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oitentaeoitosim

28
Mar15

Em Batatívia (14)

Jorge

O «pacote vipe» é miragem aliás não se percebe para que raio precisam os altos e poderosos de serem protegidos eles conseguem fintar as taxas e as taxinhas se lhes der na real gana até um qualquer zé-cuecas consegue dar uma voltinha ao texto desde que tenha uma boa cunha pelo menos era assim até agora a informatização tem destas coisas pode interferir nos esquemas o que é tramado quiçá os hackers possam valer mas será injusto de todo que a malta da ailife ou do jetesete possa disfrutar de algumas regalias? eles empresariam para todos eles dão trabalho a muita gente eles governam o maralhal portanto é natural que se governem quanto a mim deveriam reivindicar se fossem dados a essas coisas um estatuto especial que é imanente à mente ao espírito à alma ao consciente ao subconsciente e ao inconsciente de todos.

 

Quando surgem notícias destas logo se soltam línguas viperinas farpas e penas afiadas soltam-se sempre dispostas a pôr defeitos em tudo e em todos palavra de honra que queria ver essas almas sensíveis no poleiro a ver as barracas que não dariam na governança dos próprios nacionais ou das empresas garganta todos têm segundo o fmi a santa terrinha está a precisar de gente mais valiosa como de pão para a boca bastantes decisores não valem um caracol no dizer dessa instituição que é mais uma dependência pelo clube de ricalhaços de Bilderbergue uma malta de trás da orelha pronto que vão para lá esses críticos esses más-línguas do raio que os parta a mostrar do que são capazes e se não vão esqueçam o bota-abaixismo sistemático que é chão que já deu uvas o que está a dar é ser amigos dos bancos e dos banqueiros que não sejam banksters olhem que o respeitinho sempre foi bonito criticar sempre foi fácil e saber da arte é bem mais difícil como diz o outro faz não te armes em mestre.

 

Para a frente que é Lisboa portanto não virá mal ao mundo se for monitorizado só o peixe miúdo pois o peixe graúdo faz muito pelo peixe miúdo e este sabe fechar os olhos às regalias obséquios e formas de tratamento diferentes os poderes instituídos de aquém e além-mar acham que ao favorecer favorecendo uns poucos eles vão favorecer muitos outros que não foram favorecidos na partilha original mas as contas quase sempre saem furadas aos governos adiante por acaso essa diferença não está espelhada na lei mas deveria estar se não há igualdade material a igualdade moral é igual ao litro ou conversa fiada blá-blá-blá mas voltando à vaca fria um passarinho pipitou-me ao ouvido que essa coisa de lista vipe terá sido perspetivada por cabecinhas pensadoras mais papistas que o papa estilo sapateiro que quer ir além da chinela o que começou numa simples incolor inodora e insípida listagem só para fazer 1-2-3 experiência acabou em lista negra que é pior que uma caixa negra que por acaso não é negra mas chamam assim só para chatear mas palavra de honra não sei se acredite diz-se na China que os pássaros não cantam por ter solução, mas por terem uma canção porventura a do bandido sei lá naturalmente continuo na minha não há não houve nem nunca haverá lista ou pacote ou medidas vipes a não ser que esteja guardada a 7 chaves.

 

Ora bem senhor que manda na casa dos impostos que é uma instituição das mais importantes da santa terrinha tanto assim que encheu os cofres e deixou a senhora que monta guarda ao cofre tão contente com tal estímulo que mandou os jovens procriarem nestas circunstâncias o intendente dos impostos não tinha que terminar funções coisa alguma agora a exoneração de dois putativos imputados que tinham cara de mártires e se puseram a jeito com uma lagriminha ao canto do olho portanto estava criado o cenário para a estória receber ponto final nestas circunstâncias a ira de qualquer deus fosse qual fosse a sua hierarquia ficaria aplacada mas a malta do contra chama-o à comissão e ele foi e disseram-lhe temos aqui mais uma embrulhada o senhor e os seus pares só fazem bodega ora conte lá senhor intendente dos impostos conte aqui tudo tintim por tintim foi aí que os ditos caíram aos pés o senhor de nada sabia não tinha conhecimento de uma lista de protegidos não queria saber dessa relação e tinha raiva a quem dizia saber que ela existia para ele só listas de pães ou listas de indústrias ou telefónicas sim confirmo que demiti ou exonerei 2 subalternos a pedido deles nem foi preciso invocar razões familiares razões de saúde ou de força maior eles confessaram tudo portanto minhas senhoras e meus senhores dediquem-se mais à pesca vão dar banho ao perdigueiro e depois vão à caça de gambozinos mas desamparem-me a loja que quem não deve não teme.

