BESIGUE um
Excelentíssimo Senhor
Presidente da Caixa Geral de Aposentações
Permita que lhe tome algum do seu tempo, para que objetive um pedido que julgo Vexa atenderá, originado na exigência feita pela Caixa Geral de Depósitos (vulgo CGD, ou Caixa, ainda mais vulgarmente) de me cobrar taxa de manutenção todos os meses, à conta de uma conta que lá tenho e através da qual recebo a minha pensão.
Durante largos anos fui funcionário público, período em que tentei dar conta do recado: fiz um percurso profissional limpo, durante o qual não me lembro de ter defraudado o Estado, tão pouco tirei vantagens do exercício das funções desempenhadas e nunca pus os amigos à frente do interesse coletivo. Também é verdade que nunca fui indigitado para cargos destacados, daí nunca ter recebido louvores, medalhas ou comendas, mas o meu cadastro está imaculado e mostro-o a quem o queira compulsar (se entretanto descobrir o seu paradeiro), numa palavra, cumpri com lealdade as funções desempenhadas.
Neste tempo todo, saiba Vexa que sempre tive conta aberta na Caixa, o banco do Estado (nos tempos que correm todos os bancos parecem ser filhos, pródigos ou não, do Estado). Sempre estive convencido que, em caso de bancarrota, uma indemnização está garantida. Agora confesso que nunca me passou pela cabeça ter de alinhar em qualquer resgate, pois sempre me limitava a levantar soldos da conta e dava-me por contente em constatar que a administração da Caixa publicava regularmente as contas certinhas nos jornais. Mas, diz-se que os tempos mudaram, que os depositantes são tidos e achados para o bem e para o mal e contra isso, batatas! Vexa permitirá por certo o plebeísmo.
Domino muito mal as operações bancárias, as jogadas parabancárias, seja da alta ou da baixa finança (nota-se à légua, não?).Talvez por isso nunca me tenha dado conta que os depósitos e as contas bancárias não dispensam a manutenção da ordem. No tempo em que as notas e os metais preciosos eram guardados em armazéns ou caixas fortes, na minha ignorância, ainda consigo admitir que precisassem de limpeza adequada, não fossem aquelas mercadorias corromper-se ou, mesmo, perder brilho. Cria eu que as modernas tecnologias dispensassem a mundícia de valores, metidos em bites, ou coisa que o valha! (permita a gíria). Se isto é para mim surpreendente, mais me espanta a dimensão da barrela, pois há muitos maduros como eu (passe, outra vez o jargão) que serão obrigados a acudir à aflição temporária da Caixa.
Se, por acaso Vexa teve a bondade de me acompanhar até aqui, permita outro desabafo: se os depósitos nos bancos precisam de manutenência, à conta de que critério estarão as administrações dos bancos, nomeadamente a da CGD, a reduzir o número de bancários?
Aqui chegados, permita Vexa que concretize o meu pedido: vou fechar a minha conta na Caixa (não vou bater à porta doutro banco, pois me parecem que todos bebem água da mesma fonte). Assim, desejo que me seja facilitado o levantamento da pensão diretamente aos balcões da CGA. Ou então numa Loja do Cidadão, ou mesmo junto da SS, em dinheiro vivo. Um vale dos CTT (cheque avalizado deve ter alcavalas associadas, portanto não) também serve!
Vivo atualmente bem longe da sede da Caixa, mas isso não constitui dificuldade, pois conheço aqui uns maduros que me dariam boleia até à capital, o que seria duplamente bom: primeiro porque não gosto de flanar por aí, em busca de uma agência da CGD que esteja aberta ao público; em segundo lugar, teria as vistas da capital sempre em dia.
Entretanto, conto proceder a buscas na Net, a ver se consigo um colchão capaz de guardar eficazmente os meus valores. É tão certo ter sucesso, quanto as contas bancárias precisarem de manutenção (o espírito inventivo dos mandantes nunca foi coisa por aí além!).
Tomo por certo que Vexa acederá amavelmente ao meu intento, pelo que me quedo expetante, mas convicto, apesar de tudo, que a sua resposta satisfará o desejo aqui expresso, na volta do correio.
Só pode ser um banco!