Conto (taoísta)
Era uma vez um velho camponês que perdeu um dos seus cavalos. O bicho viu a porta da cavalariça aberta e zarpou para verdes prados. Os vizinhos logo vieram confortá-lo. O ancião agradeceu e comentou: «Se calhar, tive sorte!»
Os vizinhos voltaram para casa confundidos, mas abstiveram-se de questionar o ancião.
Algum tempo depois, o mesmo cavalo regressou, à estrebaria, na companhia de uma égua. Desta vez, os vizinhos bateram-lhe à porta, para lhe dar os parabéns. O ancião agradeceu e disse-lhes: «Se calhar, tive azar!»
Os vizinhos entreolharam-se, atónitos e, muito baralhados, voltaram a suas casas, sem levantarem questões.
Uns dias depois, o filho decidiu montar o cavalo. Deu um longo passeio, durante o qual foi atirado ao chão. Como resultado da queda, o jovem partiu uma perna. Quando soube do caso, a vizinhança lamentou a pouca sorte do rapaz e do ancião e transmitiu-lhe toda a solidariedade. O velho camponês agradeceu e falou assim: «Se calhar, tive sorte!»
Os vizinhos voltaram para casa mais confundidos que o costume, mas não fizeram mais ondas.
Duas semanas depois é declarada guerra ao Estado vizinho. Todos os jovens maiores de 18 anos foram chamados à vida militar. O filho do velho camponês ficou isento. Mais uma vez, os vizinhos se reuniram em sua casa, para lhe dar os parabéns. O velhote agradeceu e disse: «Se calhar, tive azar!»
Desta feita um vizinho não resistiu e perguntou por que razão era otimista, em momentos de menor sorte e pessimista em momentos bons. A resposta não teve tardança: «Há malefícios que vêm por bem e benefícios que acabam mal»