 

Mas a comissão chateou e o senhor sai-se com esta «onde estão as provas?» e num repente pensei que a minha tevê estivesse sintonizado num canal de séries policiais desfiz-me em imprecações dirigidas a quem me tinha vendido o televisor convencido que tinha dado a macacoa ao cubo quem sintoniza tais canais sabe que em muitos episódios há um espertalhuço armado em carapau de corrida que a gente já sabe que limpou o sarampo a várias pessoas só os atores que fazem de detetives é que não e tem a distinta lata de perguntar «onde estão as provas de que fui eu? vocês nada têm para me incriminar» e só nessa altura os detetives abrem os olhos e finos que nem alhos cá para mim andaram a fazer caixinha rapam de uma prova irrefutável de última hora que deixa o suspeito atordoado encostado à parede ou às cordas depende aí na sua nova condição de trampolineiro ele deixava que lhe ponham nos bracinhos umas pulseiras metálicas ou de plástico das mais modernaças indo malhar com os ossos à enxovia mais próxima portanto o canal era o mesmo aquele do parlamento ouvi a pergunta e desconfiei que a seguir apareceria um detetive ou qualquer pessoa com cara disso que desmascararia o referido senhor mas nada por isso ele compôs aquele riso sardónico que mais parece um arreganho e aqui me vou.

 

Resumindo e concluindo não há lista vipe porque o senhor intendente dos tributos e correlatos não lhe pôs os óculos em cima e agora não venham com essa gracinha de que o pintas não soube da missa a metade ou que foi o último a saber por acaso o senhor tem fraca retórica mas para quem é bacalhau basta mentiroso não é ele porque não tem dentes ralos depois 2 maduros assumiram o odioso da questão pediram desculpa por se terem armado em lorpas sem darem conhecimento aos chefes postados acima além do puxão valente de orelhas nunca mais chegam a ministros  é bem-feito também me cheira que aquele senhor do sindicato que botou a boca no trombone talvez as vá amargar ele não tem imunidade então o pessoal em funções públicas que se atreveu a fazer consultas em busca da lista nunca parida é melhor nem falar é fatal como o destino vai haver sangue vão levar com o tubo nada a fazer desde que fique cumprida a constituição assim sendo prevê-se que os maiorais continuem a limpar as mãos à parede do Pilatos sempre que forem chamados à pedra ou a fazer manguitos ou a tocar nas partes pudendas como o terá feito um vipe da bola ia-me esquecendo a oposição deve pedir reforço de verba para a contratação de detetives nem que seja da estranja eles por estas bandas são bem escassos talvez tenham emigrado ou até são com a lista vipe não existem bem basta o que basta.

25
Mar15

Contos de fados (III)

Jorge

- Eu controlo 1 banco, 2 agências financeiras e 2 companhias de seguros.

- Também eu comando 1 banco, 2 agências financeiras e 2 companhias de seguros. Como vês!...

- Eu sou dono de 90 mil ações da empresa X, pelas quais acabo de receber um balúrdio em dividendos.

- Também eu sou dono de 90 mil ações da empresa X, pelas quais acabo de receber um balúrdio em dividendos. Como vês!...

- Eu detenho 34% do fundo Y que é uma mina.

- Também eu sou detentor de 34% do fundo Y que é uma mina. Como vês!...

- Acabo de receber 1 milhão em royalties de uso de patentes muito minhas.

- Também eu acabo de receber 1 milhão em royalties de uso de patentes muito minhas. Como vês!...

 - Sou proprietário de 57 imóveis no centro de Lx, 5 no centro de Luanda e 5 em Miami.

- Também eu sou proprietário de 57 imóveis no centro de Lx, 5 no centro de Luanda e 5 em Miami. Como vês!...

- Sou dono e senhor de 22 carros desportivos.

- Igualmente, sou dono e senhor de 22 carros desportivos. É como vês!...

- O cash-flow das minhas empresas permite-me que movimente para cima de 100 milhões por todo o mundo.

- Igualmente, o cash-flow das minhas empresas permite-me que movimente para cima de 100 milhões por todo o mundo. É como vês!...

