Empáfia
- O meu avô disse-me que, no tempo da velha senhora, havia mais respeito.
- Quem fala assim não é gago.
- Que toda a gente era boa, temente a deus, e por ele protegida.
- Havia quem não embarcasse no beija-mão, é a questão da regra com bastantes exceções.
- Que às famílias bastava o pão, o vinho, o caldo verde a fumegar e muito amor, para serem felizes.
- Guardado estava sempre o bocado para quem o havia de trinchar.
- Que a pátria era extensa e todos, sem exceção, eram tratados com desvelo e com sentido de proximidade.
- Orgulhosamente sós, longe do mau-olhado trazido pelos ventos de leste.
- O meu avô diz que, hoje por hoje, já não há respeito.
- Olha que não, muita gente continua a casar pela igreja, a batizar os seus filhos na igreja e a enterrar os mortos com cerimónias religiosas.
- As aparências iludem, os olhos não brilham.
- As famílias compram pão, vinho e caldo verde fumegante, com muito amor e frequentam mais o talhante, por bifes.
- Em tempo de carestia, quem deve a Pedro e paga a Gaspar, volta a pagar.
- A independência da pátria está para lavar e durar, pagar a desratização dos bancos e da contabilidade pública é o que está a dar, mas gostamos de aqui estar.
- Algumas pessoas demonstram tanto respeito por seus superiores que não sobra nada para si próprios, diz o meu avô.
(Ao fundo ouve-se «quem esqueceu não chora», em formato balada)