Close-up 4
Traduzido por miúdos, os espetáculos tauromáquicos incluem as corridas de touros, as corridas mistas, as novilhadas, as novilhadas populares, as variedades taurinas, os festivais tauromáquicos e as corridas de toiros. Os espetáculos tauromáquicos, sobretudo as touradas, são protagonizadas por artistas (sic) cujas lides envolvem o recurso a garraios, bezerros, cavalos, potros, novilhos, vacas, mas sobretudo touros que se veem na necessidade de ir à luta, mesmo que para tanto se vejam compelidos a fazer figuras de urso, para gáudio de plateias embevecidas que esperam sempre o melhor desempenho possível dos intervenientes.
(Há bichos vocacionados para bestas de tiro, outros para bestas de roda, sendo que, quase todos acabam no prato dos humanos, pelo que muita gente os toma por bestas quadradas.)
Não vem com muito que os humanos foram alertados a manter os seres vivos irracionais nos ambientes em que melhor se sintam. Assim, e em desfavor de circos, aquários, jardins zoológicos e quejandos, têm vindo a ser criado(a)s áreas protegidas - parques nacionais, parques naturais paisagens, protegidas e monumentos naturais - ,sobretudo em países e recantos mais civilizados do globo terráqueo, assim ao estilo das velhas reservas.
(Proteger vale mais saúde e mais pilim.)
Na sequência, uma certa consciência social vem subindo de tom, sobretudo em países e recantos mais civilizados, a reclamar mudanças nos comportamentos e atitudes dos seres racionais, perante os animais irracionais, como o testemunham o surgimento de organismos, instituições, observatórios, fundações, movimentos e plataformas a pugnar pelos direitos dos animais, nomeadamente o pelo fim de comportamentos humanos torturantes.
(Quem dera a muitos que a carne animal estivesse a perder adeptos.)
De forma que, por aqui há, por exemplo, cada vez mais as vozes a erguer-se contra o sofrimento e o estresse cominados a bichos, nomeadamente os que são infligidos de livre alvedrio nos espetáculos tauromáquicos, sobretudo nas toiradas, que resistem à introdução de alterações paradigmáticas.
De facto, os espetáculos tauromáquicos, sobretudo as toiradas, estão a perder algum fôlego, pois já estão proibidos em algumas localidades, há arenas desativadas e as transmissões de tevê estão mais escassas, neste país civilizado. Contraditoriamente, em tempos recentes, tem aumentado a clientela atraída seja pela intrepidez dos artistas, seja pela garridice dos paramentos que são exibidos os artistas, seja pelos cerimoniais envolvidos, ou pelo sangue redentor de medos e fantasmas que rola na arena, ou ainda pelo patuá da malta do milieu, assim a modos dum direitês, de requinte e distinção.
(Sabendo da sua atração pelo esotérico, desconfia-se que, neste pormenor, os turistas deem força a estes números.)
Segundo versão mais recente, posta a circular pela nata da consciência social, os espetáculos tauromáquicos, sobretudo as touradas, investem contra a civilização (ocidental), hipótese essa ainda não comprovada e imediatamente contraditada, em alta grita, pelos aficionados, com argumentos culturais: a tourada faz parte dos usos e costumes cá da malta, desde tempos imemoriais e sempre resistiu a qualquer tentativa ao seu banimento, mesmo que provenientes da clerezia, ora vai-te lá curar!
(Em que pé está a propositura da elevação da tourada a património da humanidade?).
Recentemente foi tida por peregrina proposta de aplicar taxa máxima de IVA aos bilhetes de acesso a touradas, ao-fim-e-ao-cabo uma espécie de pilhéria: segundo entendidos na matéria, muitos dos bilhetes de acesso aos espetáculos tauromáquicos, sobretudo às touradas, são tradicionalmente distribuídos, a fundo perdido, pelas entidades oficiais supervisoras e não estão previstas alterações a este processamento, no curto, médio, ou longo prazos.
Não se afigura ser esta a altura azada para mudanças no nível e na qualidade de vida de artistas, apoderados e donos de curros, ganadarias e latifúndios; descansem os corações mais apaixonados pelas faenas e correlativos que ainda não é desta que a tauromaquia cederá o passo, apesar da contestação da nata da consciência social. Queriam a tauromaquia a gerir negócios de animaizinhos de estimação (por acaso um ramo em franca expansão em recantos e países tidos por mais civilizados), queriam? Nunca se sabe as voltas que o mundo dá, embora convenha lembrar que maldades aplicadas a canitos e bichanos estejam a ser punidas com severidade, pela Justiça.
Portanto, aos espetáculos tauromáquicos, sobretudo as touradas, para já, está garantido que não vão parar, em breve, aos museus, estâncias que estarão disponibilizadas a albergar a pobreza, nas palavras do pai do microcrédito, o que implicará a alterações na estrutura e na conjuntura do mesmo, restando, assim, pouca disponibilidade para outras operações de cosmética, no imediato.
(A propósito, para quando a contestação à música pimba, aos programas pimbas de tevê, ao folclorismo, etc...)
Um cavalheiro empertigado dizia, há dias, sobre uma oclusão dos espetáculos tauromáquicos, sobretudo as toiradas: «Mais depressa acaba a fome no mundo»! Tal inferência traz preocupada a nata da consciência social, muito interessada em manter/melhorar a posição destacada deste recanto no ranking dos países civilizados, bem poderia incentivar a denúncia do encaminhamento, par o sector, de lautas maquias, sob forma de subsídios (o período das exibições só ocupa metade do ano, será por isso?).
Por certo estarão programadas novas confrontações verbais entre opositores (em tom delicodoce e voz contida) e aficionados (em tom enxofrado e voz poderosa) dos espetáculos tauromáquicos, sobretudo das touradas. Até lá, que haja paz – o mundo civilizado convive bem com a guerra - e acabe mesmo a fome no mundo!
(Os contrincantes, na questão se um país pequeno e com garantias de civilização dadas, deve ter exploração de petróleo perto das suas praias, puseram-se de acordo, em menos de um fósforo.).
Mãe, puseram-me numa arena circular e está para ali um fulano a mostrar-me um pano vermelho. Que faço?