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oitentaeoitosim

17
Out16

Não há palavras mal ditas, se não forem mal entendidas.

Jorge

Do dizer ao fazer, vai grande distância.

 

   Em protesto público, infrutífero para as suas cores, um senhor taxista mete os pés pelas mãos e sai-se com um tremendo disparate:

«As leis são como as meninas virgens, são para ser violadas”.

   Tomada de espanto, vem a terreiro uma senhora advogada a dizer que esta tirada soez daquele comentador desportivo nas horas vagas, enquanto deixa aberta porta a punição severa, por admissão de extravio, punido por Lei:

«O Código Penal é claro: “Quem, em reunião pública, através de meio de comunicação social, por divulgação de escrito ou outro meio de reprodução técnica, provocar ou incitar à prática de um crime determinado é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal.”

   Sem deixar lugar a dúvidas, a CIG (Comissão para a Igualdade do Género), organismo público responsável pela promoção e defesa da igualdade de género e do combate à violência doméstica e de género, compromete-se em avançar no processo de injunção de castigo ao autor desse barbarismo inqualificável, posto que:

«Estas declarações são reveladoras de um menosprezo relativamente à dignidade, liberdade e autodeterminação sexual das mulheres e meninas, bem como à sua integridade física e moral, sendo suscetíveis de legitimar e provocar atos de discriminação e de violência. Uma vez que esta conduta pode configurar a prática de crimes de discriminação sexual e de instigação pública à prática de crimes previstos e punidos no Código Penal, a CIG apresentou queixa junto do Ministério Público».

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   A ver se salva a honra da casa, acorre o prendado senhor presidente da FPT (Federação Portuguesa do Táxi), um dos grandes dinamizadores do protesto que vira bloqueio; de dedo em riste, invetiva o compagnon de route maila sua tirada malevolente, porque «põe assim em cheque a justeza das posições dos profissionais do ramo», não deixando margem para dúvidas:

“É condenável a todos os níveis. É mais uma expressão de um industrial que contribuiu para a má imagem que nós já temos. Deixou mal a classe, e já não é a primeira vez que o diz. Há uns tempos repetiu a frase numa reunião e tivemos de o chamar à atenção.”

   Perante tal panorama, o desbocado taxista, pouco afeiçoado na arte da construção e desconstrução frásica da oralidade linguística, vem a terreiro enjeitar, com pesar, a sua miseranda e prévia afirmativa:

«Peço desculpa a todos. O que eu queria dizer era o contrário, que as leis são como as meninas virgens, não devem ser violadas.”

   Nada melhor que uma frase fatal e maldita para obnubilar uma plataforma de entendimento...

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