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oitentaeoitosim

01
Mar13

Dizer e fazer não comem à mesma mesa.

Jorge

I - Diálogo entre Maria, a progenitora, e Filipa, a filha.

- Filha, come a sopa!

- Não vês que está muito quente?!…

- A sopa dá saúde e faz crescer e fria, nem uma coisa, nem outra.

- Isso é conversa de cotas…

- Então cá em casa passas a consumir tudo frio, que é para aprenderes!

- Vê lá se te acalmas, deitaste cebola e sabes que não gramo, dá mau hálito.

- Dou-te 5 minutos para limpares o prato, estás a gastar o meu rico tempo com birrinhas.

- Por que não te vais embora, eu já acabo…

- Despacha-te, o que tu queres é enfiar a sopa cano abaixo, mas eu topo-te!

- A suspeita, a teoria da conspiração ainda te põem tísica!

(Bastos minutos depois, Filipa traga a sopa, empurrada a goles de água básica. E leva que contar: 2 nalgadas e comida fria até ver).

II – Diálogo entre Maria, a progenitora e Filipa, afilha, 2 meses transcorridos.

- Come a sopa, filha. Já viste a minha paciência?! Sempre que há sopa, vira o disco e toca o mesmo!...

- És muito paciente, quando calha. Quando o teu chefe te faz a folha, temos sempre sopa e entornada, cá em casa...

- Não te metas nisso, não são contas do teu rosário, ouviste?! Come, sempre de seguida, que é para teu bem…

- A minha mãe diz que me mima, mas dá-me sopa fria!

- Chega de conversa fiada. Sabes que mais?! A partir de hoje ficas sem semanada, sem telélé e sem computador!...

- E tenho que me dar por satisfeita, não é?

(Muitos minutos depois, Filipa desfaz-se da sopa, empurrada a goles de água ácida. E leva ainda mais que contar: 2 nalgadas e novos castigos penosos).

III – Diálogo entre Maria, a progenitora e Filipa, afilha, 1 ano decorrido.

- Come a sopa, filha. É preciso ter paciência de Job contigo, sempre que há sopa na ementa!

- Tem muito sal, pouco azeite e está grosseirona.

- Uma desbocada me saíste tu, não te levantas, enquanto não embuchares o que tens na malga, sua melga!

- As minhas papilas gustativas e o meu cérebro atrofiam-se com os eflúvios emanados da sopa, que queres?!

- Brinca, brinca, que logo choras! Vê lá se te caiu um dentinho. Ficas a saber que passas a não sair aos fins-de-semana, não vais à natação, nem ao ténis, só recuperas a semanada e já vais com sorte!

- Mas que generosa tu estás, hoje! Descascas o abacaxi com medidas de escacha-pessegueiro e ainda gozas à brava!...

(Muitos minutos depois, Filipa engole a sopa, a goles de água neutra. E leva que contar à brava: e nalgadas e mais austeridade anacorética).

IV – Da vez seguinte, apresenta-se Filipa disposta a colaborar, sem escoicinhar. Está farta de amochar, de engolir sapos. Já deita sopa pelos olhos, mas quer liberar-se, de uma vez por todas, dos ralhos, da frieza desapiedada e da mão leve da mãe (por desvelo, dizia ela, é preciso ter lata!). Odiava com todo o ser as represálias emolientes, libidinosas. Passaria a alinhar, antes assim que é mal menor.

    Anunciam-lhe que já não havia dinheiro nem para sopa de cavalo cansado. Sem rebuço, queda-se por ali.

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