Conto de fados (V)
Um senhor bem-posto dá de caras com um bancocrata ressentido.
- Que se passa consigo, homem de Cristo?
- Sabe lá, acabam de me enxovalhar, lançaram-me impropérios sórdidos, anátemas que nem Cristo suportaria, na sua peregrinação terrena!
O senhor bem-posto confessa-se a leste da situação.
- Onde? Quando? Quem?
- Em frente a minha casa, há pouco, uns deserdados da fortuna!
O senhor bem-posto dá-se por atónito.
- Apelidaram-no de ratoneiro, amostriqueiro e larápio para cima, não foi?
- Nem mais, agora, não tenho cara para enfrentar a família, os meus pares, os meus colaboradores e os meus serviçais, uma desgraça nunca vem só!
O senhor bem-posto dá-se conta que o bancocrata chora baba e ranho.
- Tudo na vida tem solução, deixe lá!
- Perdi a confiança e perdi a face, nada feito!
Ato contínuo, o bancocrata põe-se num afã, em busca da face perdida. Debalde! Aí o casquilho, que seguira no seu encalço, aproveita para lhe visar o coração e dispara tiros certeiros que encontram o vácuo. Ao peralvilho ainda ocorre moer à pancada o bancocrata que estava a pedi-las, mas desiste a tempo, é acometido de súbito medo por almas penadas.
Pernas para que te quero!