Diletantismo três
Como culpar o vento pela desordem deixada, se fui eu que deixei a janela aberta?
Autor desconhecido
O senhor está, desde há 5 anos, na presidência dum clube (e da respetiva SAD) que integra o tridente dominador do futebol cá do burgo.
Nesse espaço de tempo, adregou muitas taças em competições de n modalidades, outrora tidas por amadoras, cá dentro e lá fora. Mas, para mal de seus pecados, apenas juntou no museu da agremiação 3 títulos secundárias na modalidade-rainha, o futebol (bola), pelo que a seca de glória continuou, quando ele fizera questão de proclamar o fim das vacas magras.
Assim sendo, e para mal dos pecados do promitente senhor, começaram consócios, adeptos e simpatizantes insatisfeitos a apontar dedos acusatórios na sua direção, outros a querer fazer-lhe a ficha (afinal, quem se lembrou dele para ocupar o cargo?). Aí o senhor deu início a um complicado período de transferência de culpas para atletas, para staff técnico, para antagonistas, para dirigentes da bola (verdade seja dita, sempre se mantiveram impávidos e serenos!), para órgãos do Estado, para desconhecidos, para entidades sobrenaturais possivelmente malévolas e para o diabo a 4.
O senhor é comummente tido por habilidoso estratega em delinear cruzadas desportivas virtuosas (ele está sempre do lado do bem), em conseguir boas contratações de atletas para a miríade de modalidades suas, em fechar operações financeiras favoráveis à coletividade, ou por aí. Por isso, muitos sócios, adeptos e simpatizantes da coletividade o têm na conta de salvador da pátria.
Para mágoa do senhor, opositores há que apontam aos altos salários, bem como a outros valiosos emolumentos e a outras mordomias disfrutados pelo senhor, para tão fraca obra. Mas, sem provas objetivas, a maioria silenciosa (e não só) vai ficando do seu lado e tanto lhe basta!
O senhor é bem-parecido (tem confiado a definição de um perfil sedutor a quem percebe do assunto), a que junta uma voz cava, bem treinada e que lhe vai a matar com o jeito mordaz de enfrentar os importunos e conquistar prosélitos para a sua causa.
Opositores bem podem alcunhá-lo de mauricinho, de casquilho, ou mesmo de canastrão, é para o lado que dorme melhor, tem a maioria silenciosa (e não só) do seu lado e tanto lhe basta!
O senhor safa-se muito bem em debates na língua de Shakespeare (coisa rara entre os seus pares), para além de dominar a preceito o dialeto mátrio e pátrio, verdade seja dita que costuma impressionar, quando participa em simpósios, em conferências, debates, sessões de esclarecimento realizados à porta de casa, ou mesmo na AR (os seus congéneres têm mais pilim que paleio).
No entanto, opositores há que do senhor o que Mafoma não se atreveu a dizer do toucinho, outros consideram-no um narcisista primário, enquanto outros os batizam de mitómano chapado. E ele, nas tintas, desde que a maioria silenciosa (e não só) esteja do lado dele, tanto lhe basta!
O senhor será o detentor do recorde individual (nacional, pelo menos) do tempo e espaço atribuído nas tevês a convidados estranhos à política profissional e ao mundo das artes e das letras (numa das suas melhores atuações, debitou palavradura, por mais de 2 horas, sem parar). De resto, qualquer suspiro do senhor sujeita-se a ser dado em direto, ou em diferido (as redes sociais também o cumulam de atenções).
Os opositores não estão com meias medidas: ele é dono dum ego maior que o país, duma cupidez maior que o continente e duma lata maior que o mundo. E ele não lhes liga meia, a maioria silenciosa (e não só) não o dispensa e tanto lhe basta!
O senhor diz que ama o seu clube, até ao delíquio – como se fora sua família, vê-se pela cara! - e, a quem não lhe dá crédito, trata abaixo de cão, clama pelos seus nomes na praça pública, enquanto os recobre de opróbrio, chegando ao ponto de pedir aos circunstantes que o agarrem, ou vai aos fagotes dos pretensiosos contestantes.
Por conta disso, opositores há que o apelidam de abominável homem das neves, de monstro de Loch Ness e de homem do saco, entre outros (não cabem aqui os epítetos e palavrões soltados na Net). Ora, passem bem, a maioria silenciosa (e não só) está com ele, tanto lhe basta!
Mais, o senhor confessa trabalhar 24 sobre 24 horas, para o sucesso da agremiação que chefia e que quer continuar a liderar, dê por onde der («daqui não saio, daqui ninguém me tira»!), que a consagração está aí à mão de semear (para grande cortação dos detratores)!
Opositores estão noutra: ele deixou empresas em escombros, postou muita literatura daninha para os interesses do clube e não se cansa de fazer o mal e a caramunha, em desfavor do clube. Que vão bugiar, a maioria silenciosa (e não só) está com ele e chega!
De momento, a presidência do senhor estará por um fio, mas ele vai-se aguentado ao mastro, a desejar que os maus ventos (também os semeou) não tragam piratas a bordo, ou golfinhos esfomeados!
É que vinha mesmo a jeito um título supremo, na bola; agora só para o ano...
Sempre que eu saio vencedora duma discussão, ele organiza uma cruzada para desopilar.