Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

oitentaeoitosim

18
Nov13

Escolas escalonadas

Jorge

    Faz-se rankings de bebidas, de empresas, de clubes da bola, de santos milagreiros, de serviços, de mulheres bonitas e outras, cada um com seu critério bem aferido por que não aplicar o maneirismo às escolas? Foi difícil, mas encontrou-se um critério capaz de hierarquizar todas as escolas pré-universitárias, básicas, secundárias, profissionais, inclusivas, oficiais e particulares, mas já cá canta! Há uns anos atrás seria um bico-de-obra, não havia exames e até se pode dizer que a escola que tanto gosta de classificar fugia a ser classificada, entregue que estava a olhar para o umbigo da autoavaliação, em casa de ferreiro…

    Agora há provas iniciais, intermédias, finais, temos material capaz, vamos a isso (nas escolas superiores aí a coisa fia mais fino, mede-se pelo nível dos estudantes, dos lentes, dos centros de investigação, da atividade investigadora, das publicações dadas à estampa, do nível de impacto web, etc.) que se faz tarde!

    As escolas oficiais, abertas às pulsões e pulsações da comunidade e ao virtuosismo encantatório do ensino-aprendizagem, recebem, ab initio, todos os alunos e todas as turmas que a tutela bem quer e entende, pode-se cambiar e recambiar alunos dentro da mesma área pedagógica por conta de oferta desigual de cursos, mas a escolaridade obrigatória até ao 12º ano (olhem só a pipa de massa que se poupava se o decreto que aqueles bandidos fabricaram há 2 anos fosse anulado!) impõe que nenhum adolescente fique à porta…  

    As direções das escolas públicas pugnam pela qualidade dos seus agrupamentos (escolas conchegadinhas sentem-se mais reconfortadas), os profes que dão aulas em regime diretivo ou não-diretivo, que são avaliados pelos colegas, que são obrigados a atualizarem-se e com menos dinheiro no bolso de ano para ano fazem o melhor que podem; vai daí os alunos, quantas vezes transportados de longe a horas impróprias, apertadinhos em turmas de quase 30 (dá jeito na altura dos frios, vejam lá se a tutela não mede tudo ao pormenor), sejam normais, NEE, com comportamentos desviantes, provindos de todo o lado, em qualquer altura do ano, idem. Muitas aulas depois, vários momentos de avaliação, momentos de pausa, momentos de estudo, reuniões mil depois, chegam os exames obrigatórios (o suprassumo da pedagogia, da didática e do desenvolvimento), com regras apertadas na sua preparação, realização e correção. Quando saem os resultados, raramente correspondem às expetativas e fica a malta que ali trabalha de cara à banda. Ninguém gosta de ouvir remoques do género «olha lá, trabalhas na escola 444, não é?»

     Do outro lado, as escolas privadas, cada vez menos abertas às pressões da comunidade, recebem os alunos que tenham massa para pagar as propinas (com ou sem ajuda do Estado), podem recusar a matrícula dos alunos que bem entendem, os diretores sempre atentos ao negócio, espetam-nos em turmas de menor dimensão, os professores que também têm de frequentar ações de formação e serem avaliados e cada vez com menos dinheiro no bolso fazem o que melhor podem e dão aulas em regime diretivo ou não, os alunos bem comportados todos (senão retiram-se do aprisco) idem. A vida escolar é um regalo, aprende-se sem esforço, com montes de visitas de estudo, muitas confraternizações, prática desportiva do melhor, em instalações comme il faut! Vêm os exames, as regras da sua consumação seguirão ao que se supõe os mesmos trâmites (tempos houve em que os alunos das privadas prestavam provas nas escolas oficiais da área, por que seria?), saem os resultados e ficam lá para cima na classificação. É reconfortante para o ego ouvir um remoque do género «aquela que ali vai trabalha na escola nº 11, que é pequenina, mas maneirinha!»

(Por estas e por outras as escolas privadas deveriam ser maioritárias no país, falta às escolas públicas o sentido do empreendedorismo.)

PS - Há dias uma universidade pública deu conta que os alunos provindos das escolas públicas têm melhor desempenho que os das privadas. Nas universidades privadas, não há esse perigo!

 {#emotions_dlg.blink}

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2021
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2020
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2019
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2018
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2017
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2016
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2015
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2014
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2013
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2012
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2011
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2010
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2009
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub