Florilégios - Pérolas (mais ou menos fidedignas), à pala do OE 2013, com comentários
1º cônsul
. Não se pode inventar um contexto internacional mirífico (mas há povos miríficos…);
. Não nos interessa fugas para a frente (para os lados, ou para trás, ainda vá que não vá!)
. Um governo responsável não embarca em aventuras (a passagem da dívida pública de 90 e tal do PIB para 117% ou coisa que o valha é exceção);
. A solução dos problemas não passa pelo abandono da União e do euro, a maioria não quer (não sai quem quer, só se houver alguém a empurrar, como no sumo…)
. O OE 2013 pede imensos sacrifícios (os melhores povos, por vezes, são masoquistas, força!)
Falou em maturidades mais longas (a) e nas grandes performances das finanças domésticas (b), sendo que a e b se destinam a impressionar impróvidos.
. É preciso pensar na reforma estrutural do Estado, na refundação do programa de ajustamento. O Estado que temos é o melhor? Não! (refundição soaria melhor e não era tão ofensivo para Afonso Henriques);
. Vamos combater a evasão fiscal (neste século?)
. Nenhum membro do governo é insensível às dificuldades (são muitas as lágrimas de crocodilo vertidas diariamente nos gabinetes ministeriais, consta);
. Queremos solidariedade dos países europeus, mas temos de arrumar a nossa casa antes (arrumar o quê, vassouras, baldes, mochos, panos, sapatos? Para tanto basta uma arrecadação…)
1º tribuno
. O senhor (1º cônsul) falhou em toda a linha (mas deu o seu melhor);
. O senhor e o seu governo seguem por um caminho sem futuro para todos nós (então a solução passa por reparações nos caminhos, no governo, ou no país, verdade?)
. Não conte com uma revisão constitucional que derrube o Estado Social (há «n» maneiras de matar moscas)
2º tribuno
. O país está em crise, por causa da bancada do lado (afinal, os responsáveis estão identificados e não se põem a ferros?)
. O despesismo é pai da austeridade (a facilidade de acesso ao crédito, ou os subsídios a fundo perdido, qual deles terá sido a mãe?)
. As medidas que propomos, para contornar as presentes dificuldades baseiam-se na equidade e na justiça social (e no amor ao próximo e na promoção da paz no mundo).
3º tribuno
. A popularidade em política é efémera (é lindo, quando a alma lhes trasborda!)
4º tribuno
. Esta proposta de OE é uma afronta a quem vive do trabalho (será o trabalho uma afronta?);
. O seu governo (1º cônsul) prossegue uma política de terra queimada (já tinha cheirado a isso, a guerra; os capitães limitam-se a obedecer às ordens…)
. Qual reavaliação, qual carapuça! (este nível de linguagem só pode vir de alguém de fora do arco da governabilidade).
5º tribuno
. O senhor veio despachar o OE 2013, não discuti-lo (é apenas suspeita, ou, na 4ª à tarde, não vai haver prolongamento da discussão?)
. A Banca financia-se a juros de 0,75% junto do BCE e compra dívida pública da gente a juros altíssimos (os amigos são para as ocasiões);
. O governo tem um plano B e já negoceia um 2º resgate (premonição e divinação ficam bem a quem o poder detém; já fervilham boatos sobre os futuros planos C e D e os 3º e 4º resgates!)
6º tribuno
. O melhor povo do mundo merecia um melhor OE 2013 (não se pode ter tudo);
. O aumento do IVA na restauração trouxe mais desemprego, mais encerramentos e menos cobrança de impostos (e preços mais altos para os clientes, já agora!);
. Reformados roubados, desempregados e doentes vão contribuir para o reajustamento da Banca (mas ficam com lugar marcada no céu, não vão ter que passar pelo buraco de uma agulha qualquer).
1º cônsul
. Nós estamos a cumprir com o plano de reajustamento, tal qual foi assinado pelo seu partido, senhor chefe da oposição, (ora venha lá o primeiro que me diga que «quem conta um conto acrescenta um ponto»…)
. A reforma do Estado é necessária e espero que o senhor se junte a nós (o menino dança?)
. Não é verdade que seja minha preocupação primeira salvar a Banca, mas há um Fundo que só pode ser usado pelos bancos, por determinação de quem de direito (que sorte a da Banca, ela pode dar-se ao luxo de ver preservados os seus direitos adquiridos!)
1º tribuno
. Os cidadãos cumpriram com a sua parte, o senhor não, a sua receita falhou (pois, pois, bem me pareceu que a receita falava em lume brando, não lume máximo);
. É preciso dar prioridade ao investimento (não seria melhor pôr cobro, em primeiro lugar às práticas de branqueamento?);
. Este governo não tem solução possível, nós saberemos assumir as nossas responsabilidades (ó senhor doutor, parece que eles não querem sair, só daqui a 2 anos e picos…)
7º tribuno
. A troika sempre fez avaliações positivas (observações destas elevam a autoestima dum povo, mesmo o melhor do mundo!)
