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oitentaeoitosim

18
Dez14

Peninha

Jorge

A falência moral do capitalismo é um artigo bem esgalhado, da autoria do sr. Miguel Sousa Tavares publicado, no semanário «Expresso» de 15 de Novembro p.p.

 

Parto de ideias que colhi desse artigo de opinião:

1 – A coletivização na economia foi um fiasco; afirmar o seu contrário é cair no pecado da mistificação. Ela foi causadora de episódios trágicos, nomeadamente a eliminação de milhões de seres humanos, «pela fome e pela repressão».

2 - A economia de mercado «deu à Humanidade um século de prosperidade», todavia, em tempos mais chegados, não tem sido bem assim, por uma questão de «fatalidade da natureza humana», natureza essa que é dada a desvios e abusos. A prioridade absoluta dada ao lucro absoluto é imperdoável. Então, a partir de 2008 tem sido demais!

3 – Não é aceitável que uns quantos governantes e banqueiros se empenhem na desregulação dos mercados a seu bel-talante, para daí retirar lucros colossais, ficando o povão a chuchar no dedo. A cupidez excessiva de decisores – casos do sr. Reagan e mesmo o sr. Juncker – não fica bem, tão pouco se recomenda.

4 - (Depois de 2008) «Milhões de homens perderam o seu emprego, sem nada terem feito para tal, milhões de famílias foram remetidas para a miséria, milhares de empresas válidas foram exterminadas e os contribuintes foram espoliados como nunca para ocorrerem à banca e ao sistema financeiro, que tinham despoletado a crise com as suas práticas de pura pirataria.»

5 – Foram bandidos internacionais - «sem qualquer sensibilidade social, sem qualquer preocupação de seriedade e de ética nos negócios, movidos apenas por uma ambição sem limite nem vergonha» - os responsáveis por este estado de coisas.

6 – O sr. Juncker que já preside à Comissão Europeia não engana ninguém, o homem ajudou 340 multinacionais «a roubar, descarada e vergonhosamente, os seus países e os respetivos contribuintes». Infelizmente este dumping fiscal já atingiu outros países da União e corre paralelo à atribuição de fartos subsídios estatais a colossos da economia que não têm pejo em despedir, quando os seus fabulosos lucros estão em perigo.

Por conta destas deixas, aqui deixo umas reflexões:

a – A coletivização não funcionou como alternativa válida ao capitalismo, assunto encerrado, devido sobretudo a razões não evocadas no artigo.

(Os queridos líderes não terão seguido à risca o manual de instalação ou usaram uma cópia contendo muitas gralhas, isto sou eu a dizer que lá não estive…)

b - O capitalismo (há vários séculos instalado e instilado no mundo ocidental) venceu a refrega que o opôs ao regime da cortina de ferro, não há outro melhor, tirante ele. Mas, sem ninguém a dar luta, não era suposto ficar patente toda a bondade do sistema e estarmos a viver no globo terráqueo atual como deus e os anjos? Que se passa, então?

(Ao capitalismo tem sido endossada a responsabilização pelo aparecimento incontáveis cadáveres em armários, ou debaixo de camas e nos cemitérios, há pessoas que ainda não se aperceberam disso…)

 c – Para um capitalista assumido, a vida na Terra gira em torno de valores como a liberdade, a igualdade de oportunidades, a promoção social, a democracia. A carteira, acessório indispensável, enche-se ou esvazia-se consoante a capacidade de competir dentro destes valores que consagram o domínio da classe dos possidentes rastas. Cada um faz pela vida, que não há almoços grátis e nem todos podem comer caviar. As pessoas já assumiram que o igualitarismo – tão difícil de implementar no terreno e nos corações - se patenteia afinal na diferença, é assim a modos da outra face das moedas.

