A falar a gente se entende
A
- Quando partes de férias?
- Depois de amanhã.
- Vai toda a família?
- Sim, cão, gato e periquito, inclusive.
- Vão para onde?
- Para a Polinésia francesa?
- Quem fica a tomar conta dos negócios?
- Estarei sempre em contacto com o meu administrador principal que é fiel a 100%.
- Quem fica a tomar conta da moradia?
- Uma empresa privada que me dá garantias a 100%.
- Por quanto tempo por lá ficam?
- No mínimo, 1 mês, tudo dependerá da ambiência e da entourage.
- Os colaboradores das suas empresas não recebem, para cima de 4 meses.
- No Natal deverá haver liquidez. Conto com um perdão fiscal para bem fazer.
- Os colaboradores das suas empresas têm estômago de ferro.
- Um posto de trabalho dá estatuto.
- Muitos deles já declararam insolvência.
- Se lhes dou batatinhas, só eu que vou lá parar.
- Fossem eles felizes, mais lucrava você.
- Eu comi o pão que o diabo amassou, a vida faz-se a pulso.
- A felicidade de poucos conta sempre com a infelicidade de muitos.
- Palavras santas, eu não diria melhor!
(Por ali se ficou a conversa que o avião particular estava ávido de tomar o pulso ao ar.)
B
- É desejável que os valores das pensões de reforma do setor privado convirjam com os do sector público.
- Como assim?
- A média das pensões de reforma do sector privado é mais baixa.
- Como assim?
- Os regimes de descontos são díspares.
- Como assim?
- Por uma questão de inércia, são muitas as dissonâncias vindas do passado.
- Como assim?
- Nivela-se e acaba-se a conversa, vai tudo raso e a raso, correspondendo assim à maioria das expetativas criadas.
- Portanto, os valores das pensões de reformas do sector privado vão subir?
- Não está previsto tal cenário.
- Portanto, os valores das pensões de reforma do sector público vão baixar.
- É o cenário que está previsto.
- Portanto, o nivelamento é pela base?
- É o cenário que está previsto.
- Portanto, nada obsta a que em breve haja nova baixa dos valores das pensões de reforma do sector privado.
- A descida do IRC promete a remissão.
- Então, os valores das pensões do sector público da economia voltam a decair.
- A consolidação dos lucros das empresas promete a salvação.
- Até quando, até onde?
- O céu é o limite.
(Para minorar os efeitos colaterais as tevês vão criar mais 10 programas de romarias, beijinhos, música de bombar e sorteios.)
C
- Vamos fazer briefigns.
- Que rica ideia!
- Briefings diários.
- Que rica ideia!
- O país precisa de saber como arrumamos a casa.
- Que rica ideia!
- A verdade será sempre apresentada sob um manto diáfano.
- Que rica ideia!
- Haverá momentos on the record e outros off the record, como se faz nos países mais finos.
- Que rica ideia!
- Aos comandos estará alguém com queda para a coisa.
- Que rica ideia!
-Temos todos direito à verdade, ou perde-se a batalha da independência nacional.
- Que rica ideia!
- Se a coisa descambar, acaba-se logo a brincadeira.
- Que rica ideia!
(Os briefings acabaram, porque o Homem-dos-7-Instrumentos se mostrou renitente em sobraçar a pasta!)