Cenas do País Tetragonal (XVI)
«Acha que me vou pronunciar sobre os que se manifestam, quando estou aqui para me reunir com empresários que exportam e contribuem para 40% do PIB?»
Quem se manifesta pouco colabora na produção, portanto não risca. Quem toma as decisões sobre a produção conta e não se manifesta.
Os verdadeiros salvadores da pátria são estes últimos que fazem tudo por tudo para nos manterem à tona de água, para que não vivamos todos acima das capacidades reais, para que todos tenham direito a uma bucha, que guardado está o bocado…
Ao invés, esses profissionais da confusão, sempre prontos a pedir ao patronato que se assuma na formação de riqueza, vêm depois espantar a caça com as suas bocas soezes, as suas diatribes, as suas diabruras e verrina.
Ainda sou do tempo em que não se falava tão amiúde dos mercados, tal o medo que eles tinham de não porem o pé na poça, pois as hordas reivindicativas andavam por todo o lado. Infelizmente nos últimos 80 anos não se falava abertamente sobre os mercados e a economia como agora se faz abertamente, ou por acinte ou porque as hordas reivindicativas pululavam por aí. Esta, aliás, é uma conquista recente, mas decente! É patriótico e glorioso perceber que toda a gente pode manda bitaites sobre o pib, sobre as taxas, sobre a evolução das ações, etc., sem ser levado de cana ou levar com a moca. Viva a liberdade!
Por isso mesmos os nossos donos externos vão cair em cima das associações benemeritamente sindicantes que julgam ter a faca e o queijo na mão, com todo o peso do seu dinheiro. Esta cambada de calaceiros, esta cáfila de antipatriotas e huguenotes mal se dá conta da gravidade da situação que eles criaram com a satisfação das suas reivindicações, antes aconselhassem os seus associados que vergassem a mola, baixassem a bolinha que a bolina corre de contramaré. Vão mas é trabalhar, que o trabalho dignifica a todos e enrica a poucos, mas é assim que porta a lei natural das coisas, seus malandros!...
(Assim pensou a irredutível personagem, antes de importante reunião com empreendedores, antes de ir vender azeites e vinhos e promover ginásios que anda no Oriente Próximo, produtos de fábula que encurtarão o saldo negativo do erário, com a ajuda de génios locais.)