Venezuela
Não há mal que sempre dure, nem bem que se não acabe.
Adágio
Quando opino sobre Venezuela, há coisas que eu costumo dizer:
- Com petróleo para dar e vender, a Venezuela hoje está em sérias dificuldades, o que se estranha um pouco, mas, nos momentos seguintes, já não: a verdade é que este país, grande exportador de riquezas do subsolo, se habituou a produzir muito crude e poucos bens mais comezinhos (de comer, vestir e calçar).
- Nos últimos 20 anos a Venezuela tem sido palco da revolução bolivariana, começada com Chávez e continuada por Maduro. Foram nacionalizadas - com indemnização - empresas ligadas às indústrias de base (que perderam operacionalidade). No entanto, não se procedeu da mesma com a maioria das restantes empresas dos restantes sectores de atividade, sendo que amigos das claques e cliques dominantes (boliburguesia) se estão a aproveitar da situação.
- A revolução bolivariana pode orgulhar-se da redução da pobreza, da promulgação de leis do trabalho mais favoráveis aos trabalhadores, da melhor distribuição de rendimentos e de melhorias palpáveis na educação e saúde (redução da mortalidade infantil, por exemplo).
- Cuba, (um espelho para a nomenklatura venezuelana) tem rumo assente e socialmente apurado, enquanto a China, por sua vez, se vale do catecismo de «1 país, 2 sistemas» para dar cartas na globalização. A revolução bolivariana essa parece navegar no improviso ideológico: vale-se de cartilhas criadas «à la minute» e «à la carte» e a práxis dos seus dirigentes máximos parece assentar na imprevisibilidade.
- Há um par de anos a esta parte, instilou-se a carestia na Venezuela, marcada pela falta de acesso de largos sectores da população a bens de primeira, de segunda e de terceira necessidade, escassez materializada por filas imensas à porta dos supermercados, mal aceite por muita da população residente.
- As dificuldades estarão para durar: fala-se muita na falta de bens alimentares e de medicamentos, sobretudo e praticamente não chegam indícios que a carestia incomode particularmente os mandantes da Venezuela.
- A recente baixa de preços do petróleo e o controle interno de divisas estão a tramar a vida aos venezuelanos (terá sido feita por medida?).
- O Sr. Maduro é um governante de olhão (sem ofensa) que anda aos papéis (projeto político para ele é manter-se no poleiro) que está nas mãos da boliburguesia e da tropa (as ditaduras militarizadas da América Latina foram e são uma grande escola) que comandam a economia. Ele enquadra-se no perfil que tenho de um Nero atarantado, transplantado para o século XXI.
- A oposição, sobretudo a conservadora, tem-se valido da difícil situação em que encontra o regime para armar contestação nas ruas, suspirando por melhores dias (chegarão?), ou que o tempo volte atrás.
- As autoridades cá da terra dão voltas e mais voltas retóricas, mas não apresentam uma ideia, ou uma fórmula que sirva de consolo à grande comunidade lusa da Venezuela.
Por sua vez, há defensores do bolivarianismo que dizem:
- Uma revolução bolivariana («o socialismo do século XXI») está em curso, na Venezuela, e recomenda-se.
- As atuais dificuldades económicas e sociais por que passa a Venezuela são transitórias e são uma deriva da crise conjuntural, radicada na baixa dos preços das commodities.
- Há uma estratégia montada pelo imperialismo (principalmente pelos gringos que se creem donos do mundo) contra o processo bolivariano, alicerçada no bloqueio financeiro, na sabotagem, no açambarcamento e na especulação de preços, para pôr o povo em dificuldades e para o vergar (a culpa é sempre dos outros, aqui, ou em qualquer lugar).
- O bolivarianismo é a via a certa para a luta de classes penda para o lado dos trabalhadores; só assim a paz, a liberdade, a justiça, o progresso social e a soberania da Venezuela e do mundo estarão garantidas.
- A assembleia constituinte que será escolhida a 30 de Julho de 2017 vai finalmente pôr o preto no branco, com ela acabam-se as golpadas da direita que tem andado na rua a desinquietar os simples(amém!).
Alguns detratores do regime falam assim:
- Os que querem chegar mais longe propõem, entre outras medidas: a suspensão de pagamentos da dívida externa, essa massa deveria ser empregue em salários mais decentes, mais alimentos, mais medicamentos, melhor saúde e educação; o investimento na recuperação dos campos, para tornar mais eficaz a produção de alimentos; o resgate de todas as empresas básicas; a nacionalização de todo o petróleo; o fim das empresas mistas (passariam a estatais); o respeito pelas plenas liberdades democráticas, com eleições livres e liberdade aos presos de consciência (ena tantos!).
- Os que querem a exterminação do regime dizem dele o que nem o profeta disse do toucinho: que o povo venezuelano está esgotado; que o país está exangue, mergulhado no caos e na miséria; que o país está debaixo da bota dum regime que se atola no gangsterismo, que o chavismo impôs à Venezuela um desastre económico e social de proporções históricas; que Maduro está agarrado ao poder como lapa e que vai sobrevivendo graças à violência do Estado (as armas estão com ele); que partam os pais desta agrura que deles não vai sobrar qualquer saudade (um exagero, nitidamente!).
Agora sou eu a dizer, outra vez:
- Quando o mar bate na rocha, seja na Venezuela, seja noutro qualquer país, quem se lixa é sempre o mexilhão, o que é comprovadamente injusto; até hoje, o melhor que se conseguiu em levantamentos sociais, foi a ereção de frágeis barreiras (vão-se abaixo em 2 tempos!), de forma a reduzir o entusismo efeitos das ondas.
- Estranho que Marx tenha dito cobras e lagartos de Bolívar - um falso símbolo de toda a luta anti-imperialista latino-americana que proclamou a libertação nacional de povos oprimidos, sem, no entanto, alterar fundamentalmente as relações entre as classes sociais – e bastantes dos seus seguidores na atualidade se revejam no bolivarianismo.
- O mundo dá muitas voltas, mas a esperança renova-se sempre, é o fado da gente!
«A minha mãe voltou a casar – Já cansa tantas mudanças de regime!»