Contos de fados (IX)
Passa, há uma série de dias, por aquela rua, de nariz devidamente acondicionado numa máscara protetora. Desconhecem quem seja, mas apelidaram-no de Narigueta.
São inseparáveis aqueles 5 amigos e castiços também.
- Ele foi operado recentemente. Aposto!
- Não me parece, eu acho que a patroa lhe foi às fuças. Vou a jogo, aposto!
- Nada-nadais, ele estendeu-se ao comprido, após bezana brutal. Também aposto!
- Pois eu acho que ele tem a doença das aves. Tou nessa, aposto!
- O gajo anda a treinar para palhaço. Contem com mais um, aposto!
Dois dos amigos contribuíram para o bolo com o carrinho utilitário prezado por ambos; outros 2 engordaram a pula com os seus iates de estimação; o último entrou com a roulotte querida. Ao que disseram…
O Jacinto, um elemento neutro, recebe a procuração dos apostadores para tirar a coisa a limpo: segue o Narigueta, por todo o lado.
Uma semana depois, no mesmo local, apresenta o relatório que vale por sentença em julgado:
- O Narigueta não foi operado, a mulher não lhe foi aos fagotes, não se meteu nos púcaros, não tem qualquer doença esquisita, tão pouco anda a treinar para palhaço. Antes aderiu a um grupo de maduros que se recusa a respirar o ar das cidades sem mais aquelas, por ser veículo de contaminação potencial.
Safaram-se de boa, os marmanjos apostadores! Nenhum deles era já dono de carro, de iate ou de roulotte. Esteve à vista um valente trinta-e-um, senão mais…
Aqueles 5 amigos do peito, depois de ajuramentados pelo Jacinto, nunca mais se desfizeram da máscara protetora igualzinha à do Narigueta, até que a morte os separou.