- Na minha dependência colaboram 10 000 homens, 9 mil mulheres, 5 000 crianças e 20 amantes espalhados pelo mundo inteiro.

- Igualmente, na minha dependência colaboram 10 000 homens, 9 mil mulheres, 5 000 crianças e 20 amantes espalhados pelo mundo inteiro

- Já dei o nome a 3 estradas, a 5 ruas e a 2 avenidas.

- Igualmente, já dei o nome a 3 estradas, a 5 ruas e a 2 avenidas e um beco sem saída. É como vês!...

 

Nicodemos deixou de ver. Ambrósio acabava de desfechar-lhe o tiro fatal. Aquele duelo tinha duração indefinida e à menor distração seria a morte do artista que só teria uma saída airosa, de pés para a frente.

25
Mar15

Contos de fados (II)

Jorge

No início de uma semana.

- Vamos tomar um copo?

- Hoje não, talvez no fim-de-semana.

No fim-de-semana imediato.

- Vamos tomar um drinque?

- Não dá, talvez no próximo fim-de-semana!

 No fim-de-semana seguinte.

- Então é hoje que vamos beber um shot ou coisa no género?

- Paciência, mas ainda não pode ser desta, no próximo mês talvez!

No mês seguinte.

- Hoje não escapas, vamos tomar uns copos!

- Desculpa mais uma vez, mas quiçá só para o ano.

No ano seguinte.

- E se fôssemos beber hoje umas jolas?

- Não dá, estou de luto!

«Ufa, gosto das recusas dela!» – desabafava sempre o José, depois de cada tampa da Judite. Adorava ouvi-la, a adiar. Cavalheiro à antiga não admitia outro cenário que não fosse ele a pagar as bebidas, numa surtida. Se ela dissesse que sim, ele teria de abrir os cordões à bolsa e há mais de 2 anos que só contava cêntimos!

(Desconfiaria ela disso?)

 

25
Mar15

Contos de fados (I)

Jorge

- Vens comigo visitar a Ninita?

- Não, hoje não, talvez depois de amanhã!

- Vamos visitar o Nestor?

- Não, hoje não dá, daqui por uma semana, porventura, não digo que que não!

- Vem comigo à da Natasha?

- Não posso, terá de ficar para melhor oportunidade, será melhor daqui por um mês!

- Hoje fiquei de passar por casa do Nazário, vens comigo?

- Não posso, mas daqui por um ano é quase garantido!

- Anteontem deste a entender que poderíamos hoje visitar a Ninita, vamos?

- Hoje nem pensar, tenho o pai doente a necessitar da minha ajuda, fica para a próxima!

- Passamos hoje por casa do Nestor, assim deste a entender faz hoje 8 dias, vamos lá?

- Teremos que adiar, o meu avô paterno está doente e requer as minhas atenções, há mais marés que marinheiros!

- Faz hoje um mês que prometeste que poderias vir comigo a casa da Natasha, vens?

- Vamos procrastinar, hoje tenho uma entrevista de emprego, à qual não posso faltar, fica para a próxima!

- Faz hoje um ano que deste a entender que irias comigo ver o Nazário, vens?

- Não posso, vou casar-me hoje e só se casa uma vez, não posso adiar!

 

Judite visitou os 4 amigos sempre sozinha. Sempre a irritou aquela falta de sensibilidade de Jónatas, incapaz de formular uma palavra de desculpa, paciência, vais perdoar-me, lamento, qualquer coisa no género…

Não houve casamento algum, Jónatas foi sempre filho de pais incógnitos (do espírito santo) e neto igualmente de avós ignotos, por sua vez o trabalho dele fugia a 7 pés.

Jónatas não gostou de saber que os 5 tivessem comentado, jocosamente, a sua inabilidade para manejar bicicletas e patins, ele que era reiteradamente um ás em motas, em carros particulares, em carros de corrida, em aviões, em drones e até em  cápsulas espaciais.

19
Mar15

Coisas que nós fazemos (3)

Jorge

O atual primeiro-ministro deste país não pagou na Segurança Social (SS), na devida altura, descontos devidos pelas tarefas desempenhadas como trabalhador independente. Esquecimento próprio ou alheio estará na origem do lapso (a hipótese de alguém de dentro do sistema ter dado com a língua nos dentes não está posta de lado). Instado, uns anos depois, já investido nas suas atuais funções, corrigiu a mão.

