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oitentaeoitosim

23
Out15

Diálogo de outono (10)

Jorge

Funcionário solícito para cliente frequente (de carro cheio):

-Aqui tem a sua fatura com o número de contribuinte.

Cliente frequente para funcionário solícito.

- Muito obrigado, José, ora deixa-me tirar a prova dos 9, é só um momento (gasta 2 minutos).

Funcionário que é solícito e sorridente para o cliente que é frequente:

- Olhe lá, já devia saber que a máquina faz tudo certinho…

Cliente que é frequente para funcionário que é solícito e sorridente:

- Nunca se sabe, José, as contas batem certo, mas podes ter metido a unha…

Funcionário muito solícito e ainda mais sorridente para cliente frequente e também sorridente:

- É tudo?

Cliente frequente e também sorridente para funcionário muito solícito e ainda mais contente:

- Agora, terás de me fazer o desconto disto (dispêndio de 1 minuto e picos).

O funcionário não se faz rogado e mantém a postura solícita e sorridente:

- Certo, ora deixe-me lá ver… Feito! Mais alguma coisa?

O cliente frequente não se faz rogado e mantém a postura sorridente:

- Vou levar aqui a mascote da casa que vocês oferecem a bom preço. Ora deixa-me lá ver onde pus os cupões de desconto (1 minuto)… A qui estão!

O funcionário afadigado mantém postura solícita e sorridente:

- Já trato disso, é só um minutinho (foram 3)!

Voz off:

- Ora, tanta demora, pelo amor à santa, tenho uma pessoa acamada em casa à minha espera e vocês aí a empatar feitos molengas!!!

Cliente frequente para a funcionária sorridente da caixa do lado:

- Ó Cecília, já me viste isto, eu a engonhar, só visto! Por acaso até levo pastéis, mas não sou pastel! Bem sabes que gosto de ser atendido com todos os matadores e por acaso até hoje não tenho tido motivos de queixa de nenhum de vocês! Portanto, não sei de que se queixa aquela senhora (foi a senhora que falou, não foi?).

A senhora visada enrubesce, logo confirma.

A funcionária solícita e já menos sorridente (arreganha a taxa):

- Aqui não temos caixas prioritárias, mas damos prioridade a idosos, grávidas e pessoas com deficiência; de momento não vejo ninguém nessas condições à minha frente. 

 Cliente frequente e menos sorridente para funcionária já menos solícita e sorridente:

- Sabes que mais, vocês deviam abrir um serviço de urgências como nos hospitais, mas com taxa moderadora, pá (ambos arreganham a taxa amareladamente)!

Segunda voz off vinda das profundezas de uma das 3 filas a perder de vista:

- Então, por-que-raio o patrão não emprega mais gente?!

(O funcionário solícito e a funcionária sorridente voltaram a alimentar a caixa registadora, macambúzios. O cliente frequente meteu o rabo entre pernas e foi à vida: por uma boa causa dava tudo, para conversa mole não contassem com ele...)

 

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- Está tudo vazio!

- Bem, pus-me a petiscar, enquanto aguardava na fila!

 

 

21
Out15

Diálogos de outono (9)

Jorge

- Eu sou o grande vencedor das eleições, ainda não me deste os parabéns.

- Ganhaste, para mal dos nossos pecados, mas perdeste votos e maioria absoluta, mas podes levar a taça, parabéns!

- Não te levo a mal a acrimónia...

- Nunca pensei perder, derrubei o meu antecessor e cri que seriam favas contadas!...

- Maus palpites toda a gente tem. Se souberes guardar um segredo aqui vai um: não sei que fazer com esta vitória.

- É simples, a seguir continuas no poleiro!

- O presidente disse o mesmo, mas não sei, não me apetece...

- Desculpa, concorreste coligado, ganharam, assumem o poder, tão simples quanto isto!

– Sim, em parte tens razão e até já fiz um acordo de governo com o meu compadre, já tenho a lista completa de quem quer ministrar, assessorar e coadjuvar, mas...

- Não há mas nem meio mas, diz lá quando será a tomada de posse, eu lá estarei...

– Esperar é virtude do forte.

– Não vás sem resposta, a fome e esperar fazem rabiar, cuidado! 

– Ainda estou indeciso e acho que te vou passar a bola a outro, a ti, por exemplo...

– Ensandeceste, por certo!

- Estou a falar a sério, tu estás melhor posicionado e capacitado para formar um governo maioritário...