. Este orçamento é amigo das empresas e do euro (e do ambiente e da onça também).
8º tribuno
. O Estado fica melhor servido com o ensino privado (ao estado que o ensino público chegou!).
9º tribuno
. Este é o OE do caos (a teoria do mesmo nome atualmente merece muito respeito da comunidade científica);
. As previsões da recessão e da inflação para o próximo ano não batem certo (ora bate, bate cantava o grilinho no seu buraquinho, cri, cri!)
10º tribuno
. O Estado não está gordo, a dívida sim (não vale fazer remoques a uma dama de tão provecta idade…).
. O senhor não tem legitimidade para dar cabo do Estado Social (tem para o reduzir à expressão mais simples, ou não?)
1ª tribuna
. Refundação não, o que o senhor (1º cônsul) deseja é a liquidação (pelo caminho que isto leva, o pessoal fica refundido de todo!)
1º cônsul
. O governo não quer um 2º resgate (para quem não quer há muito);
. Ó senhor (10º tribuno), então as dívidas não derivam das despesas? (correligionários riem a bandeiras despregadas, o que faz prova provada que nem sempre muito riso seja indicativo de pouco siso);
. Se não pagar, o país desce a um estatuto de menoridade (ele já é tão pequenino!)
. A escola pública pode fazer melhor (querem ver que o homem se prepara para acabar com os conselhos gerais, com a avaliação docente indecente, com as turmas de 28 alunos, com os mega agrupamentos, com as intromissões abusivas, com o desemprego?!…)
. Se for preciso acorrer as despesas não previstas, vou recorrer a medidas suplementares (fica-lhe bem a coerência, Catilina!)
11º tribuno
. Era desejável que o fundo de recapitalização dos bancos tivesse outros usos (alto aí, cada galo no seu poleiro!…)
12º tribuno
Xingou que se fartou a bancada do lado (mas pediu batatinhas).
. Não está prevista a criação de um banco de investimento? (Um apenas?)
13º tribuno
. Este governo só trouxe fome e miséria (mas é praticante sério das obras de caridade, assim salva-se!)
. A greve geral vos mostrará como têm andado errados (desta feita será por tempo indeterminado?).
2ª tribuna
. O senhor (1º cônsul) não gerou o problema, piorou-o (pra melhor está bem, está bem, pra pior já bastava assim…)
. O senhor (idem) não tem pinga de vergonha (tem cá uma lata!).
14º tribuno
. O país está a ficar com uma dívida à italiana, um desemprego à espanhola e uma crise social à grega (a ideia é um dia viver à grande e à francesa, ou à alemã).
15º tribuno
. O Este governo é reconhecido na Europa (assim podem fugir-lhe, quando está por perto).
16º tribuno
. Agora o governo fala por fábulas, como a do carro usado e a do maratonista (esqueceu-se a da cigarra e da formiga);
. Vai o governo devolver fundos do QREN? (que remédio, se Bruxelas e Berlim exigirem de volta o vil metal!)
. O IVA de caixa é uma fraude, porque foram redefinidas as «pequenas empresas» (isto serve para protelar a entrega do IVA para as calendas gregas?)
1º cônsul
. O senhor (11º tribuno) está equivocado, não posso desviar as verbas do fundo dos bancos, não mo deixam fazer (na melhor das hipóteses batem-me, na pior abatem-me!)
. A demagogia tem limites (desde quando o mundo é mundo, ela é inesgotável…)
. O governo não fugirá às suas responsabilidades (mas, quais responsabilidades, a culpa não é toda da bancada do lado?)
. Temos credibilidade na Europa (não será antes cadastro?);
. Vamos pedir sacrifícios, mas é para bem de todos (já viram que vamos gastar menos tempo a comer, a ir às compras, ao cinema, é só poupança e nela está o ganho!)
Há aqui um lapso quanto a uma intervenção de fundo do 1º tribuno que parece ter declarado, entre outras coisas, que o 1º cônsul costuma entrar mudo e sair calado nas reuniões por essa Europa fora, o que provocou um mal-entendido com a defesa da honra do 1º cônsul.
3º tribuno
. O sufoco social é culpa da bancada aqui do lado, que está sempre do lado do problema (a culpa continua a morrer solteira, chamem a polícia);
. Este OE tem sensibilidade social (ora bem, se não a tivesse haveria muita mais famílias insolventes, não é verdade?)
. Vamos cumprir a nossa missão (nem os kamikazes eram tão pintados!)
17º tribuno
. Os senhores (do governo) estão sempre a dizer mal da bancada do lado, mas viabilizaram os orçamentos dela (quando se trata de defender interesses de classe, não há abébias!)
18º tribuno
. Felicito-o (3º tribuno), mas na especialidade pode haver alterações, não é verdade? (lá fora a chuva cai novamente sobre um chão já empapado).