Muita gente atenta a que não falhe um pagamento à SS, não vá a pensão vindoura ser defenestrada, ao tomar conhecimento da gafe, pateou e pôs-se a azucrinar.

- O senhor atreve-se a levar-nos coiro e cabelo, para satisfazer os bancos fomenicas e, na volta, vai-se a ver e não pagou na hora certa, dádiva que cabe a poucos!

(Pelas normas atuais da cidadania de países ricos e arremediados ainda se exige que o exemplo venha de cima e os agravos vão para baixo, da pirâmide social, naturalmente.)

Humilde, o primeiro-ministro deu-se por achado, admitiu o erro, vejam lá que toda a gente dá barraca, ninguém é perfeito só deus, quem não pecou atire a primeira pedra.

Disse trinta por uma linha para se justificar, mas não se recusou a pagar a continha calada, tarde, mas em boa hora, com juros de mora acrescidos. 

Apesar de tudo, continuarei no meu posto, assunto encerrado! E vão continuara a ter-me à perna, se não desertei em momentos mais complicados, não me deixarei apear por uma questão de lana-caprina...

(Em alguns dos países ricos e arremediados teria de saltar do seu lugar; o mesmo não se aplica em países de brandos costumes.)

Contra sua vontade, correu mais água debaixo das pontes. Dos erros comem os escrivães, os escribas, os comentadores e os desocupados, a casuística não batia certa. Até que a celeuma se esbateu, todos os dias surgem casos ponderosos, a merecer a atenção de colaboradores e poderosos.

Alguém ainda tentou uma manobra de diversão, estilo perdão generalizado para os faltosos, ou devolução de verbas avançadas em igual período a que se reporta a dívida do primeiro-ministro, agorinha, pela páscoa, mas o projeto morreu na casca. Podia ser que pingasse alguma coisinha para os implacáveis cumpridores, é que pedidos de demissão já não sobem aos céus…

(Está na net uma lista oficial de caloteiros do Estado, o que prova que esse grupo social está bem representados nestas latitudes. E há outras listas de trânsfugas aos impostos. Nenhuma delas foi usada como contraponto, valha-lhe isso!)

Lição tirada, o primeiro-ministro não pode ser acusado de incoerência, quando o seu governo se terá oposto ao perdão parcial da dívida da Grécia, os caurins liquidam-se e mais nada. Além do mais, deu para entender que o somítico ministro alemão das finanças que é o ddt do euro – senão de todos os países da união, onde as eleições são cada vez mais para inglês ver -, o tal que tem cara de não perdoar uma e de ser mau como as cobras, estaria na mesma onda.

(A hipótese de pingar qualquer coisinha para estas longitudes era bem remota, ou nem foi posta.)

Passa assim o primeiro-ministro de recriminado a recriminador, pelo que se sente com forças renovadas e renomadas para continuar a ser pároco desta paróquia e regedor da mesma freguesia. Fica-lhe a matar a postura humilde de quem não ambiciona honras, mas antes a honra do país, do partido e dos negócios. Talvez consiga…

Como diz o outro que sabe latim: gravem est fidem fallere, ou seja, mau é faltar à palavra.

Age bem a águia que não perde tempo com moscas, ou minudências.

(Psst, por favor, deixem o primeiro-ministro em paz, não levantem muitas ondas, que os estrangeiros são danados para criarem anedotas sobre o Manel!)

 

19
Mar15

Quando voltas, quando voltas?

Jorge

(Considerações expendidas na tevê, por um senhor que é secretário de Estado, o que poucos sabiam – alguns mandantes laboram rijamente na clandestinidade -, na sequência da decisão do governo da nação de trazer de volta a casa uns quantos portugueses atraídos pela diáspora e que, por isso, deram asas à emigração, sem pieguices.)

. O país está a crescer.

Mas cuidado com a transgressão marítima que se diz próxima…

. A mobilidade é fator positivo.

 Nomeadamente para os países de chegada

. A mobilidade inclui o regresso.

E de novo a partida...

. Nunca houve políticas de apoio à saída.

É verdade, efetivamente este governo implementou políticas que favoreceram a saída, mas a contragosto…

. Eu também estudei no estrangeiro.

 Obrigado pela informação e fez bem; estudar aqui é menos rentável, não garante à partida um postozinho de destaque...

. Até agora não existia incentivos ao regresso.

