Pequenas coisas da vida
I
Numa manife, em dia de greve recente, alguém levanta bem alto um cartaz: «Santander vai distribuir 1 700 milhões pelos acionistas a partir de novembro. Para os trabalhadores despedimentos».
É ponto assente, na comunidade mundial, que o motor da economia dos países que é a maximização dos lucros. Assim, o sucesso no sistema global não se compadece com choradinhos destes, para mais sabendo que qualquer fator de produção, como a força de trabalho, é ponderável, em qualquer momento. A distribuição de vastos lucros por acionistas evidencia a justeza das políticas empreendidas; é deste jeito que se constrói a felicidade de todos cá na Terra, o resto é conversa, certo?
II
Num dia destes, o senhor Miguel S. Tavares escreveu no semanário «Expresso» isto que aqui me permito reproduzir:
«Certos povos do Norte (da Europa), de tradição luterana, temem o dinheiro e o seu efeito nefasto sobre as frágeis almas humanas. Desconfiam das grandes fortunas, taxam-nas com impostos, perseguem-nas com uma crítica social sempre latente que as faz serem grandes mecenas de hospitais, universidades, orquestras, centros de investigação (…). Pelo contrário aqui no Sul (…), por comodidade, nos conformámos com a doutrina da Santa Madre Igreja: Deus, cujo reino não é desta terra, fez o mundo com pobres e ricos e só no outro mundo administrará a sua justiça».
Cabe assim no nosso entendimento o desabafo de um certo candidato à presidência duma Ordem profissional deste país, o qual garantia, em vésperas de eleição, que, enquanto houver pessoas, a corrupção estará aí para durar e lavar…
III
Parece que as excursões ao espaço exterior à Terra vieram para ficar, assim o queiram empresas lançadas na senda do negócio e as pessoas muito ricas do planeta, por enquanto. Se der para o certo, num futuro aproximado, guardar dinheiro para orbitar a Terra pode tornar-se tão comum quanto economizar para a casa própria.
Longe vão os tempos em que a indústria hoteleira deste planeta acolhia sobretudo pessoal mais abonado. Depois, as férias democratizaram-se, muita gente por esse mundo fora já reserva uma parcela do orçamento familiar para esse efeito. Que as viagens espaciais fomentam o aumento da poluição terrestre e espacial parece certo, mas o progresso não tem peias…
IV
O fabrico de carros elétricos, eólicas ou smartphones necessita de quantidades importantes de minérios provenientes do outro lado do mundo. Esta dependência material atinge, atualmente, níveis alarmantes na Europa, um dos maiores clientes da coisa, como de outros negócios evidentemente.
À conta disso, a União Europeia estabeleceu uma lista de 30 matérias-primas «críticas» – combustíveis à parte -, ou seja, indispensáveis a estas e outras indústrias europeias, mas ameaçadas por um risco de rutura ou de aprovisionamento/reservas (bauxite, cobalto, nióbio, bismuto e terras raras sobretudo). Daí qua a extração da mesma - bastas vezes encontradas em poucos locais, longínquos, por sinal – mereça estar cuja debaixo de olho (não só da UE)… Respeito aos superiores interesses!...