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oitentaeoitosim

11
Jul13

Cheirinhos kafkianos I

Jorge

Avaliações

Serafim diz:

- A casa é minha, sou eu que lá vivo, com minha família.

Hermengarda retruca:

- A casa é minha, tenho aqui a escritura de compra e venda lavrada no tabelião.

Luana assevera mais tarde:

- Talvez a casa seja minha, tenho aqui uma procuração com todos os poderes da srª. Hermengarda, portanto, eu posso vender a quem der mais e depois logo se verá.

Ambrósio não se fica e, dias volvidos:

- Talvez a casa seja minha, tenho aqui uma promissória sobre ela, assinada pela srª Luana, na casa da mãe Joana.

Epaminondas António vem à colação e esclarece, mais tarde:

- Creio que, muito em breve, a casa será minha, tenho aqui umas letras assinadas pelo sr Ambrósio e que se vencem amanhã, no valor exato desta casa, obtido em recente avaliação.

Hermenegildo arrasa:

- A casa continua a ser minha, o meu banco fez um empréstimo à srª Hermengarda para compra de habitação própria e ainda não foi totalmente ressarcido. Ouçam a salvaguarda: até pagamento do último cêntimo, a casa pertence ao je, está escrito a letras pequenas, na retaguarda!

Enzo José desabafa:

- Desisto da minha quota-parte desta casa, sou advogado de todos vocês, mas não me entendo com este imbróglio. A bem do meu espólio, passem muito bem e esperem pela conta.

 

 Agrément

- Estou em greve! – confessa Juventino.

- E porquê? – pergunta a repórter neófita.

- Muita gente não tem emprego, por isso não pode trabalhar!

- O senhor não trabalha em dia de greve, para que outros tenham trabalho, é assim?

- Assim é! Toda a gente tem direito ao seu quinhão da felicidade global.

 

- Eu estou a trabalhar, não alinho em greves! – debita Fagundes.

- E porquê? –pergunta a repórter neófita.

- Gostava que muita mais gente tivesse emprego e pudesse fazer greve.

- O senhor trabalha em dia de greve, para que outros possam ter trabalho e fazer greve, é assim?

- Assim é! Toda a gente tem direito ao seu quinhão da felicidade global.

 

- Não tenho trabalho nenhum, nem subsídio! – admite Salustiniano.

- E porquê? – alarma-se a repórter neófita.

- Durante 5 anos, trabalhei para 10 patrões e todos fecharam as lojas.

- Os que fazem e os que não fazem greve são solidários consigo, é assim?

- Assim é! O que eu gostava mesmo era de trabalhar e de poder fazer greve, toda a gente tem direito ao seu quinhão da felicidade global.

 

- Vão, mas é trabalhar, seus malandros! – atira aos 4 ventos Jeremias.

- O senhor detesta quem não trabalha, por causa das greves, certo? - pergunta a repórter neófita.

- Especializei-me em requalificação, ponho a mexer muita gente, em nome da boa saúde (financeira) da nação e aqueles malandros de braços parados, feitos parvos, ao que isto chegou!

- O senhor acha que se deve trabalhar, que não se deve fazer greves, mas manda para o desemprego muita e boa gente, é assim?

- Assim é! Toda a gente tem direito ao seu quinhão da felicidade global, olarilolé!

 

Bizarraço

- Tás a ver como eles alinharam – diz o banqueiro 1 para o banqueiro 2.

- Caíram que nem patos! –  diz o banqueiro 2 para o banqueiro 1.

-  7 mil milhões já cá cantam!  - galhofa o banqueiro 1.

- Tiraste esse número do cú? - galhofa o banqueiro 2.

- Se fosse a pedir de entrada mais, levava sopa, tão certo como estar aqui!- 

- Topo essa, começas por um dedo, depois a mão, depois o braço.

- Se fosse a pedir mais, morria pela boca! – ri, agarrado à barriga, o banqueiro 1.

- O céu é o limite! - ri, agarrado à barriga, o banqueiro 2.

- Ganda sorte a minha ter nascido com o rabo voltado para a lua!

- E se a malta do governo não entra com mais?

- Vamos pelas canas dentro, mas arrastamos os mecos e o país – pressagia o banqueiro 1.

- Já pagaste as comissões? – atalha o banqueiro 2.

- A seu tempo se fará, 300 milhões bastam, eles são mais que muitos.

- Não te esqueças de mim, quando chegares ao paraíso!...

- E se o banco for nacionalizado? – arma-se em agoirento o banqueiro 1.

- É da maneira que mantemos os nossos empregos! – rompe em riso histérico o banqueiro 2.

(Ouve-se os primeiros compassos da canção guerreira «A Alemanha acima de tudo». Soube-se mais tarde que uma alemã sentiu picadas excruciantes nos tarsos e metatarsos esquerdinos, para descobrir que a tinham mordido.)

 

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