Cenas do País Tetragonal (XXXIII)
As circunstâncias políticas do momento impuseram o afastamento da Sr.ª Dr.ª Constança que era a ministra da Administração Interna do atual governo que vai continuar a mandar na gente.
Até calhou bem ao PM a quem, há tempo suficiente, um par de partidos políticos vinha pedindo a cabeça da senhora e ele, moita-carrasco!
Até que o PR, exibindo mais uma vez afetos genuínos, declara do alto do seu púlpito: «alto e para o baile!». Aí a senhora ministra sai resilientemente da pista, troca umas palavrinhas com o primeiro-ministro; e com a bênção dele (e elogios da praxe) volta para a os seus afazeres costumeiros (diz-se que o gozo dumas férias é prioritário, mas agora parece que não).
Registaram-se 2 tragédias, separadas por 4 meses, marcadas por muitas mortes horripilantes, por conta de incêndios múltiplos, ateados por duvidosas mãos que se atêm à proverbial inércia da governação do verde deste país, sempre muito confiada na Providência; só que, nas 2 ocasiões, Ela não valeu à gente e foi o cabp das tormentas e dos trabalhos!
No intervalo dos 2 infaustos acontecimentos a senhora ministra não deu uma para a caixa, ainda-por-cima viu reduzido contratualmente o efetivo de aviões contratados para o combate às chamas e ficou-se; consentiu na redução do número de bombeiros de prevenção aos incêndios; permitiu desativação de postos de vigilância e não terá ligado ligou meia aos avisos do IPMA (a seca também não ajudou), etc...
(Para quê deixar vigilantes nas praias, se já não é tempo de trabalhar para o bronze?)
A senhora ministra, quando aparecia na tevê dava sempre o ar de andar aos papéis, dava a sensação de não ter percebido exatamente onde tinha caído, coisa que não admira totalmente, pois era novata nas artes da governança, mas - caramba! - reunia 2 condições fundamentais para ministrar: um ar apresentável e um diploma em Direito.
A senhora ministra não teve em conta que, num país de brandos costumes – onde as leis são sobretudo recomendações - a culpa nem sempre morre solteira; em eventos de grande impacto junto da opinião pública, o caso pode mudar de figura, é forçoso que se apresente um réu! Pequenos eventos, de menor calibre, esses passam desapercebidos, caso não haja denúncia nos média todos.
(Também é certo e consabido que, num país de brandos costumes, os deveres convencionados devem ser sempre respeitados pelos outros, mas os direitos esses destinam-se a ser cumpridos sobretudo pelos outros.)
Então desconhecia a senhora ministra que neste país - embalado em nacional-porreirismo, em amiguismo fervoroso, em videirismos precatados, em pagamento de promessas, em fazer vista grossa a desvios, em lobbies informais, em indultos oportunos, no faz-de-conta desculpador, em abusos de diversa tipologia (abusus non est usus, sed corruptela) e coisas derivadas - a culpa é tão feia que ninguém a quer (mas tem de se apontar o dedo a alguém, santa paciência)?!
Desculpe dizer-lhe isto, a senhora ministra estava a pedi-las, porque se pôs a jeito, ora bem! E, repare, a sentença, perante a opinião pública já transitou em julgado, a senhora é culpada.
A senhora ministra detinha responsabilidades sobre a gestão das florestas e no combate aos incêndios selvagens. Os senhores ministros do Ambiente e da Agricultura (este atá chegou a irritar-se quando a malta dos média tentou convencê-lo que ele também teria contras a prestar sobre os incêndios e suas amargas consequências) também seriam parte da perequação, mas passaram incólumes por entre os pingos da chuva (recorde-se que, no governo anterior a gestão de tais dossiês esteve confiada a uma outra senhora que campeava na pasta da agricultura e do mar) e souberam estar caladinhos e, assim, sacudir a água dos seus capotes.
Então, não estava a pedi-las?
Desta vez é que vai ser, a problemática dos fogos selvagens (e sobretudo de vidas imoladas) vai remediar-se, no breve trecho, nas suas diferentes vertentes: a reforma da floresta, o levantamento do cadastro das terras, o reforço das áreas verdes com espécies endógenas, a determinação das fontes de ignição, os negócios esconsos que não olham a meios para faturar, o renascimento do corpo de guardas florestais, o reforço dos sapadores bombeiros, etc... terão resolução, assim num fósforo (lagarto, lagarto!); o seu sucessor é áspero e não admite brincadeiras.
Vá-se embora, Sr.ª Dr.ª, e prometa que desta água nunca mais beberá, não vão lembrar-se ainda de lhe atirar em cara as mortes acidentais acontecidas em todo o país, durante o seu mandato, o mau estado de construção de muitas estradas também, ainda a desertificação do interior, a seca naturalmente, etc...
A propósito, ainda, há pouco, pessoa amiga saiu-se com esta tirada: «A senhora ministra deveria ter mandado fazer, por exemplo, no intervalo dos 2 infaustos, campanhas a lembrar os bons procedimentos em áreas verdes. Ou encomendar leis mais severas para quem provoque incêndios. Ou mandar limpar a preceito as áreas verdes do Estado. Ou pedir à EDP que dispusesse a preceito todos os cabos de distribuição de energia? Ou recorrer à chuva artificial, qualquer coisa diferente do ramerrão habitual... Não me sai da cabeça que, no último dia fatídico, o fogo tenha campeado em 15 dos 18 distritos de Portugal continental!».
(Ou será que os espíritos e deidades das florestas terão querido marcar uma posição?)
Em troca bicuda de impressões, um passarinho fez-me saber que se vai continuar a invocar a intercessão divina (S. Bárbara, S. Gualberto e S. Francisco de Assis, entre outros, estrão disponíveis), em todos os templos de devoção, porque os interesses instalados no terreno não dão folgas (os mandantes sabem-no bem).
Das malhas que o império tece se fez paulatinamente a cama da Sr.ª Dr.ª Constança que, já bastante combalida e chamuscada, nela se deitou, de bom grado, como num altar de sacrifício.
Bons sonhos e que siga a dança!
Iluminai os donos do poder e do dinheiro para que não caiam no pecado da indiferença, amem o bem comum, promovam os fracos e cuidem deste mundo que habitamos.
Parte de uma oração proposta pelo Papa Francisco, na encíclica Laudato Si, toda ela dedicada ao ambiente (sabiam?).
(Culpada!... Não culpada!....
Culpada!... Não culpada!...), adaptação