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oitentaeoitosim

28
Dez15

Ou vi ou li (XI)

Jorge

    Em sede própria, na campanha eleitoral, o pessoal do poder executivo d’então dá o litro e sua camisola (de marca), a ver se garantia a reeleição, todos fazem pelo máximo, honra lhe seja feita! As promessas, de parcas, pouco se notam, que a sociedade civil não apreciou por-aí-além o sopitamento de promissões feitas para os 4 anos de mandato ora chegado ao fim.

    O pessoal do poder executivo d’então quer evitar o reviralho e tudo faz para arrebanhar a maioria dos votos das urnas. Os donos efetivos disto tudo apostam na sua continuidade, porque não estão dispostos a gastar mais saliva com mais missionação sobre as virtudes da austeridade e o seu contributo para a paz mundial.

    (A dialética do interesse pode mais que a da razão e da consciência.)

    Por isso, o pessoal do poder executivo d’então limita-se a acenar com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, ou então com mais do mesmo. No entanto, a muito custo e para disfarçar um certo mal-estar entre apaniguados para os quais não há eleitos sem promessas a rodo, faz uma concessão: promete que, em 2016 poderia haver lugar a uma devolução (situada na confluência doutras devoluções prioritárias) de 35% da sobretaxa de IRS de 2015.

(Presume-se que não seria possível fosse a quem fosse receber reembolso, sem embolso, mas nunca se sabe: a guerra às coletas já produziu muitos heróis.)

    Aí nasce uma pequena esperança nas hostes mais atingidas pela hecatombe tributária (contentam-se com pouco os humildes); de engenharias financeiras não percebem boi, mas sabem que por elas passam as estratégias de encobrimento e usurpação sistémica, às quais não conseguem eximir-se. Muitos chegam a admitir que a ideia seria bem acolhida e outros muitos até acreditaram que podia passar do papel à prática a dita devolução. Dava jeito, isso dava, na liquidação de despesas não previstas no orçamento, por exemplo.     (Por vezes a consciência salta o muro da indiferença!)

  Muitos dos presumíveis beneficiários puseram-se à tabela; outros conseguiram dormir mais regaladamente e outros mais passaram a ter pesadelos à noite. Vá-se lá perceber esta coisa da psicologia das massas!... De qualquer maneira, seriam sempre tostões haver, face aos dobrões confiscados, mas para quem vive do seu emprego, para comprar os comes-e-bebes, para comprar um carrito e sustentar uma família catita não leva a mal a ousadia do pessoal do poder executivo d’então.

    (Tivessem eles a ousadia de cumprir!)

    Não estão ainda medidos o peso e o alcance de tal promessa nas decisões tomadas pelos eleitores: certo é que o pessoal do poder executivo d’então ganha mesmo a compita nas urnas. Observadores bem estabelecidos não creem que tenha havido eleitores a deixar-se ir na cantiga, por um nico, sabendo de antemão que os prometedores já eram useiros e vezeiros em dar o dito por não dito, mas!...

    (A malta bem-apessoada manifesta algumas dificuldades de entendimento dos caprichos das massas.)

    Consumado o ato eleitoral, fica a calva à mostra: que não há papel suficiente para garantir a devolução de qualquer coisinha – por mínima que fosse - sobre a dita sobretaxa amarga de IRS.

    «Não estava na cara que esta gente não tem cara»? – esta tirada é muito escutada, nas ruas, nos escritórios, nas igrejas e salões.

     Mas, espera lá, pode ser que eles possam retirar divisas de uma rubrica para outra – o que não seria caso virgem - e a coisa compunha-se para os promitentes beneficiários.

     Pois, a esperança é a última a morrer que não nos tomem por lorpas!...

     Nada a fazer, o projeto filantrópico vai ao ar.

    (Às damas assenta bem o desdém, por isso honrar a palavra dada, pouco se lhes dá.)

    Já se prepara pessoal do poder executivo d’então para continuar a fazer das deles e das delas – como se prometer fosse um dom que lhe assiste -, quando, num golpe de asa, a concorrência o(a)s deixam a cramar na travessa do Fala Só. Estrebucham, mas são posto(a)s ao fresco, sem que a assistência faça grandes tenções de intervir em seu favor. Os poucos que se atrevem a assomar à janela ou clamar por eles na rua, com pundonor e com mostras de algum agastamento, são toscos, desajeitados e dão-se mal com a liturgia.

