A bom santo te encomendaste!
(Sobre os acontecimentos vividos no último «Debate Quinzenal» - que mais pareceu uma «Conversa em Família» - e factos subsequentes.)
Ao senhor Bonzinho não chega doar a camisa, dá as calças, os polos, as calças, as botas e até as trusses por uma boa causa. De uma vez ficou em pêlo.
O senhor Bonzinho gosta de colaborar na recuperação do património, na manutenção das reservas, na recuperação das florestas, no apoio aos sem-abrigo e na salvação das almas danadas e correlatos. É homem de causas.
Ao senhor Bonzinho basta uma palavra só, um credo só, uma ideologia só, uma cara só e uma casa só. Não leva uma vida de estadão e é mais de arriscar em rifas, em raspadinhas e no euromilhões. É remediado.
O senhor Bonzinho continua a sobreviver com um só ordenado que é destilado do suor do seu rosto e paga sempre as faturas comunicadas eletronicamente. Ele sabe avaliar quanto custa a vida.
Tirante isso, ao senhor Bonzinho deu jeito uns subsídios que se puseram a jeito de compor o seu remendado pé-de-meia.
O senhor Bonzinho não vai à bola com quem se faz ao bife a retribuições, avenças, prémios, gorjetas, gratificações e outras alcavalas: gosta de oneguês que, coitadinhas, passam o tempo a lutar pelo paz, pelo pão e pela liberdade, pelo mundo fora. Faz o bem, não olhes a quem…
Ao senhor Bonzinho já tinha cabido a suprema dita de cirandar mundo fora, ao serviço de uma oneguê que inclui no seu cardápio a implementação de universidades e a abertura de portas a oportunidades novas. Vai daí chegou a reunir muito, mas só nos fins de tarde, nos fins-de-semana ou pela madrugada dentro. A lei obriga e ele é um seu devoto servidor.
O senhor Bonzinho adorava (ainda adora) reunir em Bruxelas, cidade que tem umas couves de trás da orelha; delambia-se a fazer as honras ao pitéu. Só cobrava (já não) o que gastava. Está aqui uma faturazinha de 1000 - com o nº de contribuinte e tudo -, passem para cá 1000 e até à próxima, se não for antes… Aqui me vou e contem sempre comigo!
Ao senhor Bonzinho faz espécie que se ponha familiares a abrir contas e empresas em benefício dos mandantes. Sempre detestou sessões de strip tease de contas por serem do mais rasca que há. Então, quando lhe falam na violação da exclusividade, passa-se dos carretos. Quando lhe falam em levantar o sigilo bancário, ele amanda-se ao ar, isso é segredo de confissão. Que o façam outros, até que nem é mal pensado…
O senhor Bonzinho abomina falsas declarações de impostos, nunca foge ao cumprimento das suas obrigações. Agora, se não é obrigado a declarar as gorjetas às finanças (por acaso, uma situação a rever), não se arma aos cágados. «Não sou mais nem menos que os outros…» - acrescenta.
(Eu seja ceguinho, se fugi aos impostos, já pedi que a procuradoria analisasse, porque ando com falta de memória e a tomar centrum.)
Quando era menino, ao senhor Bonzinho ocorreu soltar uma mentirinha para arranjar a vida. Levou semelhante pantufada de um seu superior, que ficou a ver estrelas, durante 20 horas seguidas. Nesse dia só lhe foi permitido comer salsichas – lembram-se bem os amigos de gebreira. Nem pão, nem água, nada!
Anteontem alguém notou que do corpo do senhor Bonzinho se desprendia um halo de santidade e emanava uma aura de beatitude. «Temos entre nós, um bem-aventurado!» - diz uma chusma de seguidores a quem ele abona e não abandona.
Aberto um peditório nacional online, ficou comprado, em tempo recorde um andor e um altar, onde se espera que o senhor Bonzinho venha alternar. Contam lavar-lhe os pés, depositar flores e acender velas, todos os dias.
(Uns maus de antanho diziam que «em santo de carne, pau nele». Nem tanto ao mar, nem tanto à terra!)
A felicidade suprema tem o seu custo
- De certeza que não posso entrar com isto? Aqui está o seu quinhão das despesas de representação…
- Para que estava eu guardado!...