Comento 4 - Pábulo
Queda para a coisa pública
O Sr. PP (Paulo Portas, não de Partido Popular...) faz, fez e fará muitas coisas na vida. Como essa de ser ministro da nação, em 3 ocasiões distintas, um facto notável para quem quer que seja e sobretudo para quem milita e lidera um partido político que nunca obteve valores eleitorais de grande nomeada, mas que soube alcandorar-se a bordão do centrão. Por essa e por outras, já é dono de lugar definitivo na pequena e grande estória do país.
Qualificação específica
A passagem pelo jornalismo havia de ser marcante, foi a dar à estampa muita teoria e muita lábia que se converteu em figura militante (talvez mítica), no panorama político caseiro. De parangona capciosa em parangona capciosa, foi fazendo pela vida e pela carreira. Hoje-por-hoje recorre mais a soundbytes, uma estratégia mais adequada à circunstância tecnológica, que evoluir faz parte do jogo que é a vida. Aliás, pensa-se que ele próprio desconfia que a governação em Portugal muito deve à sua dedicada entrega e particular azougue.
(Ele é o criador de frases grandiloquentes, o inventor da propaganda em mercados e feiras e da «geringonça», termo aplicado, com a peculiar verrina, ao atual painel de governação.)
Querelante exímio
Useiro e vezeiro no uso de psitacismos, o Sr. PP não foge a cenas pícaras e até picarescas, para fazer valer um ponto de vista (parece que ele acha que se sai quase sempre a contento e em ombros) e não se arrepende. No uso da pesporrência em parlendas parlamentares em que é muito azougado, poucos lhe levam à palma (parece que assim se julga).
E nunca se dá por vencido, sai de cena, volta à cena, entra e sai quando lhe dá na bolha, sempre, como se estivesse a beber um copo de água.
(O Sr. PP que se ponha à tabela que há por aí um ex-criador de factos políticos, também especialista em cavalgar toda a sela, muito bem disposto e que lhe pode fazer sombra...)
Quezilento q.b.
Também lhe são reconhecidos episódios de contorcionismos e cambalhotas melindrosas, das quais da maioria ele acha que sempre se saiu a propósito. Aí, quando lhe falta o pé, sabe sair-se airosamente e com o maior dos à-vontades, a mimar a preceito o perfil de figura indispensável ao regime (parece é o seu) e prá frente é que é Lisboa!...Já foi (injustamente) confundido por um daqueles títeres sempre-em-pé por mais cachaporradas recebidas, nada fez para merecer semelhante comparação (pelo menos é esse o seu julgamento).
(Há quem teime em confundir a virtuosa persistência com obstinação pura e dura, que se ha de fazer...)
Quebrar antes que torcer
Atrevam-se os adversários a dizer dele cobras e lagartos que ele tem esse mérito de se estar nas tintas (bem feito!). Os votos que costuma arrecadar nunca foram suficientes para o guindar ao topo, mas não se lhe retire o mérito de o ter tentado a todo o transe. E nunca se sabe se não o vai conseguir – enquanto há vida, há esperança -, pelo menos de cada vez que vai às urnas põe nisso grande empenho e onde impera a vontade a possibilidade torna-se viável.Ou seja, desconhece-se se tocará guitarra, mas unhas tem-nas...
(Vejam lá se não se puseram todos a copiar-lhe os modos e as modinhas...)
Quebranto
Há dias, o Sr. PP reservou para si uma licença sabática e confessou estar rendido à com a iniciativa privada do jet set - que sempre soube defender com unhas e dentes -, onde vai cumprir, naturalmente de livre alvedrio e bom grado, 7 trabalhos em simultâneo. Comparado a isto, só o Sr. Héracles que cumpriu com sucesso 12 trabalhos, mas à vez e contrariado. Correr assim por gosto não cansa, mas aqui a necessidade também obriga, que a vida está difícil para todos, mesmo para quem conquistou boa vida, à custa de a subir a pulso.
(Estou a ver o Sr. PP com arcaboiço para o exercício diário de maior número de empregos, provavelmente não quis mais que 7, por ser sensível à magia do cardinal sete...)
Quiproquó
Desde o anúncio da imposição do cumprimento das 7 tarefas, os amigos do peito do Sr. PP têm andado compungidos face a uma tal exigência, temem que a sua saúde se ressinta de tanta canseira. Porém, essa imagem ele não passa, exibe uma invejável frescura física, intelectual e narcísica, que correr por gosto não cansa.
Ao invés, os inimigos de estimação do Sr. PP esses não perderam tempo a fazer-lhe reparos, que ainda não se tinha esgotado o período do nojo que teria de guardar após o cumprimento das suas últimas funções de ministro, que, no cumprimento das suas missões oficiais tinha andado ao colo com algumas das empresas ora contratantes e que, portanto, deveria ter vergonha na cara - nariz incluído - e remeter-se ao silêncio ou então entregar parte da maçaroca a associações de solidariedade.
Qualidade e quididade
O Sr. PP mandou às malvas esses quadrilheiros do contra, para ele está tudo claro como a água de uma nascente, ou mesmo do mar que, de resto, já tutelou (para seu próprio espanto). Eu não fiz, não aconteci, nem transgredi, (quando muito as restrições aplicam-se ao comum dos mortais), portanto, deixem-se de tretas e de conversa para boi dormir, caso contrário vão chatear o Camões que esse sim é um entendido em barões assinalados!... Mandou à tábua aqueles pretensos moralistas de trazer por casa e para pobre ver cá com uma pinta (está no seu legítimo direito) e fez-se à vida!...
(Uma soada prevê a montagem de uma vaga de fundo de saudosistas dos seus dizeres e afazeres - cientes que o exercício do poder vicia -, no sentido de trazer de volta o Sr. PP. E contam pedir-lhe que não torne a voltar costas ao seu povo, é que a prática das 7 virtudes plasmadas no catecismo - ou no bushido - não é incompatível com o mando, de modo algum...)
(«Num mundo progressivamente complexo, muitas vezes as velhas questões exigem novas respostas.»)