- Brincamos, ou quê, o meu partido ficou em 2º lugar, o poder é teu, não me podes obrigar a ir contra a corrente ou contra a maré!..

- Ouve, eu sei que estás habituado a compartilhar com malta de partidos mais radicais.

– Isso é verdade, já lhes conheço as manhas! Mas, porque não tentas o mesmo?

– Ora bem sabes que não tenho estômago que a tanto resista! Podes compor uma maioria absoluta e um governo estável, com malta dos partidos que ficaram em 3º e 4º lugar e que vão à bola contigo, comigo não!

- Tenta, de início estranha-se, depois entranha-se...

– Passo, não sou capaz!...

– Vais passar pela vergonha de explicar aos teus votantes que tens mau perder.

– Cá me hei de amanhar, arranja-se uma escapatória, olha sou bem capaz de me demitir.

– O que aí vai!

– Tu e os teus aliados têm tudo para contentar a malta dos mercados com um pé às costas, é só deixar andar, verás que não custa nada!...  

– Modéstia à parte, acho-me capaz de ombrear contigo!

– Ora, assim é que é falar!

– Custa-me ver-te assim tão amarfanhado!

– Os santos não têm costas!

– Obrigado pela confiança, eu vou conseguir por ti!

(Este diálogo ocorreu naturalmente ou no dia de S. Nunca-À-Tarde, ou no dia em que caiu o Carmo e a Trindade, pouco tempo depois de eleições legislativas, do ano da graça de 2015.)

 

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15
Out15

Diálogos de outono (8)

Jorge

- Vocês dão prendas a árbitro, delegados e observadores, quando joga a equipa A e a equipa B!

-O nosso clube orgulha-se em receber bem as visitas, o que já se não pode dizer de todos os clubes...

- Vocês dão uma caixinha-brinde a cada árbitro, delegado e observador que tem lá dentro uma camisola retro e vouchers para um museu e para um restaurante onde se pode comer do bom e do melhor!

- Nunca de tal ouvi falar, bem sabes que não pactuamos com cortesias dúbias, o que já não se pode dizer de todas as coletividades...

 - Há um limite imposto pela UEFA para as atenções e cortesias a árbitros, 183 euros, que vocês não respeitam!

- Já agora, para meu esclarecimento cabal, esse montante aplica-se a cada brinde ou ao total acumulado, como é que vocês fazem?

- Naturalmente conta o total acumulado, brincamos ou quê?!

- Pois fica a saber que lá em casa nós seguimos essa recomendação nas atenções que fazemos por cortesia a pessoas VIP, o que já não se pode dizer de todas as agremiações...

- Deixe-se de lérias! Contas feitas, numa época, essas atenções podem atingir um quarto de milhão de euros, só para falar desta modalidade!

- As nossas contas são um livro aberto, da nossa contabilidade não consta nenhuma rubrica para prendinhas, seja no Natal, ou outra altura do ano, o que já não se pode dizer de todas as entidades desportivas...

- O regulamento da federação, por outro lado, proíbe e pune aliciamentos.

- Achamos muito bem, somos pela transparência total, sem retoques, sem artifícios e gostamos que os nossos adversários possam arvorar a mesma bandeira...

- Sabes que uma cortesia se paga com outra, com pontos, por exemplo!

- Por isso mesmo não estamos para aí voltados, somos pela verdade desportiva, os pontos que dão títulos conquistam-se dentro das 4 linhas, o que já não podemos dizer de toas as equipas...

- O MP, a PJ e a federação são 3 das entidades que já estão em campo!

- Sejam bem-vindas, para ficar tudo em pratos limpos, queremos uma clarificação total, o que não acontece com todos os emblemas...

- Eu vou testemunhar.

- E não se esqueças de levar o beneficiário que te deu essa caixa-brinde que dizes ser genuína...

- Isso é lá comigo e com o S. António!

- Quem brinca com fogo pode fazer xixi na cama...

- E eu cheio de medo, quantos são?! Venham muitos que para mim vêm de carrinho!

- Veja lá se o feitiço se volta contra o feiticeiro...

- Estarei cá para ver esse clube despromovido e irradiado da prática desportiva!

- Não se esqueça que quem cala apanha pedras...

 (Uma personagem que trabalhara para ambas as coletividades fez-se anunciar, no restaurante em que aqueles dois almoçavam à tripa forra - por conta do orçamento das coletividades que representavam-, a dar conta que as 2 coletividades tinham sido despromovidas à liga secundária de chinquilho; mais os árbitros, observadores e delegados estariam em greve selvagem por tempo indeterminado.)

