Cenas do País Tetragonal (XXVII)
A senhora ministra achou que a geografia dos tribunais estava mal feita e decidiu mudar. Num mapa mental, redesenhou a distribuição dos tribunais, juntou uns pós de perlimpimpim, pôs tudo ao fumeiro e apodou de reforma a coisa. Estava completa uma peça-chave da sua missão da governação, a partir daí só podia rolar sob esferas a máquina justiceira. Não é de hoje, não é de ontem que se sabe que de boas intenções está o inferno cheio.
A senhora ministra teimou em levar a reforma avante, na data assente e encomendou-se às alminhas. Imitando dona Justiça que é uma senhora formosa, de olhos tapados, espada desembainhada e dona de uma balança fora de moda, não cedeu um milímetro ao espírito da coisa, cunhas com ela, só para rachar lenha.
Ora parece que a plataforma eletrónica que deveria arcar com toda a documentação pifou ou não aguentou a pedalada. Num repente ficou com a cabeça a prémio, salvo seja. Porém, que culpa tem ela, a senhora deve ter tirado tão só um curso de computadores na lógica do utilizador, tenham dó! Foram os entendidos que meteram a pata na poça, topa-se à légua! Já não se pode depositar cúnfia nos subalternos? Um deles meteu a pata na poça…
Os profissionais do ramo disseram cobras e lagartos da reforma visionada pela senhora ministra, que se caminhava de cavalo para burro. A senhora ministra acusou o toque, mas não assumiu a maternidade da dita plataforma, uma serpente que tinha num dos seus ovos o germe do estado de sítio.
A senhora ministra, farta de levar pancada, dá uma conferência e obriga um seu subalterno a meter a cabeça no cepo. Ecce homo, atirai os tomates, as pedras, as bisnagas de água e de tinta a este fulano.
Temeu-se que estivesse montado um linchamento público.
(Teme-se que a encenação não fique por aqui; sacudir a água do capote nunca deixou de estar na moda.)
É assim, esta governança não dá ponto sem nó, competência tem-na para lavar e durar e faz o que não lembra ao dianho e ainda lhe sobra tempo para manter o pessoal num colete de forças. Os mauzinhos acham que deveria desaparecer duma vez por todas, que não acerta uma. Os assim-assim, acham que deveria ir à bruxa.
A senhora ministra, não perdeu as estribeiras, não assumiu a culpa, mas pediu desculpa. Fica-lhe bem, num país de brandos costumes tudo se perdoa. Mais, a história far-lhe-á justiça. A sua reforma ombreará com a do Mouzinho da Silveira e os seus atos com Martim ou Egas Moniz. Mais comezinho, desconfia-se que não lhe farão a desfeita de a compararem ao ministro que apresentou a demissão, por conta de um acidente que ceifou vidas, numa ponte de âmbito seu.
Azarada esteve uma ministra antiga e os compinchas da Face Oculta, os quais não puderam usufruir da bondade desta autêntica salsifrada justicialista montada num país fadado a ser governado por gentes de fábula.
Não vejo mal nenhum, desculpem lá!…