Cenas do País Tetragonal (XXV)
O país devia uma data de papel a meio mundo. Descobriu-se isso, quando os herdeiros dos credores encontraram livros de fiados do fundo do baú. Uma catrefada deles… Aí o xerife decide que todos os íncolas devem pagar, com língua de palmo.
Diziam manifestantes:
- Não pagamos! Não pagamos!
- Calem-me esses gajos! O seu a seu dono, pagamos e não se fala mais no assunto! Comeu, pagou! – Estuporava o xerife e seus ajudantes incondicionais.
(As taxas de juro – tadinhas! - são muito sensíveis, quando expostas aos vírus disseminados por iconoclastas.)
Diziam especialistas:
- Pagamos tudo, com revisão! Pagamos tudo, com revisão!
- Calem-me lá essa gajada! Estudaram tanto, que não percebem nada do assunto. Armados em filantropos, vivem à grande e à francesa, mas assobiam às canelas dos protetores!… Abrenuncio, satanás! – Arrepelavam-se o xerife e os seus ajudantes beguinos.
(É que os nossos admiráveis credores – uns quiduchos! - de quem somos os dignos representantes, são muito sensíveis e não queremos que lhes chegue a mostarda ao nariz, a bem das taxas dos juros dos empréstimos que já estão suficientemente crescidinhas…)
Diziam hereges:
- Pagamos, com perdão! Pagamos, com perdão!
- Calem-me esses tipos! Perdão só no confessionário, no tribunal, ou nas finanças, qual quê! Pagamos tudo e não bufamos, fazemos das tripas coração, até apostamos na economia paralela, mas pagamos! – Clamaram o xerife e seus ajudantes ensoissados.
(É que os mercados não dormem – à imagem dos omnipotentes! –, não querem ouvir desculpas de mau pagador, é pegar, pagar ou largar. Quem honras faz, cortesias merece!)
A seca continua
(Água… e trabalho!)
Dizia um banqueiro (DDT, para os amigos):
- O meu banco por um cavalo!
- Qual quê, amigo, nada arreceeis, nem tanto ao mar, nem tanto à terra! Que se lixe os juros da dívida, que se lixe os pruridos dos mercados e que se lixe Wall Street, que os amigos são para as ocasiões! A gente até saca mais uns milhões aos saloios, se for caso disso.… A lebre é de quem a levante, o coelho de quem o mata e não se fala mais no assunto – Trejuraram pelas barbas do profeta o xerife e seus acólitos policitantes.
(É que a dança – das cadeiras e a macabra - tinha de prosseguir.)
Idólatra
O governo oferece a Constituição (e o mais que for necessário) aos mercados.