Apostilha 13
São tempos de irritação estes os vividos intramuros. Fora de portas, armamo-nos em fortes, temos vergonha de exibir fraquezas, carestias e faltas (de bens essenciais, vg).
Por isso não protestamos, comemos o pão-que-o-diabo amassou, chegamos a tirá-lo da nossa boca e da dos que nos rodeiam, porém não se pode dar parte de fraco, queremos dar mostras que os ventos sopram de feição ainda, é preciso dar tempo ao tempo, para que as coisas se recomponham e irritamo-nos, sempre que nos levantamos e tudo continua como dantes, quartel-general em Abrantes, vão ver…
Não desesperar, bulir é preciso, domar os cavalos. Ai este dragão da irritabilidade!...
É já amanhã, não é tarde nem é cedo, amanhã vou inscrever-me em pilates e ioga num ginásio na capital (dá cá um jeitão uns vouchers com descontos especiais que fanei a pessoa amiga, oferta de um jornal da capital).
Faço por me acalmar, mas nem sempre sou bem-sucedido.
Esta modinha de dizer que um clube vende e compra atletas de futebol, como se tratasse de património imaterial, um terreno, uma casa, uma travessa particular, uma praia privativa, põe-me os nervos tensos e os cabelos em pé.
Os média entrevistam um dirigente que fala, na pré-época, das compras e vendas (de jogadores, pois), depois recolhem opiniões dos agentes-fifa ou lá que raio é e temos a mesma conversa (só não confirmam os valores implícitos no negócio por casa das moscas); donos dos fundos que gerem «os direitos dos atletas» não caem na esparrela, esses não falam nunca, lagarto, lagarto, lagarto!
«Eu acho que o meu clube não me vai vender» - ouvi esta a um jogador, acabadinho de falar no «grupo de trabalho» e nos «objetivos» do clube.
(Agora me lembro que ainda há pouco os colaboradores eram trabalhadores, que a sociedade civil era o povo; nesse mesmo tempo em que as profissões não recebiam títulos airosos e pomposos, em que recalibrar não significava roubar, com licença dos conselheiros acácios).
Vá lá, senhores colaboradores dos média, digam que os jogadores foram transferidos, não custa nada, porra! E deixam de usar termos escaganifobéticos, usem os que sempre foram usadas, os tradicionalista, porque não? Vocês são danados para a brincadeira!!!
O mundo do futebol já funciona num mundo paralelo, não o queiram converter num mercado negr(eir)o.