O que tem que ser tem muita força
Pessoas bem-intencionadas deitam mão a uma caneta e escrevem. Um manifesto contra a pobreza, escondida, declarada ou assim-assim. Dizem de sua justiça: o atual salário mínimo, descontos feitos, não dá para mandar cantar um cego e fica abaixo do limiar da pobreza (€ 434). Mais penitentes, a juntar aos já existentes, não obrigado! «Aumentar o salário mínimo é uma questão de respeito, uma exigência do combate à pobreza para salvaguardar as pessoas que se veem privadas de exercer a sua plena cidadania e dignidade». Ou seja, com mais €10, por exemplo, fazia-se a festa e evitava-se mais uma estatística vergonhosa; esse aumento dava para reforçar o consumo; logo, a preservação dos direitos humanos estava garantida.
Só que a linguagem dos números vale o que vale: a entidade superintendente assevera que, contas feitas, o limiar afinal tinha sido desvalorizado, situando-se atualmente em €421.
Terão sossegado as consciências pudicas. Não haverá aumento do consumo, nem tão pouco as estatísticas deixarão de ser chocantes. Quanto aos direitos humanos, talvez mantenham a postura do costume, cabeça enfiada na areia, algures no deserto das Ideias, sito no país do Não-Te-Rales-Que-O-Problema-Não-É-Teu.