Destino
Xumbergas era duro de coração e drudo pela ambição de trazer a paz e a prosperidade a todos, a qualquer preço. Nem dormia a pensar nisso.
Xumbergas batalhou no tope dos Himalaias, dos Andes, dos Alpes e teria ido ao imo da fossa das Marianas, se necessário fosse. Declarou muitas guerras - abertas, civis, relâmpago, avisadas, frias, mornas - das quais sempre se saiu airosamente. Deu mais que levou (safava-se bem na arte), tendo colecionado numerosos espólios e muita mortandade, que pouco lhe aguilhoavam a alma. Guerra necessária, passa por justa, aos olhos de quem a faz…
Xumbergas, alma de mecenas, fundiu ao cachação, num só país, 20 baronatos, 10 ducados, 5 principados e 2 monarquias e passou a inclui-lo no seu património. Depois, partiu a cumprir um sonho que tinha de menino: a aquisição de ultramares prenhes de recursos básicos de produção. Teve sucesso e sentiu que a ventura estava-lhe agarrada à pele.
Xumbergas tomou-lhe o gosto. Para não perder balanço, propôs-se a dar cumprimento a outro sonho, de adolescente: a conquista do globo. Não olhou a meios, só aos fins; nos seus avanços, envolveu populações inteiras nos seus propósitos. O sucesso voltou a bater-lhe à porta.
Um dia festejava uma importante vitória na praça central da terra, quando a ele se chega um mendigo maltrapilho:
- Quem era o mais forte de vocês os 2, tu ou o teu adversário de batalha? – dispara, poe entre os dentes escassos, o pelingrino.
- Eu, claro! – replica o apoderado.
- Então, por que festejas?!
Xumbergas embatocou, deu-lhe até para a prisão de ventre. Livrou-se do despropósito, por conta de uma guerra intestina. Já aliviado, pôs-se a pensar na morte da bezerra e de caminho reviu os seus feitios e feitos. Lavou as mãos - donde se soltou uma catrefada de sangueira -, decidido a não recorrer a mais carnagens, no cumprimento da sua espinhosa missão terrena que lhe fora outorgada pelas altas instâncias siderais, ao que era voz corrente.
Xumbergas chegou a idear-se aos comandos de fights, de meets, de arrastões, até de raves. Afugentou o despropósito pífio, brandindo as manápulas (tão desajeitadamente que ficou de olhos à-Belenenses). Então distinguiu claramente que tinha vindo a trilhar maus caminhos, como o tinha feito, muito antes dele, a samaritana de Sicar.
Xumbergas afinou o seu sonho de adulto: a dominação efetiva da Terra. Fez abordagem às bolsas-fortes de Londres, Paris e Francfurte. Colheu altos réditos, sem sujar as mãos: impôs respeito e limpou o sarampo a muito lagalhé e a outros mais bem dotados. Já não quer outra coisa, senão abalançar-se ao domínio efetivo da Uólsetrite, o bastião apalaçado do mando terráqueo.
Xumbergas, a crer nos oráculos, terá concorrência feroz do Tea Party, maila nomenklatura sínica. Já só sonha em impor tributo a bancos, bolsas, congregações, conglomerados,tríades, maçonarias e dinastias.
Xumbergas continua a dormir que nem um justo.
Bem que vos entendo, mas os bárbaros fora-da-lei são essenciais à economia romana…