Efabulação
Um grupo de 4 compinchas tinha um pote bojudo prenhe de mel de que se serviam em momentos azados. Filino tinha sido o último a aderir e foi o primeiro a ceder à tentação: em dia aprazível e não aprazado, alçou-se até ao esconderijo do e foi-se ao pote. Chegado a casa, disse que o púcaro era seu, que lho tinha sido ofertado pelos seus bonitos olhos. Na casa estavam reunidas várias pessoas que provaram, comeram mel à ganância e disseram que era muito bonzinho.
Foi tal o sucesso da aventura que se imaginou a: aprender a lidar com as abelhas, mandar construir colmeias topo de gama e chamar a si os terrenos das flores onde pousavam os insetos amigos. Meu dito, meu feito, deu um passo de cada vez e às tantas estava estabelecido em empórios de aquém e além-mar.
Bastantes anos transcorridos, Filino lembra-se dos compinchas do pote de mel bojudo e enceta démarches no sentido de os localizar, queria-os a colaborar numa das suas variadas empresas que produziam mel e derivados. Nos tempos que correm, de informação global e eficiente, fácil se torna obter novas e mandados, pelo que lhes ficou no encalce num abrir-e-fechar de olhos, prouvera aos deuses que se alembrasse antes…
Quem sabia confirmou que os 3 antigos compinchas tinham partido desta para melhor, tal o desgosto de terem perdido um amigo do peito que se atrevera a aplicar-lhes o golpe do baú.
Filino ficou para morrer de estarrecido. Ocorreu-lhe mandar celebrar exéquias em sua memória, quando alguém lhe lembra que a vida tem de continuar. Era a sua preciosa coacher particular de momento, a alertá-los para um compromisso inadiável, já a seguir.
Num ápice recuperou a compostura e o sangue frio costumeiros, ao mesmo tempo que compunha o fato-de-grilo. Acertado o porte de membro de pleno direito das elites, persignou-se, entrou na viatura à-prova-de-tudo e aprestou-se em comparecer na cerimónia de assinatura de um contrato de exportação de milhões de potes bojudos de mel para a Micronésia, Polinésia, Melanésia e Amnésia.