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 (Ele está a tentar que se deem por vencidos.)

15
Out15

Em Batatívia (19)

Jorge

Todos os dias passo pelo jardim cá do sítio uma espécie de oásis que em boa hora o regedor fez questão de assentar no meio da argamassa dos carros e da poluição dá gozo cirandar por ali respirar ar um pouco menos poluído fazer algum exercício e até de provar da água do fontanário plantado ao centro daquele mini bosque incipiente de ervas arbustos e árvores que trazem um pouco de alegria à vista sim a vista também precisa de ser apaparicada que a beleza faz bem à saúde no jardim por exemplo não levo com os carros em cima o que é muito bonito como o respeitinho embora já se diga à boca pequena que está em andamento um abaixo-assinado dos mais modernos que são assinados por peticionários e visados que solicita a disponibilização de um pedacinho do jardim precisamente aquele fragmento com bancos e mesas onde os velhotes costumam jogar à bisca lambida e à vermelhinha quando calha e as velhotas se sentam a dizer mal da vida há muito que os comerciantes das redondezas pequenos e médios sobretudo reclamam dos poucos lugares de estacionamento e não há direito que a peste grisalha deite mão a regalias que não têm os potenciais clientes deles e até não está mal vista a petição que facilita a vida a toda a população seniores inclusive que também compram.

    Quem gosta muito de palmilhar o jardim é a Gertrudes uma mulheraça dona de casa assumida e bem informada que tem por caraterística marcante do seu caráter a capacidade de indagar sobre este e aquele sobre isto e mais aquilo não perde uma gosta de aproveitar as horas vagas a recolher dados de forma a manter-se atualizada na sequência aliás duma longa prática política e a uma não menos extensa práxis cultural da santa terrinha que estabelece que saber da vida alheia e às vezes ignorar o que vai por casa dá estatuto e frutos claro que Gertrudes tem orgulho em manter vivos usos e costumes de antepassados ilustres que se puseram a bilhardar feitos andarilhos por terras nunca visitadas por gente interesseira um dia alguém se interessou a sugerir à Gertrudes que procurasse uma ocupação mais sonante que não aquela apagada e vil tristeza de tomar conta de tachos e de trapos podia ter futuro garantido na espionagem industrial ou desportiva mesmso que não que se sentia realizada e a conversa morreu por ali ou não fosse ela azedar.

    Sabe-se de fonte segura que na semana passada Gertrudes evitou um triste desenlace como de costume tomava o pulso à situação ali para as bandas do jardim que esteve 12 anos à espera de ser construído eis senão quando lobriga pelo canto do olho direito a Ernestina toda aperaltada quietamente sentada num banco recatado do jardim pulgas me mordam se aqui não há gato e ato imediato assesta as vistas na Ernestina que às tantas se põe verde depois fica alagada em suores frios e aí a Gertrudes sopesa bem a situação e prevê um fanico com queda à frente e se a Ernestina caísse quase de certeza que havia de malhar com os ossos em cima de uns contentores metálicos de lixo postados ali mesmo ao lado vai daí Gertrudes corre a bom correr a tempo de amparar a Ernestina e de chamar o inem depois a Ernestina recompõe-se rapidamente a ambulância cai inadvertidamente num buraco e ela recupera a tempo de pedir que parassem que a deixassem sair por tudo o que mais de sagrado que tivessem nesta vida perante tanta aflição o pessoal médico e paramédico cede viviam na ignorância que o homem dela trabalhava no hospital mais próximo pior ainda era muito ciumoso e logo podia somar 2 com 2 que fazem 4 podia cheirar-lhe a passo falso da legítima companheira e estava montado o cenário para uma tragédia grega.

   O senhor João que é outro frequentador habitual do jardim queixava-se num dia destes da quantidade de plásticos garrafas sacos preservativos embalagens de comida etc. que jazem em maior abundância no jardim e por todo o lado enquanto passeava o seu cão sem trela à vista por uma espécie de atalho que é um autêntico depósito de presentes daqueles bichinhos de estimação dizia ele que a santa terrinha anda numa bagunça anda toda a gente preocupada em poupar que não resta tempo para outras coisa como cuidar melhor do ambiente então o lixo qualquer dia toma conta de nós aí a sua companheira de longa data a senhora Teodora igualmente reformada disse não vás sem resposta e põe-se a zurzir nos fumadores que abandonam montes de priscas se houvesse tantas beatas nas igrejas ou nos salões deus estaria mais contente se esses indivíduos gostam de fazer mal a si próprios que o façam estão no seu legítimo direito mas deitem as bias nos cinzeiros fica feio e deixa mal a santa terrinha perante quem nos visita e isto não é culpa do nosso primeiro mailos seus apóstolos tenham lá paciência tomara eles terem tempo e arte para sacar e nos deixarem nosso e na pele.

