonal (XXIV)

Jorge

 Tem calma que já chutas!

A equipa representativa de futebol do país foi eliminada, na fase de grupos do torneio mundial da modalidade.

Quando se aguardava dali boas novas e mandados, dá-se o regresso de rabinho entre pernas. Assim não passaram desapercebidas as más notícias da governação que não se fizeram esperar.

A eliminação aziaga talvez se deva ao treinador, à práxis de treino, da escolha dos eleitos, do local de estágio, do clima, do hotel, das táticas, das estratégias para atingir os objetivos. «O homem é um pindérico e arrogante sem causa» - disse o comentador certinho, em direto de uma praia de naturistas.

No fim da tragédia, o treinador disse, alto e bom som que não quer a demissão, nem à custa de uma barrica de ouro, nem de um poço de gás de xisto.

A eliminação inditosa talvez se deva aos jogadores, cambada de coxos que esconderam mazelas só para visitar a Amazónia. De verdade, a maioria não podia com uma gata pelo rabo. Jogo de equipa não se viu, provavelmente tê-la-ão posto em práticas nos matraquilhos. Ou não chutavam, ou davam chutões para onde estavam voltados, uns pernetas, presos por arames. Honra lhes seja feita, tinham caprichado nos penteados, nas tatuagens e nas beijocas. «Estes gajos são bem capazes de transformar ouro em pechisbeque» - gritou um contrabandista de amor e saudade, às portas de uma repartição de finanças aberta.

(Se calhar abusaram do bacalhau, não se aguentavam nas canetas. Que bem lhes ficava o futebol de rua!)

No fim da tragédia, os jogadores juraram pelas barbas do profeta que tinham dado tudo e o resto se resumia a uma questão de pés-frios. Quem dá o que tem a mais não é obrigado! – terá assumido o melhor atleta do globo.(Agora tenho de lidar com os cabrões dos sponsors que se preparam para me cortar na casaca e na conta bancária!)

A eliminação desditosa talvez se deva aos dirigentes. Grandes melros, nunca deram a cara, ficaram-se nas encolhas, a comer do bom e a vestir do fino, enquanto a equipa era trucidada na arena e eles a ver passar os navios… Permitiram dos jogos de preparação, se foi para ambientação vou ali e já venho! A seleção da terra foi a última a arribar a terras de Vera Cruz, porquê? Por basófia? Eles andaram mais preocupados em cobrir os jogadores com miminhos que os amoleceram, ora aí está! Um deles veio com a cantilena que os jogadores não se encontravam mentalmente a 100%, depois da cabazada inicial e que o futebol é complicado, não é uma ciência exata e tudo pode acontecer. «Eu que o diga!» - assim falou aquele aluno que embirra com a Matemática e a Físico-Química, desde o berço, quando debitava prognósticos no fim do jogo, nas proximidades de um ecrã gigante.

No fim da tragédia, nem passou pela cabeça deles qualquer sombra de demissão, tinham cumprido a missão e os objetivos, mais uma vitória moral estava no papo, estavam de consciência limpa e tranquila, portanto pôr o lugar à disposição estava fora de questão e quem nos quiser desbancar que se atreva a dar um passo em frente, a ver como elas lhes mordem…

(Nenhum plumitivo se atreveu a perguntar-lhes se alguma vez puseram a hipótese de mudar de ares.)

Para a maioria, a culpa morreu solteira e assunto encerrado!

Eu estou noutra: a eliminação aziaga da seleção deveu-se aos embates que  calharam em sorte, nada mais nada menos com os donos da Europa e os donos do mundo (e não era este o «grupo da morte» porquê?!) Se a seleção dos donos da Europa se tem lembrado de aplicar mais 1-2 golitos à do país da bola oval, os juros da dívida punham-se a subir, né?!…

(A familiaridade encurta o respeito e rebaixa a autoridade.)

 A mim ninguém retira da cabeça que, se a China estivesse no grupo, a aziaga seleção iria malhar com os ossos ao último posto do grupo preliminar.

O respeitinho é muito bonito, não tenham dúvidas. Isso moeu a capacidade de raciocínio da comitiva presente na pátria do Chico do Fado tropical, são favas contadas!

(Um respeitinho destes é tido por restringente.)

Eis como a eliminação da seleção aziaga acabou por dar alegrias a quem se governa com o pequenino país à beira-mar plantado!

Vai antes chatear o Camões!

O meu plano de quatro etapas para lidar com a negatividade: identificar, enfrentar, eliminar e substituir! (F. Martins)

 

21
Jun14

Cenas do País Tetragonal (XXIII)

Jorge

  Lojistas contestam a realização de mega piquenique, afirmando que irá prejudicar o negócio e lamentam não terem sido consultados pela organização do evento.