    (Quem pouco anda ao frio e à chuva, em pouco tempo faz um resfriado...)

   Andou cabisbaixo o pessoal do poder executivo d’então; foi vê-los de monco e braços caídos, obrigando-se fazer contas de cabeça e a derramar lágrimas de crocodilo, numa vã tentativa de perceber por que razão o céu fora tão cruento, ao ponto de os derribar assim...

    (Para que conste, saem de consciência tranquila os inadimplentes vendedores de promessas que, à boa imagem dos imortais,  se julgaram capazes de viver e sobreviver de votos, devotos e de ex-votos.)

    Outros aprestam-se a ocupar a preceito o cadeirão do pessoal do poder executivo d’então...

 Molho.jpg

Funcionária - Para nós o senhor não é apenas um número; também podemos usar letras e tracinhos com fartura. 

28
Dez15

Em Batatívia (21)

Jorge

 

Desconheço quantos depositantes tem o ultimo banco da santa terrinha que foi ao fundo vendido por tuta e meia são mais que as mães os que receberam bons conselhos no sentido de transferirem os depósitos para outra praça foi-lhes dito que o dito banco tinha um rabo maior que o assento com muitas gorduras por exemplo o banco deu-se ao luxo por de apoiar a construção civil que durantes esta celebrada crise se veio abaixo dos andaimes e ficou a arder porque os esquemas montados pelos patos bravos deram azo a que batessem asas e fugissem à responsabilização tenho para mim o banco lesado deveria seguir-lhes o rasto dessa maltesaria que andou a passar beiço a não ser que o banco e a sua gerência detenham interesses na cena ou se calhar as empresas em dívida tenham pedido e obtido perdão ou talvez tenham pago a despesa em géneros que sei eu só sei de fonte segura que alguns desses gabirus andam por aí impantes a pavonear-se mas alguma culpa há de ter a justiça da santa terrinha tida por trôpega em muitos quadrantes coitada pessoalmente eu estou convencido que o ultimo banco da santa terrinha que foi ao fundo deveria vender os calotes a empresas dispondo de hábeis homens de mão daqueles que são parcos em palavras mas bons em ações e que sabem aplicar um bom tabefe na ocasião mais azada só assim mas se não é legal esqueçam a legalidade é tudo para mim.

Mais ainda parece que esse banco se meteu em altas cavalarias fez empréstimos a-torto-e-a-direito um direito que lhe assiste naturalmente só que muito do pilim caiu em saco roto mas aqui chegados confesso que uma coisa me faz espécie se os donos e gestores do banco pressentiram que o negócio ia pró galheiro por que razão não arrumaram as botas? convocavam os clientes a comunicar uma coisa no género prontos a gente não consegue dar conta do recado venham cá ter levem o vosso dinheirinho de volta ponham noutro banco que os há aos pontapés ou botem o graveto lá no colchão que nós empenhamos a nossa palavra para com vocês e agora estamos empenhados até aos gorgomilos mas a honradez obriga isto sim era de mulher ou de homem se calhar até deram a conhecer aos acionistas nas reuniões magnas em que são produzidos aqueles relatórios e contas execráveis mas há muita maneira de matar moscas e o secretismo dos negócios ajuda os cabecilhas que não os colaboradores nenhum feito humano escapa  à realidade de um país dois sistemas um lado claro outro opaco uma moeda duas faces eu acho que vale a pena estar de pé atrás seja lá que isso for.

 O grande Shakespeare escreveu que em dez mil pessoas só aparece uma que seja honrada ele escreveu isto há uns anos valentes hoje-em-dia a coisa seria provavelmente diferente que da lista dos bons para pior e dela não constaria o nome de qualquer tartufo trafulha que presidisse aos destinos de bancos que vão a pique sem aviso prévio à tripulação e quase exigem ser tratados como indivíduos impolutos até prova em contrário agora verdade seja dita não gostava de ser o juiz de fora ou de dentro chamado a tomar decisões sobre os atos de tal gente deve ser complicado destrinçar o que é legítimo e o que é ilegítimo na atividade bancária mas se os donos e gestores dos bancos dão sumiço ou a volta aos dinheirinhos dos depositantes choça com eles eu bem sei que não é suposto que as sumidades da sociedade vão malhar com os ossos à prisa mas nestes casos que já se repetem como se fosse uma atividade desportiva da santa terrinha deveriam ficar espetados num calabouço como aconteceu com um antigo nosso primeiro e ainda acontece com um causídico ilustre que há anos se tenta livrar das pulgas de um presídio e até faz de sacristão mas nada continua fechado a 7 chaves agora sou eu a falar por que razão estes foram caçados e os banqueiros andam por aí à sombra de bananeiras palmeiras e coqueiros provavelmente aqueles 2 armaram-se ao pingarelho ou em lorpas ou não tinham amparo suficiente e bumba e é bem feito para não se armarem aos cágados ou em charros!