19º tribuno
. Gostava de ser esclarecido quanto ao contributo do montante da taxação do património e dos aforros, posto que os trabalhadores vão ter que arcar com a totalidade da importância a ser cobrada em 2013 (o homem é chato, é zero, claro…).
2º cônsul
. Queremos construir um país com igualdade de oportunidades, numa sociedade aberta e coesa (para uns os condomínios fechados, para outros a penitência aberta);
. O país está numa encruzilhada (atenção aos pactos com o diabo, é nas encruzilhadas que se fazem!)
. A recuperação no emprego chegará em 2014 (de promessas está o inferno cheio, não é?)
. Queremos que este país seja um caso de sucesso (querem ver que as Novas Oportunidades estão de volta?!)
Vieram 2 tribunos, de sangue na guelra e desancaram o 2º cônsul, um deles apelidou-o de salazarento. Apiedado veio um outro, do mesmo lado da barricada, disse ser o 2º cônsul o maior, afirmação que deixou o visado nas nuvens, tendo baixado à terra minutos depois.
9º tribuno
. O senhor (2º cônsul) leu um manifesto contra o 25/4 e a constituição (a reação não passará!)
20º tribuno
Falou, falou, galanteios para a direita e para o centro e também pediu qualquer alteracãozinha para o OE 2013, na especialidade (é sempre mais do mesmo com estes ajudantes).
2º cônsul
. A utilização do termo «salazarento» parece-me insultuosa (ora vejam a virgem ofendida!)
. 1976 foi o ano da aprovação da primeira constituição; de 1974 a 1976 houve totalitarismo (afinal ele gosta de cassetes, não de casse-têtes).
21º tribuno
. Mantenho o termo salazarento que usei (é de homem!)
Uma terceira tribuna – recentemente chamada à ribalta - bateu forte fortemente, mas ainda como quem não sabe bater, sem deixar mossa aparente no 2º cônsul e no OE 2013. Seguiram-se outros tribunos, alguns repetentes, do pró e do contra. O entronizado 2º cônsul passou ao lado dos reparos, eriçou as penas, compôs trinos e gorjeios crocitantes e foram todos às suas vidas.
Na manhã seguinte, perante muitos lugares vazios, houve mais do mesmo ritual.
22º tribuno
. A bancada aqui do lado, faz-me lembrar aquele dito juvenil: «para evitar a ressaca que se continue a beber» (este rapaz parece falar com conhecimento de causa…)
23º tribuno
. O atual governo quer diminuir a pobreza (os trabalhos estavam chatos, era preciso pôr a malta a desopilar o fígado);
24º tribuno
. A coligação sofre de má-fé ou de esquizofrenia política, querem-nos a negociar, mas depois agridem-nos verbalmente (vocês têm é inveja do conforto dos nossos novos popós, tomem!)
25º tribuno
. O senhor (24º tribuno) é um deputado a fingir, num parlamento sério (o homem disse isto sem se desmanchar a rir).
24º tribuno
. Os senhores usam o tempo como vazio (tempos houve em que se afirmava que a natureza tinha horror ao vácuo, mas não há verdades imorredoiras, pelos vistos).
26º tribuno
. Um estadista não foge ao passado (com o olhar, tenta-se lobrigar um estadista nos passos perdidos).
3º cônsul
Falou estremunhado e com ar de enfado das mil e uma maravilhas do seu magistério.O seu ego arrasta a própria sombra.
. O governo não esquece os que constroem a sociedade (e parece que se referia aos trabalhadores);
. Tivemos que negociar com os credores (então o chefe recusa-se a fazer o mesmo com os credores do país, este negoceia com os dele e não é corrido?).
4ª tribuna
. As pessoas não contam, o senhor (3º cônsul) cortou até dizer basta (quebrou a monotonia, pois o senhor é considerado um ás, não se faz!)
3º cônsul
. Os cuidados de saúde do país são do melhor que há no mundo (a humildade é apanágio dos humílimos)
Houve mais intervenções ilustrativas e elucidativas. E depois o golpe de teatro: a senhora presidenta acha que há tempo para as declarações finais, ainda no período da manhã. Põe à votação se os trabalhos prosseguem ali mesmo, se na parte da tarde; ganha a primeira. Consciência pesada, sensibilidade aos gritos, receio de queda do poder nas ruas? A lição estava bem estudada e as voltas foram trocadas a protestos e protestantes (para grande gáudio, pretensamente esconso de bastantes. Tramas que o poder tece!) Nas considerações finais, um tribuno inflamado de fervor classista debita: seria antipatriótico não pedir sacrifícios aos trabalhadores, quando sabemos que muitos empresários estão aflitos; a classe média ficaria pior se o OE 2013 não fosse o que é. Na mouche! Outro, só para chatear, desfecha: «esta decisão envergonha esta casa, é degradante». Referia-se provavelmente à anulação da sessão da tarde («meramente indicativa», no dizer da presidenta). Ilustrativo! Dito!