Trinta e um de boca I
Coisas soltas
a - Era tão só um título de primeira página de um jornalito de distribuição gratuita:
. Salários de pobre, despesas de ricos.
Naturalmente que se refere a Portugal e se aplica à maioria das suas gentes cujos rendimentos se vão abaixo das canetas contra os balúrdios a pagar em mercados, minimercados, supermercados, hipermercados e outras lojas do género.
(O carapuço até podia assentar noutro país, que há sempre melhor e pior que nós.)
Na oportunidade, ocorre-me aquele ditado que diz que há muitas maneiras de matar moscas.
«Não se pode baixar os salários e as pensões?» - Então, convoque-se a inflação que se deleita em fazer aumentar os preços, aliás, uma prática sem a qual as trocas se vão abaixo das canetas...
«Perderam poder de compra os cidadãos nacionais?» - Ora bem, turistas é o que por aí mais há...
Confesso que nunca fui à bola com essa ideia que o turismo é a tábua de salvação da gente.
b - Ia jurar e trejurar que ouvi da boca do Sr. Raúl Solnado – um dos maiores vultos da comédia do país -, num programa de evocação do compositor Francisco Valério que a este, um dia, ocorreu de improviso esta quadrinha:
«A vida é bela
Dá-nos de graça o luar
Dá-nos o Sol na janela
O resto é tudo a pagar.»
Para sabedoria não está nada mal!...
c - Certo dia, realiza-se um jogo de futebol entre um selecionado lusíada e outro de outra pátria, ambos empenhados na conquista de prestigioso troféu internacional.
Da jogatana sai vencedora a equipa lusa, para alegria de muitas famílias.
Nesse mesmo dia, ocorre na praça pública, com alguma antecedência em relação à hora fixada para a realização do jogo de futebol, uma demonstração nas ruas, a favor da escola pública, acontecimento que acolhe uma multidão significativa de gente crescida. Tal manife é entendida como contramanifestação a uma outra manife, levada a efeito com uma antecedência de 2 semanas, em prol dos contratos de associação de escolas privadas, evento levado a cabo por uma significativa multidão de graúdos e miúdos e que, na altura, tinha sido primeira página de diversos jornais e telejornais e que também havia gerado intenso debate em redes sociais.
As parangonas da totalidade dos média do dia seguinte davam destaque ao feito da seleção futebolística lusíada.
Confesso que vibrei com a vitória e que não esperava menos dos média.
d - A equipa de futebol representativa de Portugal está na final do campeonato da Europa.
Eu estou a torcer pela vitória.
E, em caso de vitória, não me importo nada que a sua notícia cubra todas as primeiras páginas de todos os médias e redes sociais.
Mas, sou sincero, preferia que, no dia seguinte à vitória, as primeiras páginas dos jornais e as redes sociais se inundassem de mensagens sobre o processo de arquivamento das sanções da UE contra o país.
Aliás, seria descabido multar um país de campeões, é que não faz sentido nenhum...
(Já repararam que os donos da UE anunciam e adiam, dizem e contradizem-se, por alguma coisa é... Esta gesta de Portugal está a deixá-los à rasca!...)