Estórias
I - Malaquias, dono de uma pata úbere, põe-se enfermiço por saber que aquele seu bicho de estimação sofre de ovo entalado. Abana o bicho, obriga-a a ficar horas infindas dependurada pelas asas, obriga-o a beber azeite e óleo de rícino, aplica as mezinhas possíveis e imaginárias que lhe recomendam os vizinhos e nada livra o bicho de tal incomodidade. Pelo-sim-pelo-não manda chamar 3 especialistas.
- Aumente a ração, para facilitar a expulsão – diz o primeiro da lista.
- Corte na ração, para facilitar a evasão – sentenceia o segundo da lista.
- Aplique as 2 soluções em simultâneo – arrisca o último da lista, à laia de ovo de Colombo.
E o ovo que não dá mostras de querer abandonar o rabo da pata! O dono, já molesto, parte para outra: vende o bicho a uma associação militante de causas animais onde se consumia foie gras.
II - A professora Ambrosina era terrível e até constava que até já tinha mordido o braço de um aluno por nítida perturbação momentânea, veio a saber-se depois. Naquele dia está para embirrar e desata a fazer perguntas:
- Quem manda no país, João?
- O senhor presidente da república.
- Tu, Francisco, achas que é verdade?
- Não acho, tenho a certeza, é o senhor primeiro-ministro.
- E, tu, Ana?
- Seilasié, parece que é esse senhor.
Ninguém tuge ou muge, nenhum deles conhecia os nomes de quem efetivamente ditava as regras do jogo.
III – O Super-Homem é acordado por mão apressada que batia à porta do seu apartamento.
- Tem de me ajudar, pelas alminhas! – anuncia num grito de alma fero Jeremias.
- Não vim de Cripton para outra coisa, para fazer o bem sem olhar a quem – atira o herói sorridente.
- A minha filha, acabadinha de se doutorar com notas assim-assim não põe os chanatos em casa, há um par de dias.
- Portanto, queres que a encontre, isso é canja – injunge divertido, quase a rir-se, tal a facilidade da tarefa proposta!
- Fico-lhe grato para o resto da vida, se precisar dos meus humílimos serviços, disponha sempre - impreca Malaquias.
- Passa por cá, logo às 16 h que o caso estará resolvido e nada me deves, que para o bem fui criado – volve Super-Homem.
Meu-dito-meu-feito, às 16 h estava os 3 no gabinete do super-humano, por entre efusivas comemorações e congratulações.
- Onde encontraste a luz dos meus olhos? – pergunta Malaquias.
- Num gabinete da Fazenda a assessorar.