Contos de fados (VI)
(No rescaldo de eleições na .Madeira)
-Eis os grandes e crónicos vencedores, com maioria absoluta!
- Sim, tivemos menos votos absolutos, menor %, menos deputados, mas não há pai para a gente.
- Eis os grandes derrotados, os terceiros classificados!
- Sim, tivemos menos votos absolutos, menor %, os mesmos deputados, mesmo com aliados, levámos mais que à conta e o chefe bazou.
- Eis os grandes empatas, repetem o segundo lugar!
- Sim, tivemos menos votos absolutos, menor %, menos 1 deputado, mas ser segundo, neste caso, não equivale a ser o primeiro dos últimos é colocar-se logo a seguir ao vencedor que tem lugar cativo.
Há quem se dê por insatisfeito.
- Faça saber a partir daí que fomos os vencedores, foi a primeira vez e demos 5 deputados.
- Certo, mas ficaram a meio da tabela, isso não dá direito a pódio!
- Proclame daí que fomos os grandes vencedores, conseguimos 2, quando tínhamos zero.
- Certo, foi grande feito, mas o vosso agrupamento já tinha voado mais alto!
- Anuncie daí que fomos os vencedores, metemos 2 parlamentares, quando anteriormente só lá tínhamos 1.
- Certo, mas vocês ficaram no rabo da lancha!
O locutor de serviço cala-se. Já sabe o que a casa gasta, dois dias antes tinha posto aquela gente toda e mais uns quantos a discutir dados do desemprego e a criação de novos empregos e engendrara-se um impasse, cada cabeça sua sentença, como de costume. O impasse continua, pelos vistos. «Não há pachorra!» e foi a banhos, enquanto a disputa se tornava acérrima pela consagração.
Entretanto, numa sacristia ali perto, um cura e um diácono felicitavam-se: «Ganhámos!». E puseram-se a festejar.