 Um pacote deste jaez e assim publicitado nunca existiu, o que é pena,. Assim se confirma a aptidão deste governo para nos safar da cepa torta...

. Tem havido uma saída muito significativa de portugueses.

 Ora aí está, não vale estar sempre a tapar o Sol com uma peneira…

. O saldo migratório desequilibra, a partir de 2010.

De facto, em 2009, saem cerca de 17 mil portugueses e 24 mil em 2010. Só que, entre emigrantes definitivos e temporários, vão para a diáspora mais de 100 mil em 2011, outros tantos em 2012, idem em 2013 (dados oficiais)…

. Esta ideia é inédita e essencial nos tempos que correm.

As verbas dos fundos comunitários já não vão tão só para os destinatários do costume, cá dentro, agora emigram também?

. O país está a recuperar e todos são precisos.

Os governantes anseiam pelo perdão dos que foram obrigados a deixar o país. Tarefa hercúlea!…

. Nós temos de nos agarrar a isto, é essencial.

De facto, há fartos milhares de emigrantes (2,3 milhões?) e alguns (5) milhões, contando com os lusodescendentes. Davam cá um jeitão, cá dentro, (se não todos, pelos menos uma parte), se soubessem ser gratos…

. O fenómeno passa por aí.

 Por fazer regressar os mais qualificados, em habilitações e pilim, ao que parece…

. Este governo tem todas as condições para ser bem julgado.

Quem fala assim até pode gaguejar, que não deixa de ter graça, ou de ser engraçado…

 

 

13
Mar15

Coisas que nós fazemos (2)

Jorge

A equipa de futebol do clube A tem na equipa de futebol do clube B uma inimiga de estimação e vice-versa.

Antes dos jogos não faltam mind games e até mensagens descaradas, em entrevistas, de um e de outro lado. Para tal rivalidade não são debitadas razões históricas ou meramente duradouras, ora bem deu-lhes para aquilo recentemente.

Ponham-se a pau, só ganham por decreto régio! É mais ou menos isto que se houve antes dos enfrentamentos, de ambos os lados.

Começa o jogo e os atletas não regateiam esforços, dão o que têm e o que não têm, até são capazes de comer a relva e de dar no osso só para evitar a derrota.

Fosse o jogo a feijões e dava no mesmo! É mais ou menos isto que está no ar eletrizante.

Terminado o jogo, os porta-vozes do clube vencedor conclamam a justeza do resultado, a arbitragem limpinha, a excelência da execução técnica dos golos da sua equipa, o mau perder do adversário e a felicidade pelos pontos angariados.

Depois chegam-se aos microfones os perdedores e lá vem o rosário de queixas: jogámos o que pudemos que foi pouco, o adversário não deixou jogar, o juiz que meta a mão na consciência a ver se não lhe pesa, fomos esbulhados de pontos, os nossos atletas estão cheios de nódoas negras.

Só que o resultado está feito! A equipa do clube A teve mais bola, mais remates e até foi menos faltosa que a equipa B e tem sido sempre assim.

Na semana seguinte toda os associados e simpatizantes do clube vencedor xingam os homónimos do outro clube, nos locais de trabalho, nos cafés, nos ginásios, nos locais de culto e até na cama.

As praxes instituíram-se para serem cumpridas, responsavelmente, de preferência! O futebol institucionalizado sabe dar o seu contributo à morigeração dos costumes...

Hoje, os simpatizantes do clube B estão pior que estragados, fossem eles Cronos e poucos atletas da equipa do clube A escapariam à fúria homicida. Eles são acusados de jogar displicentemente contra a equipa do clube C, o rival mais direto na conquista do cetro nacional na modalidade.

Que tinham facilitado a vida ao adversário, abriram-lhes as pernas, nitidamente! Daí a cabazada, pouca bola, 1-2 remates à baliza, pouca entrega ao jogo e as linhas que não funcionaram nunca.

Um grupo de fogosos seguidores do clube B, deslocou-se à sede do clube A, a pedir explicações.

Saíram de rabo entre as pernas os fogosos exegetas, o preço das explicações subiu pra burro!