  (Dos jornais).

 

Uma conhecida rede de hipermercados, mercados e mercadinhos, mais ou menos abastecidos, apoia seleções e também piqueniques. Propõe a realização de um pequinicão, para o qual é escolhida a principal avenida da capital, de há muito conhecida pelas baixas prestações de salubridade urbana.

Mas o dito bulevar também tem passeios mal entretidos.

E pedintes mais-que-à-conta e muitos sem-abrigos que montam tenda e estaminé por ali. Houvesse respeito pela dignidade desta gente e iriam passear para outras paragens.

Um pedinte digno do bulevar principal

Obrigado, mas continuo a querer um dólar!

A sobredita avenida dispõe de muitas lojas de luxo, onde se reúnem e fazem compras abonados de todo o mundo que ali formigam.

A sobredita avenida está muito bem situada no contexto mundial das avenidas de luxo.

(Os bons negócios não se deixam abater pelos altos perfis de poluentes.)

Os seus frequentadores são avessos a cheiros avícolas, porcinos e também agrícolas.

Os seus frequentadores são avessos a carraças, fungos, pulgões, tinhas, varejeiras e outros organismos campesinhos.

Cliente da avenida chique

Detesto viver no campo, mas gosto muito de revistas sobre a vida no campo.

Hoje por hoje as grandes fortunas enjeitam o campo. Os ares campestres não são bem-vindos à cidade da opulência.

Hoje por hoje quem muito e bem paga, muito e bom respeito merece.

Não tem cabimento que os frequentadores da nobre via se vejam ultrapassados por gentinha que vai para ali rir-se alvar e alarvemente, sem saber ler nem escrever.

Não tem cabimento que sejam obrigados a ouvir piropos e palavrões, vindos de quem bebe até às tantas, sem freio.

Que mau aspeto!

 Cliente tenta chegar a loja chique em dia de pequenicão (vejam só o perigo!).

Bem me parecia que me esqueci de algo, não trouxe máscara anti-poluição!

Interessa afastar dos centros de mais elevados interesses quem se está nas tintas para a contenção.

Interessa afastar das nobres vias quem anda sem trelho ou trambelho, de mistura com hortaliças e bicharada.

Cada um com a sua e na sua!

Já é tempo de pôr com dono (nome já têm, falta o resto) as artérias nobres das cidades.

Nem todos se podem dar ao luxo, o seu a seu dono!

Menos mal que também ali estão para ouvir o cantor-mor do romanticismo local...

O bulevar principal e um seu empresário depois do pequinicão

 Ora adeus minhas encomendas!

09
Jun14

Quidans em tempo de liberticídio

Jorge

  Gato escondido com rabo de fora tá mais escondido do que rabo escondido com gato de fora.

  Trava-língua

  Se queres ver o vilão mete-lhe a vara na mão.

  Provérbio

 

  Era uma vez 2 irmãos bichaços, virginianos e colaços. Povoavam o palácio de Franchões, uma vetusta construção em versão rococó. Eram beras comá potassa e teriam vendido a alma a belzebu.

  O mais alto era espadaúdo, gárrulo, de voz tonitruante, tipo escalda-favais, sempre pronto a não deixar pousar as moscas. Tido por taralhão e orate, pela vizinhança, tinha olho para os negócios, coisa que faltava à propinquidade.

  O mais baixo, de estatura meã, cambaio sem recuperação, tinha voz de peito em corpo bem tratado, mas não passava de um casca-grossa consagrado. Não fazia mal a uma mosca, pois tinha-se na conta de uma águia e tinha muito jeito para jogadas de cintura.

  No almoço de um dia de verão pastoso, deram ordens que fosse cozinhado manjar-branco, uma especialidade da casa e que saiu detrás da orelha. O manjar-branco foi posto em 2 taças (da mais pura porcelana), de diferentes tamanhos, a condizer com as alturas de cada qual. No ato da prova, desajeitados, queimaram a ponta da língua. Ficou adiada a ingestão do pitéu. Por mútuo acordo, foram dar uma volta ao palácio, a refrescar as vistas.

  Num santiámem, cai de paraquedas no palácio de Franchões uma menina trigueira, olhos e cabelos de azeviche, busto consumado e perna bem torneada. A serigaita vai aperaltada e segura numa fatiota ditada pelo último grito de Paris e pelos cânones de Milão. Nem teve tempo a perder, vai direita, no seu sapatinho de veludo sussurrante, à sala de jantar (refeitório ou cantina para outrem). Provou da taça maior e achou o manjar desenxabido, muito quente e pô-la de lado. Provou da segunda -  estava à temperatura desejada -  e emborcou num ápice o conteúdo que lhe soube a pouco.

