Cenas do País Tetragonal (XI)
A minha mãe que deus ainda não tem, lagarto lagarto, diz que vamos ter, mais um créne, crena, QREN ou coisa que o valha nos próximos 6 ou 7 anos. Vai chegar ao país uma barrigada de dinheiro, mais de 21 mil milhões de euros, 21 com 9 zeros, uma coisa impressionante. A minha mãe que é de Peva disse-me que os senhores do governo falam bem comós padres, os advogados, os arquitetos, mas a gente não compreende peva e não nos alegram, mas uma coisa se sabe, o país tem de entrar também com 21 euros com 9 zeros (a entrar senhorias a ver como a massa pública vira privada e porquê tanta dívida) e que o bago será usado no apoio a projetos de salvação de pêemeés, PME ou lá que raio é. Para quem acha que se deve resolver em primeiro lugar as primeiras coisas, normal seria que os governantes pegassem naquela pipa de massa e pagassem aos credores anónimos reunidos em sarl e logo se desfazia o molho de brócolos em que o rincão se enterrou até às orelhas. Assunto encerrado, vamos partir para outra, com o caminho desimpedido! As pêmeés esperavam mais uns aninhos pela sorte grande, mas ficavam bem servidas, porque o país crescia em área e em progresso, a malta comprava mais, já não seria preciso cortar nem nas dívidas nem nas receitas, ficava tudo aparado e a bagalhoça não se perdia nos mesmos caminhos ínvios dos rapadores do fundo do tacho dos habituais pardais comedeiros. Se calhar os acredores aprosopos que voluteiam por estas bandas não curtem a cena, mas que parece bem fisgada a proposta lá isso parece (passe a imodéstia).
(Vá lá, as verbas do QREN até podem levar o sumiço do costume, prontos, então deixem usar os dinheirinhos do FSU, querem maior catástrofe que esta?)
Naquela aldeia perdida no oceano havia umas senhoras e uns senhores que não gostavam de livros. Livros enchiam-se de pó e a limpeza estava em primeiro lugar, que horror as visitas chegarem a casa e verem pó à luz do sol caiam os parentes na lama. Podia lá ser, a honra da casa a honradez da família e o bom nome do sítio dependiam de uma casa limpa, com certeza. Por isso era frequente ver livros nos depósitos do lixo, tivessem sido eles comprados às escâncaras ou às escuras no par de livrarias que se atreviam a tanto. Por causa disso, a polícia dos costumes, sempre à coca e mortinha por atrapalhar o primeiro que não se precavesse, topou uns fieis que julgava infiéis e vice-versa, vindo alguns a sentir na pele as desditas do desterro. No ínterim agentes da benemérita instituição aproveitavam-se do esbulho para porem a leitura em dia.
Num belo dia um comissário externo alérgico ao pó, visitou a sede e quase morria de espirros expetoração e espasmos, pelo que fica desmascarada a marosca.
A poeira trazida do deserto pelo suão passou a depositar-se nos vidros das janelas que se tornaram foscos.