Craques 1 e 2
1 – O mandante-sombra andou numa roda-viva, de seca para meca. Ora surgia no centro de festividades da seleção, augurando grandes gestas e grandes festas, assim que a taça desembarcasse no terminal vipe do aeródromo dos lançamentos especiais. Comprovadamente o orgulho nacional precisava de massagens, pois periclitava na corda bamba, empurrado que fora para o báratro, pelo potentado teutónico, a mando dos barão de Cifrões. Aquela equipa fora ungida para aplacar as iras do deus Pluto, pelos oráculos de Delfos e da tia Maria, uma bruxona encartada em Montalegre. Golo certeiro, orgulho inteiro, foi refrão para corações e bandeiras impantes e impactantes. Pôs-se numa fona o vizir, do palacete reinadio, para as cerimónias oficiais, daqui para o campo de treinos e para os colaus. Na antevéspera da partida para o campo de batalhas, gastou a saliva toda a produzir adjetivos, tal o afã posto na procura de epítetos para os guerreiros da távola retangular. Chamou-lhes de tudo, de heróis para cima. No dia seguinte já pisava o palco dos recontros, onde arremeteu contra os incréus detratores. Se nos jogos aplaudia, pulava e suava dos sovacos, no intervalo das vitórias dava o bacalhau, a torto e a direito. Um dia a seleção cai de pé e foi recambiada, rabinho entre as pernas e monco caído. Fez das tripas um coração destroçado, engoliu em seco saliva amarga e regressa à terra de foguetão, a tempo de receber os descoroçoados representantes, por procuração e proclamação populares. Abraçado aos heróis, puseram-se a chorar baba e ranho, pelo dia fora e noite dentro. Sentiu a falta dos braços de Morfeu, agarrado ao qual dormiu durante 2 dias e 2 noites, de estores corridos, pelo que falhou a chegada do apitador da única jogatina falhada pelos craques do povo. A bem da verdade o ajuizador apitou fora com tino, de cabo, a rabo, todos os recontros que lhe couberam na rifa, o que raras vezes sucedia dentro. Lamuriou-se que o mandante não lhe dedicasse um bocadinho do seu tempo, para o premiar, com um chupa-chupa, nada mais, ou uma festinha no toutiço. Quando desacordou, posto a par das lamúrias do silvador, o mandante não apreciou o tom de chafarica do brilhantinas. Que ninguém se preste a colher despojos, quando a pátria se consome em dores! Caiu bem e de pé, teve direito a 3 rabos e 4 orelhas e foi passeado em ombros na avenida da frivolidade.
2 - O clube enlaça um craque de um subcontinente, transferência a custo zero, viagem a preço de promoção, em classe executiva, roupa de marca e comidinha do bom e do melhor, enquanto durar o contrato. Metade do stafe da ilustre instituição acode ao aeródromo. Aguardam com paciência de padre eterno, esfregam as mãos contentes, querem agarrar a oportunidade; não há falta de ânimo, o tempo é que anda leviano. Sonham com aviões superlotados, com passageiros na disputa dos lugares disponíveis, a golpes de gatka, desvios de rotas e ameaças de invasão do espaço aéreo. Veem hotéis atulhados, praças públicas atestadas, restaurantes com clientes de fartura e feiras populares a deitar pelas costuras. A comenda virá por acréscimo, por inestimáveis serviços prestados, ao clube, ao bairro, à freguesia, ao concelho, ao distrito e à pátria. Recebido com beijinhos e atenções mil, o ás aterra num avião a meio gaz, mau prenúncio. Ali mesmo diz que veio para um grande clube, aquele o seu sonho desde pequenino, haveria de sobraçar um ror de troféus, embora se prestasse a ser apenas mais um do grupo de trabalho a tentar cumprir os objetivos. Ao cerimonial circense-pirotécnico da apresentação, segue-se o pré-estágio. Não é captado, nas redondezas, pelas potentes lentes dos binóculos infravermelhos dos dirigentes diligentes, qualquer conterrâneo do craque. Vem o estágio na estranja, que no terrunho os centros estavam todos tomados por clubes da estranja e o homem brilha a grande altura. Da pátria dele nem novas, nem mandados. É um artista consumado, driblador emérito, de grande poder de elevação, de voraz capacidade de ler o jogo na vertical e na diagonal e marca golões, na pré época. Prossegue a ausência de voos charter da pátria dele, nem comboios fretados, nenhum autocarro de excursão, ou caravanas de bicicletas, de patins em linha, seja o que seja. Começa a época regular e o artista arrasa os adversários e os corações, tamanho o talento, tamanhas as vezes que resolve, tamanhos os adversários que lhe caem em cima, quando pega no esférico. A inquietação apossa-se dos contratantes, à falta de fãs da terra dele. O jogador leva a equipa ao primeiro lugar da liga, torna-se no maior produtor de cuecas, marca golos de todos os ângulos e modos, nunca é substituído ou sequer admoestado. Os patrícios continuam arredios, nem vivalma, os cofres à míngua e a comenda entregue às miragens áridas. No dia da afirmação dos povos indígenas, uma data reconhecida pela organização das nações não filiadas na ONU, o campeão integra uma embaixada da nação colombina. Fez-se luz!