     Antontem dei comigo a reparar na falta de tinta nas marcações das ruas que vão dar ao jardim pelos vistos custa uma nota preta cada balde porque ela mal se vê depois pus-me a contar os buracos não sei bem porquê mas deu-me para aquilo olhem perdi-lhe a conta agora das 3 uma ou há falta de alfaias adequadas em tempo de crise poupa-se nas reparações pelo que alguns engenhos do estaleiro não passam sendo por vezes abatidas ao ativo segunda há falta de tinta de alcatrão ou de betumes ou lá que raio é na santa terrinha terceira as matérias-primas estão a preços incomportáveis e estava para ali meditabundo até já tinha eliminado as 2 primeiras hipóteses quando topei a Teresa uma amiga que é administrativa numa empresa que importa crude e exporta óleos para alegria do nosso primeiro e seus acólitos que me asseverou que ela também não percebe por que razão as estradas estão esfarrapadas segundo ela o crude está ao preço da uva mijona o que me deixou banzado e patati-patatá avançou com uma explicação profunda e eu para ali a fingir que percebia mas pesquei pouco da explicação dela.

   Diz a Teresa que os preços das coisas que fazem falta a todos os homens e a todas as mulheres da terra são apostos nas bolsas de valores quanto a estas há umas mais importantes que outras por exemplo as bolsas de valores da santa terrinha não valem um chavo comparada com a maioria das bolsas de valores dos States por isso estas fixam os preços das coisa em todo o lado sabe-se lá por que manigâncias financeiras ora os preços do crude nas bolsas dos Sates têm vindo por aí abaixo logo o preço do alcatrão dos betumes ou lá que raio é também vem igualmente por aí abaixo até já deveriam constar dos pacotes da caridadezinha não fosse a entronização da inflação que é uma coisa intocável sobretudo nos países à rasca que é para eles crescerem mais depressa ora se os preços do alcatrão dos betumes ou lá que raio é estão suportáveis então não é por aí que o gato vai às filhoses também não há faltas de operários tal o desemprego se calhar as tintas estão caras mas isso só explicava a faltas de marcações nas ruas que não os buracos.

   Ao Fernando que é um amigalhaço e peras já ouvi comentar que não é vergonha ser pobre mas pobre e desmazelado à vez envergonha pior ainda só um rico releixado que não é propriamente o caso da santa terrinha ele é dos que acha que a má apresentação e o desleixo promovem o turismo contrariando assim a postura da senhora Teodora salvo seja.

 

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Receio que seja tarde para limpar a secretária sem perturbar o delicado ecossistema) 

10
Out15

Em Batatívia (18)

Jorge

   O nosso primeiro tem ganho umas peladas na mona jovem e distinta a pontos de ver-se a careca em expansão por debaixo dos regressivos apêndices capilares consta que uma ou outra pelada se deve a números incómodos que têm visto a luz do dia há 2-3 semanas vi-lhe jeitos de se passar dos carretos por causa de estatísticas mas rapidamente retomou com decoro a postura de menino de coro que lhe fica a matar assim não espanta a caça mas a sério as peladas do nosso primeiro já parecem a dívida pública da santa terrinha estão numa de progressão aflitiva os mercados até têm sido simpáticos foram executadas manobras para pôr os juros mais baixos o que deixa impante o nosso primeiro anda contentinho da silva é ouvi-lo repetir até à exaustão que a santa terrinha está melhor desde que tomou conta do leme e até agora não tem faltado pão azeitonas e sardinhas sobre a mesa e contra isso batatas.

   O nosso primeiro disse na casa comum que graças às reformas encantatórias de sua lavra e da sua equipa nasceram na santa terrinha quase duas centenas de milhares de postos de trabalho nos últimos tempos e que a taxa de desemprego baixou a olhos vistos e já se situa num patamar inferior ao do início do mandato ininterrupto dele uma façanha digna de todos os encómios no estilo da grande proeza que se avizinha que será a de conseguir transformar a economia da santa terrinha numa das economias mais competitivas do orbe terráqueo em tempos outro salvador fez melhor como andar sobre a água sem truques converter a água em vinho fino mas o nosso primeiro já dá uns toques gago não é ele ou teria já arranjado solução para esse caso.

