Paladino de causas frustrantes
O senho investigador Alexandre H Cristo fez publicar, na rubrica «Do teu ombro vejo o mundo», do jornal «i», do dia 1/4/2013 (é verdade!), um texto titulado «Um sistema que serve os alunos (e não os professores)», fugindo às regras do novo acordo ortográfico. Dele colhi alguns ensinamentos e outras dúvidas, a seguir delineadas:
1 – Que, «no início do ano de 2013», na Educação, os «habituais alarmistas quiseram gerir a expectativa da chamada refundação do Estado». Facilmente se percebe que os sindicatos dos profes e correlatos são os alarmistas e a Fenprof é recordista nacional de profecias falhadas (com que então a fazer sombra ao governo!). Por uma questão de precisão: há garantias governamentais que o alargamento do horário de trabalho dos professores está fora de causa, não? Sim?
2 – Que à instauração da mobilidade especial na Educação e à «reorganização das Zonas de Quadro Pedagógico - QZP (a bota não joga com a perdigota), a ameaça de uma greve de professores pairou de imediato», para castigo dos alunos. Até se percebe que essas 2 medidas do senhor ministro Crato obedeçam a critérios de correção bondadosos. Questão pertinente: desde quando as greves dos docentes são um castigo dos alunos?
3 – Que os professores não merecem tratamento preferencial, face aos restantes funcionários públicos, na questão da mobilidade especial; talvez só os «professores sem alunos não fiquem agradados com a novidade do ministério». Até se percebe isso: antes de serem integrados num quadro, seja definitivo, seja de zona, eles fartam-se de deambular pelo país. Questão pertinente: por que será que esta casta de funcionários públicos se rebela contra o ME, quando já lhe deram a provar do mesmo e nunca disseram que não gostaram? (rebeldes sem causa ou mistério?)
4 – Que não cabe na cabeça de ninguém que «o Estado mantenha, na sua folha de pagamentos, professores que não exercem funções lectivas, enquanto corta nas remunerações dos que a exercem». Até se percebe isso: se alguém está de braços cruzados numa escola, é lógico que vá bulir para outra, que o patrão é o mesmo, não há maneira de fugir à questão. Questão pertinente: os profes com zero horas de aulas (mas com outras tarefas, supõe-se) não fazem descontos?
5 – Que um professor que «não tem aulas para dar é um professor cuja saída do sistema educativo não prejudicará qualquer aluno». Não há volta a dar-lhe: quem nada faz, não deixa saudade em ninguém, seja nos alunos da sua escola ou da dos antípodas. Por uma questão de precisão: sempre é verdade que a ideia é mesmo correr com mais profes (em nome do vil metal, sem olhar a especificidades)?
6 – Que «o sistema educativo existe para servir os alunos, e não os professores». Até o sr. de La Palisse percebe a ideia. Por uma questão de precisão: os professores servem o sistema educativo, logo os alunos, ou será que antes se servem dos mesmos, com propósitos esconsos (amor discente não correspondido, será?)
7 – Que «em Portugal, a mudança é, por definição, polémica», mas «precisamos também de quebrar os consensos que nos conduziram à ruína», sobretudo na Educação. Dá para perceber: os profes terão de comer e calar, sempre e mais. Querem ver que foram também os professores a lançar propositadamente no desemprego a geração juvenil de mais ampla formação, nos braços do desemprego? (Eu sempre suspeitei, seus malandros!)
Ponto de ordem à mesa: caro senhor Alexandre H Cristo, o seu artigo comprova – tão certo como 2+2=4 – a justeza da tese contida no título, que a mobilidade especial serve os alunos. Bem-haja! Oráculos destes já nem em Delfos (ai a crise!) se fabricam, mesmo em data de bom augúrio e com lua cheia.