Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

oitentaeoitosim

28
Jul17

Venezuela

Jorge

 

    Não há mal que sempre dure, nem bem que se não acabe.

     Adágio

 

 

    Quando opino sobre Venezuela, há coisas que eu costumo dizer:

    - Com petróleo para dar e vender, a Venezuela hoje está em sérias dificuldades, o que se estranha um pouco, mas, nos momentos seguintes, já não: a verdade é que este país, grande exportador de riquezas do subsolo, se habituou a produzir muito crude e poucos bens mais comezinhos (de comer, vestir e calçar).

    - Nos últimos 20 anos a Venezuela tem sido palco da revolução bolivariana, começada com Chávez e continuada por Maduro. Foram nacionalizadas - com indemnização - empresas ligadas às indústrias de base (que perderam operacionalidade). No entanto, não se procedeu da mesma com a maioria das restantes empresas dos restantes sectores de atividade, sendo que amigos das claques e cliques dominantes (boliburguesia) se estão a aproveitar da situação.   

   - A revolução bolivariana pode orgulhar-se da redução da pobreza, da promulgação de leis do trabalho mais favoráveis aos trabalhadores, da melhor distribuição de rendimentos e de melhorias palpáveis na educação e saúde (redução da mortalidade infantil, por exemplo). 

    - Cuba, (um espelho para a nomenklatura venezuelana) tem rumo assente e socialmente apurado, enquanto a China, por sua vez, se vale do catecismo de «1 país, 2 sistemas» para dar cartas na globalização. A revolução bolivariana essa parece navegar no improviso ideológico: vale-se de cartilhas criadas «à la minute» e «à la carte» e a práxis dos seus dirigentes máximos parece assentar na imprevisibilidade.

   - Há um par de anos a esta parte, instilou-se a carestia na Venezuela, marcada pela falta de acesso de largos sectores da população a bens de primeira, de segunda e de terceira necessidade, escassez materializada por filas imensas à porta dos supermercados, mal aceite por muita da população residente.  

     - As dificuldades estarão para durar: fala-se muita na falta de bens alimentares e de medicamentos, sobretudo e praticamente não chegam indícios que a carestia incomode particularmente os mandantes da Venezuela.

    - A recente baixa de preços do petróleo e o controle interno de divisas estão a tramar a vida aos venezuelanos (terá sido feita por medida?).  

    - O Sr. Maduro é um governante de olhão (sem ofensa) que anda aos papéis (projeto político para ele é manter-se no poleiro) que está nas mãos da boliburguesia e da tropa (as ditaduras militarizadas da América Latina foram e são uma grande escola) que comandam a economia. Ele enquadra-se no perfil que tenho de um Nero atarantado, transplantado para o século XXI.     

    - A oposição, sobretudo a conservadora, tem-se valido da difícil situação em que encontra o regime para armar contestação nas ruas, suspirando por melhores dias (chegarão?), ou que o tempo volte atrás.

   - As autoridades cá da terra dão voltas e mais voltas retóricas, mas não apresentam uma ideia, ou uma fórmula que sirva de consolo à grande comunidade lusa da Venezuela.

    Por sua vez, há defensores do bolivarianismo que dizem:

    - Uma revolução bolivariana («o socialismo do século XXI») está em curso, na Venezuela, e recomenda-se.

    - As atuais dificuldades económicas e sociais por que passa a Venezuela são transitórias e são uma deriva da crise conjuntural, radicada na baixa dos preços das commodities.

    - Há uma estratégia montada pelo imperialismo (principalmente pelos gringos que se creem donos do mundo) contra o processo bolivariano, alicerçada no bloqueio financeiro, na sabotagem, no açambarcamento e na especulação de preços, para pôr o povo em dificuldades e para o vergar (a culpa é sempre dos outros, aqui, ou em qualquer lugar).

    - O bolivarianismo é a via a certa para a luta de classes penda para o lado dos trabalhadores; só assim a paz, a liberdade, a justiça, o progresso social e a soberania da Venezuela e do mundo estarão garantidas.

    - A assembleia constituinte que será escolhida a 30 de Julho de 2017 vai finalmente pôr o preto no branco, com ela acabam-se as golpadas da direita que tem andado na rua a desinquietar os simples(amém!).

    Alguns detratores do regime falam assim:

    - Os que querem chegar mais longe propõem, entre outras medidas: a suspensão de pagamentos da dívida externa, essa massa deveria ser empregue em salários mais decentes, mais alimentos, mais medicamentos, melhor saúde e educação; o investimento na recuperação dos campos, para tornar mais eficaz a produção de alimentos; o resgate de todas as empresas básicas; a nacionalização de todo o petróleo; o fim das empresas mistas (passariam a estatais); o respeito pelas plenas liberdades democráticas, com eleições livres e liberdade aos presos de consciência (ena tantos!).

     - Os que querem a exterminação do regime dizem dele o que nem o profeta disse do toucinho: que o povo venezuelano está esgotado; que o país está exangue, mergulhado no caos e na miséria; que o país está debaixo da bota dum regime que se atola no gangsterismo, que o chavismo impôs à Venezuela um desastre económico e social de proporções históricas; que Maduro está agarrado ao poder como lapa e que vai sobrevivendo graças à violência do Estado (as armas estão com ele); que partam os pais desta agrura que deles não vai sobrar qualquer saudade (um exagero, nitidamente!).

    Agora sou eu a dizer, outra vez:

    - Quando o mar bate na rocha, seja na Venezuela, seja noutro qualquer país, quem se lixa é sempre o mexilhão, o que é comprovadamente injusto; até hoje, o melhor que se conseguiu em levantamentos sociais, foi a ereção de frágeis barreiras (vão-se abaixo em 2 tempos!), de forma a reduzir o entusismo efeitos das ondas.

    - Estranho que Marx tenha dito cobras e lagartos de Bolívar - um falso símbolo de toda a luta anti-imperialista latino-americana que proclamou a libertação nacional de povos oprimidos, sem, no entanto, alterar fundamentalmente as relações entre as classes sociais – e bastantes dos seus seguidores na atualidade se revejam no bolivarianismo.

    - O mundo dá muitas voltas, mas a esperança renova-se sempre, é o fado da gente!

brizela.jpg«A minha mãe voltou a casar – Já cansa tantas mudanças de regime!»

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2021
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2020
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2019
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2018
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2017
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2016
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2015
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2014
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2013
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2012
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2011
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2010
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2009
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub