Cenas do País Tetragonal (XXIV)
Tem calma que já chutas!
A equipa representativa de futebol do país foi eliminada, na fase de grupos do torneio mundial da modalidade.
Quando se aguardava dali boas novas e mandados, dá-se o regresso de rabinho entre pernas. Assim não passaram desapercebidas as más notícias da governação que não se fizeram esperar.
A eliminação aziaga talvez se deva ao treinador, à práxis de treino, da escolha dos eleitos, do local de estágio, do clima, do hotel, das táticas, das estratégias para atingir os objetivos. «O homem é um pindérico e arrogante sem causa» - disse o comentador certinho, em direto de uma praia de naturistas.
No fim da tragédia, o treinador disse, alto e bom som que não quer a demissão, nem à custa de uma barrica de ouro, nem de um poço de gás de xisto.
A eliminação inditosa talvez se deva aos jogadores, cambada de coxos que esconderam mazelas só para visitar a Amazónia. De verdade, a maioria não podia com uma gata pelo rabo. Jogo de equipa não se viu, provavelmente tê-la-ão posto em práticas nos matraquilhos. Ou não chutavam, ou davam chutões para onde estavam voltados, uns pernetas, presos por arames. Honra lhes seja feita, tinham caprichado nos penteados, nas tatuagens e nas beijocas. «Estes gajos são bem capazes de transformar ouro em pechisbeque» - gritou um contrabandista de amor e saudade, às portas de uma repartição de finanças aberta.
(Se calhar abusaram do bacalhau, não se aguentavam nas canetas. Que bem lhes ficava o futebol de rua!)
No fim da tragédia, os jogadores juraram pelas barbas do profeta que tinham dado tudo e o resto se resumia a uma questão de pés-frios. Quem dá o que tem a mais não é obrigado! – terá assumido o melhor atleta do globo.(Agora tenho de lidar com os cabrões dos sponsors que se preparam para me cortar na casaca e na conta bancária!)
A eliminação desditosa talvez se deva aos dirigentes. Grandes melros, nunca deram a cara, ficaram-se nas encolhas, a comer do bom e a vestir do fino, enquanto a equipa era trucidada na arena e eles a ver passar os navios… Permitiram dos jogos de preparação, se foi para ambientação vou ali e já venho! A seleção da terra foi a última a arribar a terras de Vera Cruz, porquê? Por basófia? Eles andaram mais preocupados em cobrir os jogadores com miminhos que os amoleceram, ora aí está! Um deles veio com a cantilena que os jogadores não se encontravam mentalmente a 100%, depois da cabazada inicial e que o futebol é complicado, não é uma ciência exata e tudo pode acontecer. «Eu que o diga!» - assim falou aquele aluno que embirra com a Matemática e a Físico-Química, desde o berço, quando debitava prognósticos no fim do jogo, nas proximidades de um ecrã gigante.
No fim da tragédia, nem passou pela cabeça deles qualquer sombra de demissão, tinham cumprido a missão e os objetivos, mais uma vitória moral estava no papo, estavam de consciência limpa e tranquila, portanto pôr o lugar à disposição estava fora de questão e quem nos quiser desbancar que se atreva a dar um passo em frente, a ver como elas lhes mordem…
(Nenhum plumitivo se atreveu a perguntar-lhes se alguma vez puseram a hipótese de mudar de ares.)
Para a maioria, a culpa morreu solteira e assunto encerrado!
Eu estou noutra: a eliminação aziaga da seleção deveu-se aos embates que calharam em sorte, nada mais nada menos com os donos da Europa e os donos do mundo (e não era este o «grupo da morte» porquê?!) Se a seleção dos donos da Europa se tem lembrado de aplicar mais 1-2 golitos à do país da bola oval, os juros da dívida punham-se a subir, né?!…
(A familiaridade encurta o respeito e rebaixa a autoridade.)
A mim ninguém retira da cabeça que, se a China estivesse no grupo, a aziaga seleção iria malhar com os ossos ao último posto do grupo preliminar.
O respeitinho é muito bonito, não tenham dúvidas. Isso moeu a capacidade de raciocínio da comitiva presente na pátria do Chico do Fado tropical, são favas contadas!
(Um respeitinho destes é tido por restringente.)
Eis como a eliminação da seleção aziaga acabou por dar alegrias a quem se governa com o pequenino país à beira-mar plantado!
O meu plano de quatro etapas para lidar com a negatividade: identificar, enfrentar, eliminar e substituir! (F. Martins)