Gato escondido com rabo de fora tá mais escondido do que rabo escondido com gato de fora.
Trava-língua
Se queres ver o vilão mete-lhe a vara na mão.
Provérbio
Era uma vez 2 irmãos bichaços, virginianos e colaços. Povoavam o palácio de Franchões, uma vetusta construção em versão rococó. Eram beras comá potassa e teriam vendido a alma a belzebu.
O mais alto era espadaúdo, gárrulo, de voz tonitruante, tipo escalda-favais, sempre pronto a não deixar pousar as moscas. Tido por taralhão e orate, pela vizinhança, tinha olho para os negócios, coisa que faltava à propinquidade.
O mais baixo, de estatura meã, cambaio sem recuperação, tinha voz de peito em corpo bem tratado, mas não passava de um casca-grossa consagrado. Não fazia mal a uma mosca, pois tinha-se na conta de uma águia e tinha muito jeito para jogadas de cintura.
No almoço de um dia de verão pastoso, deram ordens que fosse cozinhado manjar-branco, uma especialidade da casa e que saiu detrás da orelha. O manjar-branco foi posto em 2 taças (da mais pura porcelana), de diferentes tamanhos, a condizer com as alturas de cada qual. No ato da prova, desajeitados, queimaram a ponta da língua. Ficou adiada a ingestão do pitéu. Por mútuo acordo, foram dar uma volta ao palácio, a refrescar as vistas.
Num santiámem, cai de paraquedas no palácio de Franchões uma menina trigueira, olhos e cabelos de azeviche, busto consumado e perna bem torneada. A serigaita vai aperaltada e segura numa fatiota ditada pelo último grito de Paris e pelos cânones de Milão. Nem teve tempo a perder, vai direita, no seu sapatinho de veludo sussurrante, à sala de jantar (refeitório ou cantina para outrem). Provou da taça maior e achou o manjar desenxabido, muito quente e pô-la de lado. Provou da segunda - estava à temperatura desejada - e emborcou num ápice o conteúdo que lhe soube a pouco.
A donzela apercebe-se da existência de 2 tronos (hierarquicamente diferenciados), ali à mão de semear. Mira o mais alto e faz-se a ele, mas não se conseguiu acomodar de jeito algum, além do mais libertava um fênico de tapar nariz e boca. Pulou de imediato para o mais baixo e aí conseguiu ajustar razoavelmente os seus atributos, mas saiu-se mal da experimentação, o trono escaqueirou-se, ficando reduzido a seliscas.
Subiu umas escadas e, numa das divisões do andar mais alto vê uma cama grande, na qual se deita, mas mal se ajeita. Desistiu, ali sentia-se muito fria. Passa ao quarto seguinte, com outra cama, mais maneirinha e, embora a ache desconfortável e a emanar vapores de sulfato de peúga, fica-se a dormir.
De regresso ao palácio de Franchões, os 2 irmãos apercebem-se que algo tinha corrido mal na sua ausência. Que descaro!
- Alguém partiu o meu trono! – Queixa-se o franzino.
Olham por todos os lados, fazem buscas em todos os recantos e não encontram qualquer intruso no andar térreo. A operação tomou o seu tempo. Vão ao andar superior, junto às nuvens e dão com a gata, ali aninhada e despreocupada.
- Está uma intrusa a dormir na minha cama, que horror, que susto! – diz gemebundo o baixote.
Cada um deles se agarra ao pau, estava a pedi-las (a tipa deveria ser malhadiça!)
- Não perdes pela demora! – Berram em uníssono, enquanto zelam por a apanhar, com intenções adversas.
A donzela sobressaltada não perde tempo a dar corda aos sapatos, antes que a dupla se recompusesse.
- Agarra que é ladra! – Rogam em uníssono, mas a vizinhança nem um dedo mindinho mexeu, pelo que ficaram a chuchar no dito cujo.
A moça entrou disparada no palácio Ratton e por lá se manterá, enquanto durar a procela.
Onde se meteu o outro, chiça?!
Estou aqui, pá!