 

 

12
Mar15

Coisas que nós fazemos (1)

Jorge

Pino vivia no Norte profundo e amava visceralmente a sua terra. «Deixem-se lá de lérias e cantigas, pode lá haver pedaço de Terra melhor que este?!» Ali tinha tudo o que queria da vida: sossego, ar bom, verde com fartura, produtos da terra ainda melhores e muita gente boa. São e rijo que nem um pero - deo gratias - não tinha ninguém a seu cuidado, razão pela qual se habituara a uma existência de lobo solitário, casamento e descendência podiam aguardar.
E assim foi.
Pino gostava de confraternizar com os amigos, fosse por telemóvel, pela net, por telefone fixo e até por carta, coisa rara, nos tempos que correm. «Se houvesse mais gente a escrever cartas, as estações dos CTT não se assemelhariam cada vez mais a tabacarias, só não vendem tabaco» - comentava, às vezes.
Pino gostava muito de fazer amizades, de confraternizar com amigos, de visitar e ser visitado por amigos.
Lino tornou-se amigo de Pino. Lino vivia num arrabalde, quem lhe tirasse a proximidade de Lisboa tirava-lhe tudo, não dispensava concertos, teatro, cinema e sobretudo o cosmopolitismo entranhado naquela cidade. Era um tipo pacato, por isso talhado para a vida em cidades, fazia o seu trabalhinho o melhor que podia e sabia, sem grandes alardes.
Lino gostava muito de fazer amizades, de confraternizar com amigos, de visitar e ser visitado por amigos.
Foi hipocondríaco, mas rapidamente se curou disso, não tinha qualquer maleita. Depois sentia-se bem a viver e a conviver, não lhe faltava dinheiro para gastos, o que ajuda muito. Os projetos de vida podiam esperar, afinal a vida dura dois dias, adiar é preciso…
E assim foi.
Lino conheceu Pino, aquando de um jogo de futebol do clube de comum predileção, o qual militava na primeira divisão da terra. Não se conhecendo de lugar algum, ficaram lado-a-lado e fartaram-se de atirar piadas ao árbitro que não atinava com as apitadelas, aos jogadores forasteiros que só sabiam dar cacetada e até aos da casa que tinham o dever de fazer tudo perfeito, «não venham com desculpas que errar é humano, vocês treinam todos os dias a tática e as estratégias entre linhas, na vertical e na horizontal, portanto tinham obrigação de conseguir mais que um golo raquítico e bafejado de sorte!»
Lino e Pino ficaram amigos e passaram a visitar-se com frequência. Da última vez, Pino abandonou o apartamento de Lino à Lagardère, sem dizer- água-vai. Sem mais aquelas…
Muito estranhou Lino tal procedimento, e do amigo nunca haveria mais de receber mensagens, emeiles e cartas, apesar das suas múltiplas insistências. Por telefone, tentou chegar à fala: não era atendido, a chamada caía, ia parar à caixa de mensagens, ou estava desligado.
Entre ambos instilou-se um silêncio de chumbo.
Que poderia ter sido derrubado da vez em que estiveram próximos, no mesmo estádio em que se tinham conhecido, no mesmo sector, só que em filas diferentes e nem esboçaram uma aproximação, só um aparente reconhecimento de vista, triste, plúmbeo mesmo.
Só Laura, a vizinha do andar de acima de Lino, conhecia a causa do azedume inopinado. Tinha sido ela que vendera a ideia a Pino, que o seu amigo dizia cobras e lagartos dele, mal virava as costas, a caminho do norte.
Só no outono da vida, já com dificuldades de locomoção e de tino, Pino apuraria, através de uma prima afastada que era amiga de uma cunhada do ex-marido de Laura, que tais conversas entre Lino e Laura não haviam tido lugar, pura e simplesmente porque Lino nunca-mas-nunca passou cartão a Laura e vice-versa, as conversas entre ambos não passaram de «bom dia», «boa tarde» ou «boa noite», cumprimentos usuais entre pessoas que se dão ao respeito.
Pino então achou que não havia volta a dar-lhe, instalou-se de armas e bagagens em casa de Laura, crente que o arrependimento lava a culpa.

