Coisas que nós fazemos (2)
A equipa de futebol do clube A tem na equipa de futebol do clube B uma inimiga de estimação e vice-versa.
Antes dos jogos não faltam mind games e até mensagens descaradas, em entrevistas, de um e de outro lado. Para tal rivalidade não são debitadas razões históricas ou meramente duradouras, ora bem deu-lhes para aquilo recentemente.
Ponham-se a pau, só ganham por decreto régio! É mais ou menos isto que se houve antes dos enfrentamentos, de ambos os lados.
Começa o jogo e os atletas não regateiam esforços, dão o que têm e o que não têm, até são capazes de comer a relva e de dar no osso só para evitar a derrota.
Fosse o jogo a feijões e dava no mesmo! É mais ou menos isto que está no ar eletrizante.
Terminado o jogo, os porta-vozes do clube vencedor conclamam a justeza do resultado, a arbitragem limpinha, a excelência da execução técnica dos golos da sua equipa, o mau perder do adversário e a felicidade pelos pontos angariados.
Depois chegam-se aos microfones os perdedores e lá vem o rosário de queixas: jogámos o que pudemos que foi pouco, o adversário não deixou jogar, o juiz que meta a mão na consciência a ver se não lhe pesa, fomos esbulhados de pontos, os nossos atletas estão cheios de nódoas negras.
Só que o resultado está feito! A equipa do clube A teve mais bola, mais remates e até foi menos faltosa que a equipa B e tem sido sempre assim.
Na semana seguinte toda os associados e simpatizantes do clube vencedor xingam os homónimos do outro clube, nos locais de trabalho, nos cafés, nos ginásios, nos locais de culto e até na cama.
As praxes instituíram-se para serem cumpridas, responsavelmente, de preferência! O futebol institucionalizado sabe dar o seu contributo à morigeração dos costumes...
Hoje, os simpatizantes do clube B estão pior que estragados, fossem eles Cronos e poucos atletas da equipa do clube A escapariam à fúria homicida. Eles são acusados de jogar displicentemente contra a equipa do clube C, o rival mais direto na conquista do cetro nacional na modalidade.
Que tinham facilitado a vida ao adversário, abriram-lhes as pernas, nitidamente! Daí a cabazada, pouca bola, 1-2 remates à baliza, pouca entrega ao jogo e as linhas que não funcionaram nunca.
Um grupo de fogosos seguidores do clube B, deslocou-se à sede do clube A, a pedir explicações.
Saíram de rabo entre as pernas os fogosos exegetas, o preço das explicações subiu pra burro!