Ritual
Houve alto conciliábulo pela tarde e noite adentro. A reunião de cúpula tomou mais uma porradona de medidas de austeridade que é o-que-está-a-dar. No ritual encetado, terão participado gostosamente, para além dos verdugos costumeiros, tarólogos, adivinhos das 7 partilhas, mentalistas, parapsicólogos e ornitólogos também.
Duas questões em cima da mesa: como contornar a má decisão dos supremos jurisconsultos e qual a melhor posição para dessangrar as vítimas de novo pogrom. As estratégias mais pensadas por trazer ao aprisco os novos-cristãos relapsos: entalação entre a espada e a parede, agarração pelos gorgomilos, seguida de perfil de ponta-cabeça, trepanação ou crucifixão em pau de marmeleiro.
Que-seria-que-não-seria, que «vai ser da gente» atenções no briefing, já manhã clara. Foi a oportunidade para as questões se centrarem em detalhes (do grande depende o pequeno), que as vítimas têm vindo a ser preparadas por confessos. De concreto apenas se soube que terá sido aventada a hipótese de ir acima dos subsídios de desemprego, de doença (ou qualquer dia há uma epidemia que nos leva a todos, lagarto, lagarto!); também se pode ir para cima dos PPP, mas aí a coisa fia mais fino (o território está minado).
Mais, perdurou a certeza impactante que o patíbulo está montado, junto ao pelourinho, apesar da simulada reposição de rendimentos dos funcionários públicos (um presente envenenado). Há essa informalidade inconsequente de comunicar a cena a todas as torrentes de opinião e aos parceiros sociais as medidas «equânimes» não anunciadas. Ficará pedra sobre pedra, ou vai tudo a eito? A mão que deu, preparada está preparada para tirar, com juros. Os francelhos que, durante tanto tempo, atiraram ou debicaram nos subsídios vindos da estranja já começam a ficar obviamente inquietos...
En passant, do que gostei mais foi da estória das cláusulas de salvaguarda (pelo-me por mistérios e cenas fantasmagóricas!) e da estreia do Maduro lusitano. O homem deve perceber do assunto, esteve fermoso, de sorriso fatal, mas tem a cassete riscada. Um bigodito à Zorro ficava-lhe a matar! Os restantes queridos porta-vozes estavam de corpo a pedir caminha, coitados, ninguém sai impune de tanta vacuidade.
(Noutros tempos, o engano fazia-se com acinte; agora põe-se acinte no engano)