   Logo o líder da viradeira na casa comum que nunca será careca afirma com todos os dentes da boca e virado a todos os rumos da bússola que nos últimos quatro anos já foram cano abaixo quase quatro centenas de milhares de postos de trabalho graças às tramoias do nosso primeiro portanto basta fazer as contas todavia essa perdas serão reparadas quando os da sua cor se sentarem no poleiro mais a atual taxa de desemprego só diminuiu graças aos truques do ministro da lambreta do nosso primeiro que põe desempregados a frequentar uns cursos pagos pela fazenda pública e assim os retira da lista dos sem trabalho mais ainda muitos conterrâneos cavaram daqui-para-fora muitos outros já nem passam cartão às cartas chegadas do centro do emprego por isso as estatísticas estão maradas marteladas será bom não confundir a nuvem com Juno não nos enfiem o barrete nem os dedos pelos olhos dentro toda a gente vê que a vida está pelos olhos da cara e há muita gente a passar as passas do Algarve sem que se veja um mínimo de piedade por parte dos mandantes.

   Aí o maioral põe-se a fazer fosquinhas e afiança que o parlapié do líder da viradeira não passa de areia atirada aos olhos ele tem a consciência que deu o seu melhor o pessoal não anda de tanga no dia-a-dia só nas proximidades da praia que os códigos de boa conduta atual permitem ele sabe que a santa terrinha vai dar a volta por cima porque as exportações dispararam o investimento aumentou o crescimento também ora bolas não diga que não reconhece a capacidade da minha equipa de ajudar a dar a volta ao texto felizmente ainda bem que o povo é sereno ele compreende muito bem o seu papel e não se deixa alarmar qualquer pessoa de bom senso acha justo que quem mais arrisca mais petisca quem mais investe mais atenções merece por exemplo eu e a minha equipa merecíamos algum reconhecimento não acha? enchemos os cofres da fazenda nacional e nem uma palavra de reconhecimento e incentivo claro que daqui por meses estarão vazios porque os governantes anteriores da mesma laia do senhor se meteram em aventuras cujas faturas estamos a pagar e também é verdade que dinheiro parado é dinheiro perdido sabe como sou não ando nestas vidas para receber pancadinhas nas costas mas somos humanos e precisamos de miminhos para continuar a fazer o bem e não olhar a quem.

   Aí o líder da viradeira atira-se ao ar e entre altos brados dos solícitos acompanhantes assevera que o nosso primeiro e seus ministrantes com ou sem pasta com ou sem visibilidade pública tudo têm feito para preservar as benesses agregadas às elites de maior folguedo social e que souberam sempre canalizar para elas vantagens comparativas (que viva a oclocracia!) ou seja é mais do mesmo quem mais tem mais quer e mais lhe é dado quando se deveria dar um pedacinho mais a quem já só tem uma nica das atenções e das benesses sociais mas não os senhores transformaram os remediados e pobres em indigentes ou entregaram-nos nos braços da caridadezinha tudo isto foi feito com requintes de malvadez mais ainda impuseram cortes e depois cinicamente vieram a terreiro afirmar sem vergonha na cara que a maioria aceitou de bom grado de cara alegre fazer sacrifícios quando se sabe que o senhor mente com quantos dentes tem na boca só para ser agradável aos chefões da união aos banqueiros e aos donos da globalização que são almas gémeas de vocês.

   Não caiu bem aquilo ao nosso primeiro a réplica do chefe do reviralho quase ia aos arames quase deita chispas pelos olhos esteve vai-não-vai para partir para cima dele e esteve a segundos de chegar a vias de facto e fosse-o-que-deus-quisesse mas conteve-se a tempo ficou lívido branco como a cal mas limitou-se a acusar o adversário de demagogia populismo que ele é uma maria-da-fonte de trazer por casa bem despejou o saco e que ficasse a saber que queria a todos os desempregados aos emigrantes aos falidos e aos caídos como se fossem seus filhos mas que a timocracia tinha de continuar como se diz dos espetáculos que têm de ir em frente custe o que custar aconteça o que acontecer e no fim deu-se conta que tinha os olhos marejados de lágrimas até porque lhe tinham caídos 2 cabelos um em cada olho provenientes do alto da cabeça cabelos esses que já se sabe não são à prova de frio ou do sol.

