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oitentaeoitosim

15
Jun10

Bancarrota

Jorge

- O meu país está mergulhado na bancarrota! – desfia o perito um.

- O meu país está mergulhado na bancarrota, há muito! – desafia o perito dois.

- O meu país esteve sempre quase sempre mergulhado na bancarrota! – desfibra o perito três.

 - O meu país esteve sempre mergulhado na bancarrota! – desabafa o perito quatro.

 Os 4 congeminavam estratégias de salvamento, num dos recessos mais convidativos do clube privativo que os acolhe, ao som de música de toque classicista que embala tímpanos e sentimentos. A melíflua melopeia é recorrentemente interrompida pela melodia dos cubos de gelo que acompanham os goles de uísque que enternecem gulosamente a sapiência.

 - O meu país está em falência, há pouco – volta à carga o perito um.

- O meu país em falência há muito está! – assevera o perito dois.

- O meu país está em falência, desde a independência – insiste o perito três.

- O meu país em falência antes da independência está - ininua o perito quatro.

A pendência teve prolongamento, ao jantar requintado, durante o qual foram servidos pratos requentados dos 4 países na berlinda. O fórum mundial debatia em exclusivo o resgate a pagar aos fazedores do mal e da caramunha, escudados na eficácia do anonimato. O infausto acontecimento decorre no mais faustoso motel da área metropolitana número um. Os média estão ali em força na porta de serviço, os protestadores encartados na porta dos cavalos.

- O meu país está na mó de baixo, (embora estivesse, durante muitos anos, habituado à mó de cima), por conta do serviço da dívida, da produtividade rasteira, das rasteiras das bolsas visíveis e dos trusts invisíveis – espenica o perito um.

- O meu país está na mó de baixo, (embora se tenha habituado, durante meses, à mó de cima), por conta do retracção da procura interna, da fúria da oferta externa, das bolsas visíveis e dos trusts invisíveis – expende o perito dois.

- O meu país está na mó de baixo, (embora, por uma escassa semana, tenha estado na mó de cima), por conta da economia paralela, da fuga às contribuições da segurança social, das bolsas visíveis e dos trusts invisíveis – espenuja o perito três.

- O meu país está na mó de baixo (embora, por uma escassa hora tenha estado na mó de cima), por conta dos impostos por pagar, das bolsas visíveis e dos trusts invisíveis e das ironias do destino – exprime o perito quatro.

Puseram-se a fazer das suas: fitness, pilates, lobbying e marketing. Por fim dedicaram-se a estratégias de alcova para desopilarem. O dia seguinte estava reservado às conclusões, às recomendações e aos apelos às potestades.

- Para o meu país recomenda-se uma restrição nos privilégios: acabe-se com os feriados e com as férias; assim, ninguém seria autorizado a pagar ou receber subsídio de férias - diz o perito um.

- Para o meu país recomenda-se uma restrição nos privilégios: acabe-se com o Natal e festividades adjacentes; assim, ninguém seria autorizado a pagar ou receber 13º mês – rediz o perito dois.

- Para o meu país recomenda-se uma restrição nos privilégios: acabe-se com o Estado: assim, ninguém seria autorizado a integrar o funcionalismo público – induz o perito três.

- Para o meu país recomenda-se uma restrição nos privilégios: acabe-se com os ordenados: ninguém seria autorizado a ser remunerado por trabalho prestado – proclama o perito quatro.

A preceito e por fado, no dia seguinte, foram todos feitos ministros da fazenda pública dos respectivos potentados. Pediram asilo político de imediato.

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