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oitentaeoitosim

26
Jan14

Ladinices 6

Jorge

- Zé, vai à janela e diz-me que perscrutas?

- Há muito pessoal pressuroso nas ruas.

- Qual será a causa eficiente, Zé?

- Celebram a retoma.

- Hossana nas alturas e graças a mim, Zé.

- Os juízes também deram um empurrãozinho, chefe, nem tanto ao mar, nem tanto à terra…

- Mau, mau, Maria! Isso é malta que não interessa nem ao menino Jesus… A estratégia foi congeminada ao milímetro cá por casa, Zé.

- Sei disso, o chefe saiu-me um general à altura de Aníbal, o Cartaginês!

- Assim está melhor, Zé. Quiseram-me suserano dos suseranos, mas rei é uma coisa que obedece, eu nasci com a estrelinha do mando.

- O chefe tira luíses, pintos e cruzados à descarada à malta em funções públicas, gabo-lhe o atrevimento!

- Se me contrariam, devolvo as maquias -  bem ratadas, por sinal - no tempo certo, não sem que antes arme um berreiro para espantar a passarada. Depois é só deixar a água mover os rodízios do meu moinho, Zé…

- Assim é! Em relação aos colaboradores privados, os empresários fazem pela vida, que eles não investiram pelos belos olhos do povo, chefe!

- E eles a julgarem que me sentia acometido de cólicas, dores de rins, dores de cotovelo, cefaleias, esfincteralgia, orquialgia, telalgia, correlativos e sucedâneos, quando se falava dos togados do olimpo...

- As sobras dos subsídios foram suficientes para que comprassem  nesta quadra, numa altura em que os preços são mais altos, noblesse oblige… Brilhante, chefe!

- A propósito de estratégias, o nosso general Aníbal vai assinar de cruz o orçamento, Zé!

- Tudo nos conformes, chefe! E andaram os nossos protetores a duvidar que o chefe fosse capaz de sacar os emolumentos suficientes para pagar os juros, que  para arrumar a dívida não está o chefe para aí voltado…

- Nunca tive vocação para Martim Moniz, meu leal assessor!

- Os seus predecessores e atuais opositores levam também muito que contar, Zé!

- Digamos que terão de temperar o seu poder de encaixe que já é grande, Zé! Com que então eu nunca tinha dirigido nem uma mercearia!...

- Não de somenos importância tem sido a estratégia de dividir para reinar, brilhante, chefe!

- Sigo os meus instintos e os conselhos de quem sabe. Os ventos já não correm de leste, meu caro Zé! Portanto, estamos à vontade para pôr e dispor e ainda nos sobra tempo…

- A manter-se em forma, as próximas eleições estão no papo, chefe.

- Acompanho-te, faço por prometer o Carmo e a Trindade, que a troica já está no papo, mas deixo a porta escancarada. Se os compatriotas se dignarem a estrebuchar louvo-lhe os sacrifícios e eles ficam babados de tão honrados, pois sabem que o bem supremo se alcança por esta via, Zé.

- Já agora, e se me é permitida a sugestão, chefe, lança-se mão dos préstimos de gurus, curandeiros reverendaços, ministrantes, e taratólogos leiais. Cozinha-se um novo tanglomanglo, com uns arremedos de exorcismos à mistura e já está!

- Mais, Zé, ponho os nossos avençados a espalhar e explicar a boa nova que são necessários ainda mais sacrifícios para a salvação dos negócios. Quem tira um bom sacrifício a muitos e bons dos nossos compatriotas, tira-lhes tudo!

- Que visão, chefe! Já agora dava-me jeito ir fazer umas comprinhas de última hora….

- Mas todos os dias desta semana andaste em compras!... Vai lá que bem as mereces e leva aqui o meu cartão especial de descontos.

- Beijo-lhe as mãos, chefe!

(Zé partiu à brida toda, mas teve ainda uma visão parcial do chefe que, postado diante do seu espelho favorito, interrogava: «Espelho meu, quem me faz sombra?» Acometido de fornicoques, atirou-se à cachaça que não é água, enquanto trauteava estrofes napolitanas do «sole mio», que bela coisa um dia de sol, um ar sereno depois da tempestade…)

 

 

 

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