Cenas do País Tetragonal (XXVI)
A dona do erário público bota palavradura, a garantir que o défice de 4% é alcançável e que a dívida pública não está fora de controle (quanto à privada, fica para outra ocasião), graças a almofadas e a cortes que se prolongarão, per saecula saeculorum (com segredinhos me enganas).
A madama diz que as previsões do passado são mais fáceis de serem feitas que as do futuro; sabe que tem metido água nas previsões vindouras, mas que todas as altas instâncias internacionais não se ficam a rir, andam ó-tio-ó-tio.
Cheia de nove-horas, a enigmática dama deixa escapulir expressões dignas de quem sabe da poda e de quem manda no faval. Veja-se, a título de exemplo, algumas pérolas atiradas a incautos boquiabertos:
. reapreciação das perspetivas macroeconómicas;
. revisão do cenário macroeconómico subjacente;
. recuperação da confiança dos consumidores;
. medidas transversais;
. dotação provisional;
. perfil intra-anual;
. reembolsos das obrigações do Tesouro;
. reclassificação da dívida pública;
. perímetro da despesa;
. dívida sustentável.
O maralhal bate a pala e palmas a tanta sabedoria translúcida (não percebe patavina, mas a senhora falou bem!). O cura e o sacristão gritam muitos «apoiados», eles lá sabem que a sério se diz muitas verdades…
A esfíngica senhora não gosta que a tenham comparado a uma fora-da-lei e fala em governo democraticamente eleito (é novidade no mercado), engasga-se com os referenciais orçamentais subjacentes à discursata (um lapso de 1 ano toda a gente tem, caramba!), mas percebe-se que está talhada para mais altos voos.
Chamadas as pitonisas de Delfos a desfazer o imbróglio, são do entendimento que vamos ter mais do mesmo, quem decide da produção do faval fica-se a rir, quem produz fica a chorar.
À saída ninguém percebe ao que veio a patroa. Vinha a retificar, saiu retificada…
Nada de novo na ocidental plaga!
Especialista a postos…