12
Mar15

Em Batatívia 13

Jorge


O senhor presidente de uma casa benfazeja originalmente comprometida com pobres doentes órfãos prisioneiros e artistas deu uma entrevista ao matutino i já vai com mais de um par de semanas.
O senhor presidente é taxativo o envelhecimento da população da santa terrinha é um problema.
Problema porquê? viver mais cá em baixo é glorioso o céu tido pela pátria da felicidade suprema pode esperar é que de lá de cima não chegam novas nem mandados atendendo a que caldos de galinha e cautelas nunca fizeram mal por-aí-além e a que nem toda a gente tem lugar garantido no paraíso qualquer pecadilho pode ser impedimento de lá penetrar ali não há cunhas boa ideia será tratar de consolo cá por baixo quem nos dera que já estivesse à venda nas farmácias o elixir da eterna juventude ninguém morria trabalhava-se sempre ou dispensava-se o labor de uma vez por todas ninguém ficava doente dispensava-se os gastos com saúde com previdência social acabavam-se as notícias sobre dares e tomares em urgências de hospitais para nada contariam as faltas de seringas de pastilhas de gazes de lençóis de camas de macas de estetoscópios e de paciência nunca mais seriam feitos cortes nas pensões e nos rendimentos a macro e a micro economia medrariam não seriam precisos lares de terceira ou quarta idade nem os velhos passariam a meninos todos seriam ditosos velho só os trapos a felicidade seria assim cá em baixo acabava-se o tal vale de lágrimas isto sou eu a conjeturar.
O senhor presidente entende que a questão do envelhecimento deveria fazer sentar à mesa várias entidades da santa terrinha.
As entidades são três em primeiro lugar a Saúde o ministério da saúde presume-se em segundo lugar a SS vulgo segurança social em terceiro as instituições da sociedade civil como a santa casa a sopa do Cardoso as ipss e até óenegês ligadas à caridade curiosamente a geração grisalha parte-interessada não é tida nem achada para os bate-papos o que até se perdoa há por aí muitos anciãos e muitas anciãs que se arrastam arrimados a andarilhos outros estão gagás de todo muitos estão a contas com x maleitas e achaques deixem-se lá ficar sossegadinhos vocês deram as melhores forças ao regime vão gerindo como podem os dinheirinhos e a casita caso contrário arranjem uma pessoa de confiança joguem às cartas e vejam televisão se vos contaram que noutras culturas se dá primazia e voto de qualidade na família aos seniores não se fiem anda por aí uma cambulhada de vigaristas a ludibriar os idosos e as idosa que é um disparate e um dó de alma isto já sou eu a elucubrar.
O senhor presidente da misericordiosa instituição é assertivo a natalidade da população da santa terrinha é um caso bicudo.
Bicudo porque pelo andar da carroça não haverá renovação de gerações a renovação da raça pode ficar em questão sim o caso apresenta-se bicudo e indecoroso mesmo as novas gerações estão-se nas tintas para porem em prática o elementar ditame meu caro Watson do crescei e multiplicai-vos ora não me consta que o pessoal tenha desaprendido de fazer bebés em tempo real por outro lado a malta sempre tem a safa de Paris donde se pode mandar vir criancinhas para alguma coisa se preservou as cegonhas portanto das duas ou a moral das tropas anda muito por baixo ou então o povo deu a volta ao anexim primeiro o dever depois o prazer optando por trocar a ordem das parcelas assim não vamos a lado nenhum pior que uma crise na economia é a debacle ou evanescência dos sãos preceitos morais instituídos ou revistos se este cenário não for corrigido a santa terrinha corre o risco de no curto médio e longo prazos não ter maralhal para pagar aos bancos que se apoderaram da dívida pública da santa terrinha palavra de honra que não se percebe por que razão a canzoada não para de crescer quanto mais se paga mais se deve nem a física quântica explica liminarmente isto sou eu a discorrer.
Valha-lhe isso o senhor presidente já deu o seu contributo para a renovação da sua etnia daí que será de esperar que os indivíduos da sua igualha lhe sigam as pisadas vamos a isso ó malta do taco com maiores capacidades de sedução mais farta capacidade de enamoramento e enlevamento não percam mais tempo façam e perfilhem mais rebentos era giro ter uma população maioritariamente constituída por descendentes das abastadas gentes nunca mais ninguém nos punha canga ninguém se lembraria de constituir aqui qualquer protetorado ninguém nos poria a exigir inclemências para os desgraçados de outras santas terrinhas já agora mais uma sugestão batizavam-nos a todos e assim contribuíam para a expansão da fé assim se dava um bigode ao resto do mundo a mostrar como se faz caiam na real vá lá não se cortem como nos impostos olhem que não há bem que sempre dure e mal que sempre acabe isto sou eu a especular.