(A felicidade adveniente não está na ordem direta de plegárias e comportamentos sãos, mas sim na de teres e haveres.)

d – As transações, os negócios e as operações por esse mundo fora, na atualidade, não estão a correr sobre esferas, para surpresa de muita boa gente. E porquê? Há por aí uma matula gananciosa, da pior espécie, que tomou conta dos comandos da bolsa, da banca, do poder, estão a ver? Esses gajos da panelinha global puseram-se a trocar as voltas ao pessoal, desistiram de criar empregos, para apostar na roleta, possessos de ganância ilimitada, essa é gente ruim que não interessa nem ao menino Jesus.

(Devem ser proprietários de inibições de ordem ambiental, vá o mafarrico entendê-los…)

e – Então, depois de 2008, tem sido o fim da picada, as finanças e a economia global estão do piorio, à conta dos velhacos que desregulamentam tudo, fogem aos impostos, colocam homens de mão nos postos-chave da estrutura montada, uma desfaçatez, que só visto! Comportam-se como émulos do Patinhas, põem sobrinhos, patetas e pataria a trabalhar no duro para suas excelências. E não se esquecem de alargar as caixas-fortes, uma sem-vergonha nunca vista!

(Em Fukushima também crescem, todos os dias, os depósitos… contaminados e também se desconhece como pôr cobro à situação.)

 f – Só pode ser, esses safados, ronhosos e desalmados, que se têm abotoado com fortunas incomensuráveis provavelmente sofrem de maleita rara e degenerativa, que leva ao enfezamento, senão à aniquilação total de manifestação de natureza humana. Estamos entregues à bicharada!

(E a lei da selva aqui tão perto!)

 g – Enquanto se espera a pílula milagrosa e dourada que produza efeitos imediatos - a intervenção de um super ser também dava jeito -, que fazer a essa malta velhaca? Institucionalizá-la? Mandá-la a banhos, a sessões dos Amorais Anónimos ou de moral ecuménica? Aguent, aguenta....

(Paninhos quentes e emplastros não dá, pois não?)

i – Desconfia-se que acumulação exponencial, o busílis da questão, resista a qualquer tentativa de cura, embora isto pese às almas piedosas que costumam verter lágrimas de crocodilo, quando a corda fadista que trazem no peito é tangida inopinadamente.

(Antes assim, o encolher de ombros sistemático e sistémico seria pior!)

 

PS1 - Dinheiro é aquilo com que tudo se compra, digam o que disseram quem por aí brada no deserto ou prega aos peixinhos.

 

PS2 – Um dia a sra. Ivone Silva e o sr. Camilo Oliveira a fazer de «bêbados», em cima de um palco e atracados a um copo de vinhaça e cantavam: «Não sei como há gente que gosta disto! Ai Agostinho, ai, Agostinha, que rico vinho!»

A moderação é coisa fatal, nada tem mais sucesso que o excesso, escreveu um dia Oscar Wilde.

mais.gif

   MAIS (sempre mais) - Eis o nosso espírito de missão!

 

PS3 – Li recentemente esta historieta que passo a contar (já inclui os pontos de minha lavra):

Havia um bem-falante que se voltou para o povão, na praça pública e assim perorou:

- Cuidado, pessoal, não deixem essa maralha de comunistas (sic!) pôr pé em ramo verde na vossa terra, eles ficam com tudo e não vos deixam casa, nem arrecadações, nem a família, nem deus, só a roupinha que trazem no corpo ou tão só a pele e já é um pau!

Assim foi feito, não os deixaram entrar.

Aquela boa e crédula gente continuou a ser governada com amplas liberdades, condimentadas com os ditames dos direitos humanos, com todas as garantias do mercado, estado social inclusive, numa palavra, eram capitalistas praticantes.

Alguns anos depois, os bancos penhoraram teres e haveres, tiraram casas e a comida da boca à maioria deles que ficaram com a vida feita num oito, ou num inferno.

Daquela praça pública tomaram conta as aves de mau agouro; as de rapina fizeram-se ao largo.

Trompe d'oeil.jpg      Um espelho em trompe l’oeil! Adoro!    

 

 

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