  A donzela apercebe-se da existência de 2 tronos (hierarquicamente diferenciados), ali à mão de semear. Mira o mais alto e faz-se a ele, mas não se conseguiu acomodar de jeito algum, além do mais libertava um fênico de tapar nariz e boca. Pulou de imediato para o mais baixo e aí conseguiu ajustar razoavelmente os seus atributos, mas saiu-se mal da experimentação, o trono escaqueirou-se, ficando reduzido a seliscas.

  Subiu umas escadas e, numa das divisões do andar mais alto vê uma cama grande, na qual se deita, mas mal se ajeita. Desistiu, ali sentia-se muito fria. Passa ao quarto seguinte, com outra cama, mais maneirinha e, embora a ache desconfortável e a emanar vapores de sulfato de peúga, fica-se a dormir.

  De regresso ao palácio de Franchões, os 2 irmãos apercebem-se que algo tinha corrido mal na sua ausência. Que descaro!

- Alguém partiu o meu trono! – Queixa-se o franzino.

  Olham por todos os lados, fazem buscas em todos os recantos e não encontram qualquer intruso no andar térreo. A operação tomou o seu tempo. Vão ao andar superior, junto às nuvens e dão com a gata, ali aninhada e despreocupada.

- Está uma intrusa a dormir na minha cama, que horror, que susto! – diz gemebundo o baixote.

  Cada um deles se agarra ao pau, estava a pedi-las (a tipa deveria ser malhadiça!)

- Não perdes pela demora! – Berram em uníssono, enquanto zelam por a apanhar, com intenções adversas.

A donzela sobressaltada não perde tempo a dar corda aos sapatos, antes que a dupla se recompusesse.

- Agarra que é ladra! – Rogam em uníssono, mas a vizinhança nem um dedo mindinho mexeu, pelo que ficaram a chuchar no dito cujo.

A moça entrou disparada no palácio Ratton e por lá se manterá, enquanto durar a procela.

Onde se meteu o outro, chiça?!

 

                                                                                                         Estou aqui, pá!            

04
Jun14

Agarrem-me, ou não respondo por mim!

Jorge

O governo da terra argumentou, socorrendo-se de meia-dúzia de documentos e da pesporrência habitual, que o corte a efetuar nos salários dos trabalhadores em funções públicas, seria adequado e idóneo.

Os decênviros foram chamados à liça e contrariaram os juízos de fora e não foram na cantiga. Não se pode aplicar os santos sacrifícios (vilmente impostos) à arraia-miúda, tão glorificados por maganos assombradiços. Toda a gente tem direitos e deveres adquiridos, há muito, ou há pouco tempo, mai nada!

(O governo da terra quis tosquiar outra vez e saiu ligeiramente chamuscado, por uma vez!)

 

Sugere-se que, da próxima vez, o governo da terra seja mais original. Aqui se deixa uma lista de epítetos adaptáveis ao próximo corte (sem exigência de royalties) e que podem render mais dividendos:

i - Racional; espantoso; catita; desejado; fundador; lidador; libertário;

ii - Legal; Justiceiro; preciso; bonito;  casto; prudente; clemente; habitual;

iii - Barato; justiceiro; decente; óbvio; excelente; prático; formoso;

iv - Urgente; eloquente; sensato; vitorioso; desejado; hábil; piedoso; genial;

v - Realista; imaginativo; venturoso; reformador; frequente; magnânimo; miraculoso.

 

Se não der resultado, vosselências sempre podem tentar, da próxima vez, um ou mais qualificativos retirados a esta sequência antónima (não haverá qualquer pendência sobre direitos de autor, é só escolher, ao gosto do freguês):

a - Vulgar; grosseiro; duro; grave; mau; pungente; ordinário; absurdo; deselegante;

b - Ridículo; estúpido; perigoso; desagradável; cruel; maldito; severo; doloroso;

c - Fatal; ilegal; indigno;irracional; errado; usurpador; baixo; chato; negativo;

d – Assustador; miserável; irritante; monstruoso; grosseiro; dramático; exagerado;

e – Insensível; horroroso; perverso; impensável; cínico; opressor; repulsivo; boçal.

 

 Mas… tem que ser (acrescentem, piedosamente). O que tem que ser tem muita força!...

Um palpite diz que o corte passava!

E vossas senhorias podiam eternizar-se, com a verdade me enganas...

O que mais me impressiona nos fracos é que eles precisam de humilhar os outros para terem sucesso, Gandhi dixit.)

 

    Economista em ilha deserta

                                                                                    Mandem-me um pacote fiscal estimulante!

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