Assessorias (I)
- Vai à janela e diz-me que vês, Zé.
- O povo está sereno, mas as elites andam desaforadas, chefe.
- Como assim, o mundo já gira ao contrário? Será isto magia ou encanto meu, Zé?
- As elites andam preocupadas com os direitos de autor e de propriedade. Nem de propósito, olhe quem vem lançado à maçaneta da porta do seu gabinete, o seu sócio!!!
- Vais tu mailo primeiro assessor ao seu encontro, eu não vos acompanho.
(4 horas mais tarde)
- Pronto, chefe, missão cumprida, o homem veio armar-se ao pingarelho, disse que pretendia sobraçar a maioria das pastas, pôr os mercados à nora e continuar a tramar nas necessidades, que ele pôs cara de herege.
- E fizeste tu muito bem, querem lá ver que ele queria meter foice (lagarto, lagarto!) em seara alheia?! Queria tosquiar, sai tosquiado e é muito bem feito.
- Olhe, vem direito à sua porta o chefe da oposição piedosa.
- Vais tu mailo último assessor ao seu encontro, eu não vos acompanho.
(3 horas mais tarde)
- Pronto, chefe, já está, o homem aceitou ir um dia destes a uma pescaria à linha, para discutir o plano de implantação de fábricas e estaleiros em estado latente, o que será feito em caso de necessidade extrema, mas o chefe leva o material.
- Boa negociata, Zé, que insondáveis são os caminhos da refundação com que sonho desde menino e moço. Assim ficarei nos anais da história pós-moderna.
- Olhe, chefe, quem aí vem direito à porta do seu gabinete, o seu chefe espiritual, em carne e osso.
- Vais tu lá recebê-lo, que mais vale só que mal acompanhado, pois não te acompanho. Leva estes pastéis da terra dele e que peço a sua bênção para a cruzada que temos em vista.
(2 horas mais tarde)
- Pronto, chefe, ele veio discutir o plano de intervenção rápida nas Selvagens, para suprimento de artigos de primeira necessidade. O resto fica adiado para as calendas gregas.
- Estou nessa, o paizinho guru precisa de férias. Pode até lá pernoitar por muitos e bons meses, anda um bocado zonzo, Zé.
- Vem aí o sr Harpagão, o dono da massa, do arroz e das viandas. Vem com dedo em riste e com ares de o querer estrafegar.
- Eu não te acompanho, diz-lhe que fui fazer as minhas necessidades e que já volto.
(Demorou a recompor-se, para cima de 1 hora, tal era o desatino intestinal. Como aquilo não era música para os ouvidos dele, pirou-se o somítico, pois pairava no ar acre cheiro a esturro e a pivete de cozido mal digerido. Da próxima caçá-lo-ia de calças na mão, que ele não podia ser tratado como um vulgar cheira-bufas. Vejam a inusual falta de respeito!)