Mas o nosso primeiro que é caloiro entendeu dar uma mãozinha a quem geria o último banco da santa terrinha que foi ao fundo e que não encontrava uma saída para o tititi levantado normalmente é o contrário os aflitos chegam-se a um ex-ministro ou a um ministro no ativo ou a um senador ou a um ex-conselheiro ou conselheiro em exercício a quem sopram ao ouvido é pá tens de me ajudar a resolver isto não posso ficar nas lonas as nossas famílias vão ficar na merda os nossos filhos vão ter de desistir de escolas internacionais as nossas filhas já não vão casar com bons partidos tira-me desta alhada que sim que vão empenhar a sua palavra quanto a mim melhor fariam em recorrer a uma empresa legal de lobbying mas como ia dizendo o nosso primeiro que é um neófito chega-se às frente e apresenta uma solução ou resolução para o caso ele decidiu que a atividade do banco será vendida por x milhões ou seja dez réis de mel coado isto sou eu a dizer e as imparidades sobram para os contribuintes da santa terrinha que são todos os jovens adultos e velhos que não conseguem fugir aos impostos azar o deles e não se fala mais no assunto a não ser que sejam criadas comissões de inquérito onde as vedetas fazem perguntas de alta tecnicalidade e os implicados normalmente sofrem de amnésias parciais caso não se lembrem de apresentar um bom atestado médico mandado do sítio onde estão a bem com deus e com o dianho eu curto muito aquelas cenas por causa delas deixei de ver os programas de beijinhos estórias de cordel e música pimba dos canais da tevê que são muitose cumprem bem o seu papel de passar a palavra.

O nosso primeiro que é novato diz qua a sua decisão corta nas preocupações de trabalhadores e depositantes do último banco da santa terrinha que foi ao fundo por outro lado os inspetores da UE não abriram o bico mais o nosso primeiro que é maçarico mas sabe mais do que aprendeu terá agido na defesa das excelsas virtudes de toda a banca da santa terrinha num país de vícios privados e virtudes públicas ficam bem estes sentimentos cavalheirescos desde há muito que ninguém se propunha tomar tão a peito a defesa da castidade da banca contra a qual têm arremetido muitos atrevidos parece ser dado adquirido que se a virtude da banca da santa terrinha se estilhaçar a economia fica de pantanas as exportações sucumbem e a independência nacional fica com os dias contados postas as coisas nestes considerandos nada a opor agora digo eu se o banco fosse fechado às boas por iniciativa dos legítimos possuidores outro galo cantaria aí estaria a ser respeitadas as liberdades todas e o mercado estaria a funcionar sim os donos disto tudo são muito sensíveis à liberdade dos favorecidos mas o caminho seguido foi outro e até já se diz entre dentes que os trabalhadores e os depositantes vão levar por tabela tudo isto para grande gozo de cachaçudos que se fartam de rir da solução final encontrada e pulgas me mordam se alguns desses gaiteiros já não andaram por aí a unhar e a reinar com a gente durante muito tempo mas está escrito na cartilha dos direitos universais que somos obrigados a ser responsáveis uns pelos outros mesmo que o outro goste de se safar à conta de todos.

Dão muito conforto satisfação exemplos cabais de uma sociedade solidária como é o caso deste e esta é a prova provada que ninguém se pode ou deve coçar só com a sua e também dá para constatar que o nosso primeiro apesar de novo no seu posto tem estaleca e vai longe que venha o próximo banco pronto a cair de maduro que ele põe o povo mais à própria os contribuintes a tapar os buracos todos afinal ele não pretende desmerecer dos seus ilustres antecessores o que bem lhe fica lá dizia o outro que a santa terrinha já não dispensa por ser um must os génios bons as boas fadas os bancos por resgatar e os chicos espertos que se rebolam a rir das golpadas.

 

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