O senhor presidente da munificente instituição é taxativo não é muito cool gabar o nosso primeiro mas ele nunca ficou pendurado.
Não ficou dependurado é verdade pura e sagrada reunião marcada é reunião consumada por certo muitas tiveram para combinar a devolução de hospitais intervencionados em tempos do prec para requerer a assinatura de cheques que permitam a aquisição de ecógrafos na hora sem concurso luxo a que se tem de furtar a governança para decidir da ampliação da rede da irmandade uma necessidade nos dias que correm como o é a água a luz e a net para trocar dois dedos de amena cavaqueira que o xerife anda sempre assoberbado com tanta minudência que até é um favor que apareça alguém numa pausa a tirá-lo de fastios o senhor até parece um grande ponto isto sou eu a matutar.
O senhor presidente da benfazeja instituição é perentório há na santa terrinha um nicho de esquerda folclórica e liberal.
Fala-se de nichos de esquerda política de várias tonalidades extrema caviar radical ortodoxa retrógrada só para citar alguns exemplos há também a esquerda alta e a baixa mas isso é dos palcos do teatro que não da vida evidentemente sinceramente poucos desconfiavam da existência duma esquerda folclórica foi um a revelação tem-se a ideia que a malta esquerdina prefere ópera jazz a música clássica rock progressivo baladas folk música de intervenção sabendo-se de fonte segura que bastantes ouvem às escondidas o senhor Demis Roussos da pop melada agora era a propensão desses indivíduos para a boa a música dos ranchos populares é um achado a convicção provavelmente beneficiou de um estudo recente que revelou que muita dessa malta fora dos tachos adora rancho um pitéu de trás da orelha no entanto agora a etiqueta do liberalismo estará a lançar algum confucionismo a malta folclórica é liberal ao estilo dos opositores parlamentares ao sor Salazar ao género da cartilha dos seguidores do sor dom Pedro e do senhor Mouzinho ou à moda do catecismo do senhor Adam Smith? uma vez ultrapassada a questão poderão surgir novos partidos plataformas e alianças para animar o mercado eleitoral e a população macambúzia da santa terrinha a ideia parece bem fisgada muito embora não pareça que o presidente da benta instituição vá entrar no baile não parece para aí voltado isto sou eu a magicar.
Last but not the least o senhor presidente da filantrópica instituição afirma (sem pestanejar e com acinte) que passa fome quem quer na santa terrinha.
Qualquer indígena em pleno uso dos seus dentinhos naturais artificiais completos ou escassos precisa de trincar várias vezes ao dia caso não tenha aderido à recusa sistémica em ingerir alimentos a uma greve de fome por exemplo ou infelizmente seja portador de doença limitante pode em qualquer altura acercar-se a uma delegação da magnânima instituição e apresentar o certificado de necessitado social presume-se que não bastará apresentar cara encovada tez estranha e ar contrito para logo sair dali saciado com a moral em cima haja apetite saúde e vida (a vida nem sempre é o que ambicionámos paciência) para lá voltar mais vezes é certo que a irmandade já apoia para cima de 150 mil pessoas mais uns quantos milhares não aquenta nem arrefenta noutros tempos o trabalho tinha o exclusivo da dignificação individual da traz à plebe (a uma minoria apreciadora da dignidade do trabalho dos outros só se vê realizada na posse de lotes do precioso e vil metal) mas os tempos mudam uma malga de sopa ou um prato de lentilhas devem ser tomados com muita dignidade os subsídios só atrapalham também não se percebe por que razão esta malta não vai para outro lado agora já não é difícil a adaptação antigamente sim quando os emigrantes eram piegas o senhor presidente da benquista instituição pode ainda não ter solução na ponta da língua para a natalidade e para o envelhecimento mas para a fome e a pobreza tem aparecem e desfaçam-se da pobreza envergonhada que é pecado venial e mortal isto sou eu a arriscar.
Por causa da pobreza envergonhada a instituição caritativa do senhor presidente conta entabular negociações com especialistas italianos peritos na erradicação dessa endemia supõe-se que eles saberão da poda estilo receber de mão beijada todos os dias de mão estendida de cara alegre e ânimo acrescido sem complexos sem rebuços e sem ser pela porta do cavalo às escâncaras sem dar azo ao diz-que-diz do escárnio e maldizer da santa terrinha em nome da cidadania ativa da coesão social e da paz social a que não é podre isto sou eu a discorrer.
Já fazia falta animar assim a malta ou nem sempre fará sentido que o mal dos outros seja meu gozo.

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