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oitentaeoitosim

31
Mai14

A perder se ganha e a ganhar se perde

Jorge

I - O chefe do partido vencedor das eleições destinadas a escolher deputados ao PE da UE - uma instituição mais poderosa do que muitos dos poucos votantes e do que muitos dos abstencionistas supõem.

O chefe, com sorriso de orelha-a-orelha, usou da palavra e pediu para que dessem os parabéns ao cabeça-de-lista, aos restantes associados escolhidos por decisão de quem teve voto na matéria e a ele próprio que os tinha escolhido a todos. Tinha sido uma vitória!

O chefe, no imediato exigiu a defenestração e a deposição em terra fria do governo da terra, mantido pela irmandade que tinha conseguido o segundo lugar da tabela. Tinha levado uma tosa das antigas, a votação mais baixa desde que as eleições são universais.

O chefe arrecadou muitas palmas e muitos olés, foram dados muitos saltinhos, muitas bandeiras da agremiação foram desfraldadas e ouviram-se muitos gritinhos estrídulos (a tender para o histerismo) do pessoal que enchia a sala reservada do hotel de 5 estrelas tremeluzentes.

O espumante já esguichava pelas gargantas dos associados reunidos, com pompa e circunstância, num salão de um hotel de muitas estrelas, quando aquele filho de Sol e neto da Lua desatou a dizer que sabia a pouco aquela vitória, de 3 pontinhos à maior, é que nem dava para tampar o buraco do dente molar mais pequeno.

«Ganda mula me saíste, és cá dos nossos, mas nem parece!» - comentava-se à boca pequena, não fosse o estafermo ouvir e julgar que lhe estavam a passar cartão.

O pretendente disse que, na vida, 3 coisas nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Aquela foi uma oportunidade perdida, ponto final, quero assumir o trono. Para já, tragam-me, em bandeja de prata, a cabeça do chefe! Assim, sem mais aquelas!...

Consta que ao chefe iam caindo os tintins aos pés, de tanta ousadia. Ele que se tinha em elevada consideração, por buscar incessantemente as nascentes dos arcos-íris, desmerecia de semelhante contempto e ousadia!

«Eu desfaço-te, seu filho único de uma mãe viúva, seu tredo de uma figa, agarrem-me ou desfilio-o!»  - gritou pelos descampados fora, ali à beirinha da sede, a pensar no cara-de-nó-cego que lhe vinha disputar a proeminência social.

Pelo-sim-pelo-não mandou desimpedir a porta dos fundos e emparelhar as bestas.

 

II - O chefe do governo da terra e sus muchachos coligados arrebataram o 2º lugar do pódio das eleições destinadas a escolher deputados ao PE da UE.

Ainda não estavam os votos todos contados, e o chefe lá se apresentou na sala de imprensa, sita em instalações topo de gama, numa unidade hoteleira de muitas estrelas cadentes, a esmiuçar a distribuição de votos.

Pressuroso, deu a cara, lá tinha que ser (o que tem de ser tem muita força), por isso foi muito sucinto: quem ganhou, ganhou, muitos parabéns! Nós perdemos, paciência, não merecemos congratulações, humildemente nos curvamos perante o veredito popular saído deste sufrágio.

«O veredito de há 3 anos confiou-nos a missão de levar o país a bom porto» - acrescentou, de imediato,o chefe do governo da terra.

«Ainda não o encontrámos, tal a quantidade de águas dormentes e turvas que tivemos de cruzar, as quais impuseram mudanças nas rotas, mas eu seja ceguinho, se não levo a minha cruz ao Calvário! E que estavam motivados, ali para as curvas…

A instâncias de um jornalista, também disse que não o espantava a derrota por semelhantes números. Tinha pedido muitos sacrifícios, o povo concordou, mas não gostou de andar de cavalo para burro. De qualquer maneira, os tempos mais próximos trariam saúde, dinheiro e amor aos borbotões…

Uma jornalista saiu-se com esta: se o país estava num brinquinho, tal postulado deveria ter rendido mais votos aos partidos do governo da terra…

O chefe da trama disse que a sua mensagem não tinha chegado ao coração do povo, que uma coisa é ir-lhe ao bolso, outra é chegar ao coração, uma viagem para muitos sois e muitas luas.

Ainda ressabiado com a derrota, só adoçado pelo burburinho instilado na casa do vencedor, o chefe do partido do governo da terra voltou aos comandos da chalupa.

Um bando de profeta augurou que o homem andava confundido, que faz tudo ao arrepio de promessas, da constituição e da ciência certa. Que se arrependesse, ou não teria salvação e acabava-se-lhe o mandato.

«Bardamerda! Padrinho, querem fazer-me mal» – ouvem-no gritar, com os poucos cabelos esvoaçantes aos 4 ventos, desvairado, a caminho do palácio de Pastéis.

Pela calada, mandou comprar calças com os fundilhos reforçados e rezou muito, para fugir à crucifixão e às penas do inferno.

Pelo-sim-pelo-não mandou desimpedir a porta dos fundos e pôs 2 cavalinhos à chuva.

 

 

                             Quem se põe a dormir, acaba a pedir... 

 

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