   Aquela cena deu em direto em todas os média e foi mais fulminante que um direto aos queixos todos os comentadores sobretudo os que votavam no nosso primeiro foram unânimes em reconhecer que as próximas eleições eram favas contadas estavam no papo os números podem expressar meias-verdades ou mentirinhas piedosas agora nada nem ninguém consegue destronar uma comoção em direto mesmo que travestida de riso.

   PS – Este texto já estava «em obras», antes das eleições de 4-10-2015

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(Quase não dá para acreditar que, para viver com ela, andei 3 anos à guerra com o pai!)

 

09
Out15

Diálogos de outono (7)

Jorge

- Dê lá qualquer coisinha a um pobre.

- Ora aqui tem um pão alentejano.

- Muito obrigado e que Deus lhe pague!

- Ora essa, não custa nada dar a quem precisa!

- Dê lá qualquer coisinha a um pobre.

- Ora aqui tem um pão alentejano.

- Muito obrigado e que Deus lhe pague!

- Ora essa, não custa nada dar a quem precisa!

- Dê qualquer coisinha a um necessitado.

- Ora aqui tem um pacote de leite.

- Muito agradecido, sorte é o que mais lhe desejo!

- Homessa, faço-o com a melhor das boas-vontades!

- Dê lá qualquer coisinha a um pobre de um necessitado, pelas alminhas!

- Aqui tem um saco de maçãs.

- Muito obrigado, meu benfeitor, vai ver que não se arrepende de fazer o bem!

- De nada, temos de ser uns para os outros.

- Dê lá qualquer coisinha a um pobre de um necessitado que tem 4 filhos em casa!

- Aqui tem um saco de batatas.

- Que S. Bárbara a cumule das suas graças, minha benfeitora!

- Pardeus, é lei de Deus fazer o bem!

- Dê lá qualquer coisinha a um pobre de um necessitado que tem 4 filhos em casa sem nada para comer!

- Aqui tem 4 embalagens de iogurtes.

- Muito obrigado, Deus que tudo vê há de recompensá-lo como só Ele sabe!

- Ora essa, hoje está você, quem sabe se amanhã não serei eu a estar desse lado!

- Dê lá qualquer coisinha a um pobre de um necessitado que tem 4 filhos em casa sem nada para comer, há 2 dias!

- Ora aqui tem 4 pacotes de bolachas.

- Muito obrigado e que Deus o abençoe!

- Ora não fiz mais que o meu dever, a caridade bem entendida começa sempre por nós!

(Ao fim de algumas horas, quem assim pedia abalou até uma casa devoluta, habitação habitual sua e de outras 5 pessoas que com ele coabitavam. E havia um número significativo de pessoas nas redondezas, à espera de melhores dias, para breve...)

 

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 (Este é o nosso plano de reforma

 

 

07
Out15

Diálogos de outono (6)

Jorge

- Não está certo!

- O quê?

- Vocês jogaram no Campo de Baixo contra o Lampião FC.

- Sim, e depois?!

- Contra nós querem jogar no campo de Cima.

- Sim, e depois?!

- Exigimos condições iguais às que foram proporcionadas ao Lampião FC, no mínimo!

- Não te acompanho...

- Sabes ou não sabes que as condições do balneário, o estado da relva, a cor das cadeiras, a qualidade da água e a qualidade do ar diferem de estádio para estádio?!

-Sim, e depois?!

- Mais, que o fung-soi, a intensidade do vento, a insolação, a altitude podem interferir na performance dos atletas, piorando-a, por exemplo?!

- Parece-me duvidoso!

- É mais pura das verdades, pequenos detalhes de localização, de construção e até ambientais também podem interferir, no rendimento dos atletas, não se pode correr riscos!

-Tenho cá as minhas dúvidas!

- Os regulamentos do campeonato deveriam prevenir e/ou remediar situações de injustiça flagrante como esta!

- Estou à espera que digas que os regulamentos também deveriam impor o uso das mesmas chuteiras, dos mesmos calções, das mesmas camisolas, das mesmas braçadeiras?!

- E porque não?!

- Nós jogámos contra o Lampião FC no Campo de Baixo, por causa da receita a haver.

- Conversa da treta, por acaso sugeres que esses morcões garantem maior receita que nós, eu nem acredito no que estou a ouvir!

-Tiraste-me as palavras da boca!

- Ficas a saber que vamos protestar o jogo, seu cara de cu!!

- Cá te espero!

(A equipa do queixoso ganhou merecidamente o confronto, contrariamente ao que havia sucedido ao arqui-rival. Suspiraram de alívio as instâncias desportivas todas, do polo norte ao polo sul...)

 

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